Museu Bispo do Rosário guarda memórias da Colônia Juliano Moreira no Rio

A história do Museu Bispo do Rosário se funde e se alinha com os desafios e avanços da reforma psiquiátrica na cidade do Rio de Janeiro. O legado de Arthur Bispo do Rosário, artista negro, nordestino, manicomializado por 49 anos na Colônia Juliano Moreira, tem, intrínseca à sua obra, a valorização daquele território de degredados, destino dos fins de linha, no desmundo da colônia e no labirinto de sua própria existência.

O museu que leva seu nome, também traz em seu percurso histórico, essa característica marcante de ser um museu território, que está além dos muros de sua reserva técnica e de suas salas de exposição, e que aposta nas relações sociais se constituindo e operando até os dias atuais como um espaço pedagógico.

Por meio da indução de políticas do Sistema Único de Saúde para a desinstitucionalização de usuários internados por longa permanência no complexo manicomial da Colônia Juliano Moreira, as transformações ocorridas no território da Colônia vão constituindo, sobretudo a partir da década de 90, estratégias e recursos para o cuidado em liberdade de base comunitária e territorial.

A centralidade de políticas de saúde mental que reorientaram um modelo de atenção manicomial, para a qualificação de um modelo de Atenção Psicossocial de base comunitária e territorial fez com que começassem a surgir os serviços substitutivos ao manicômio, e que favoreceram configurações de estratégias do cuidado em liberdade no SUS do Rio de Janeiro e consequentemente nos bairros da Colônia, Taquara, Curicica e adjacências. 

Neste sentido, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), seriam, a partir da década de 2000, os grandes potencializadores de iniciativas de promoção do cuidado em saúde mental, com forte influência até os dias atuais, na mudança do modelo de atenção em saúde mental e na constituição de Redes de Atenção Psicossocial de base comunitária e territorial.

A superação dos limites por Arthur Bispo Rosário, do espaço degenerado do manicômio, não se restringiu ao espaço de sua famosa cela, e na sua singularidade, inovou possibilidades de vida em um espaço social trágico, inóspito e violento.

100 Anos da Colônia Juliano Moreira: arquivos, territórios e imaginários

A mostra traz mais de 300 objetos, divididos entre elementos históricos, documentos, obras do acervo institucional, de Arthur Bispo do Rosário, além de produções inéditas de artistas convidados e, também, do Ateliê Gaia.

A curadoria foi elaborada a ”oito mãos” e fica a cargo de Carolina Rodrigues, Gabriel Reis, Geovana Melo e Napê Rocha, abordando assuntos como: Mulheridades; Conexões Externas; Imaginações, Fabulações e Infâncias; Reflexões sobre o Tempo; e o Trauma Colonial. A exposição ocupa os três andares do Museu com reflexões em torno de três temáticas gerais: arquivos, territórios e imaginários. A curadora do Museu Bispo do Rosário, Carolina Rodrigues, ressalta que o momento do 

Festival de Música Mostra+ é mais uma iniciativa da instituição que contribui para a expansão das suas ações para além das galerias expositivas. ”Priorizamos artistas que tenham confluências com o território da Zona Oeste e com uma concepção curatorial que prioriza as conexões com a nossa comunidade.

A partir desse marco simbólico, temos a oportunidade de celebrar e visibilizar grandes personalidades que contribuíram para a memória da luta antimanicomial e artística na Colônia Juliano Moreira, como Dona Ivone Lara, Stella do Patrocínio e Dirce Maia, a partir do trabalho de novas artistas da música, como Juliane Gamboa, Carol Cardoso e Taís Feijão”, conclui Carolina.

Quem visitar a exposição também terá a oportunidade de conhecer o projeto “Eu vim contar uma história”. Desenvolvido pela Coordenação de Educação e Arte do Museu, a ação foi realizada em 2022 e reúne histórias de mais de 70 crianças da escola municipal Juliano Moreira. O produto final do projeto são episódios de podcast em que as crianças contam histórias sobre os lugares da Colônia Juliano Moreira, mesclando real e imaginário. Ao todo foram produzidos 13 episódios de podcast, que serão disponibilizados para o público durante a exposição.

Serviço:

Local: Museu Bispo do Rosário

End :: Estrada Rodrigues Caldas, 3400 – Colônia, Taquara, Rio de Janeiro

Museu Bispo do Rosario (@museubispodorosario)

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Redação

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