Da Saracura Vai-Vai à Casa Verde, o livro reúne 25 referências negras para contar a “história que a história não conta”. Publicação marca estreia da editora Guia Negro
São Paulo é a cidade com mais pessoas negras fora da África em números absolutos. Na capital paulista, dos 11,4 milhões de habitantes, 43% se consideram de cor preta ou parda, ou seja, a população negra soma 4,9 milhões de pessoas. Ainda que haja essa predominância, a história da população negra, seus personagens e sua relação histórica, política e cultural com a cidade não é amplamente contada nas escolas ou divulgada na mídia convencional.
Para amplificar essas histórias, a plataforma de afroturismo Guia Negro lança o livro São Paulo Negra, já disponível à venda. O lançamento ocorre no próximo sábado (18/10), das 16h às 20h, no Jerkys Cozinha Caribenha, na Rua Bento Freitas, 158, República, São Paulo e será vendido por R$ 90.
A obra documenta histórias que são compartilhadas em seus roteiros turísticos, as Caminhadas Negras, realizadas desde 2018. Com isso, o livro leva o leitor a passear pelo Bixiga, bairro reconhecido nacionalmente pela presença italiana, mas que abriga o quilombo Saracura; à caminhar pela República, um reduto de influência de países africanos, e conhecer os sons dos blocos afro de São Paulo e das festas negras do funk ao samba.
“O livro é uma contribuição para enegrecer as narrativas de uma cidade que vai se embranquecendo e negando seu passado e presente negro-indígena”, afirma o fundador do Guia Negro, Guilherme Soares Dias, que é idealizador e organizador do livro.
A obra faz parte de um movimento de resgate de protagonismo dos ancestrais negros, que ainda precisam ser mais lembrados em nomes de ruas, praças, avenidas e em monumentos tão grandes quanto os que hoje homenageiam bandeirantes e escravocratas. As histórias representam, dessa forma, uma contribuição para a insurreição de outras perspectivas históricas.
“Com a publicação, esperamos que esse conhecimento e vivência da negritude de São Paulo ganhe novas leituras e possibilidades”, afirma Soares Dias.
Quem fez

Uma parte dos autores do livro São Paulo Negra | Imagem: Divulgação
O livro marca a estreia da editora Guia Negro e os oitos anos da plataforma de afroturismo. Os primeiros 500 exemplares foram impressos com verba do edital Bora Cultura Negra, da Ambev e Feira Preta, de 2023, e serão distribuídos para entidades culturais e educacionais ligadas ao antirracismo.
Para essa estreia, o livro São Paulo Negra é escrito por vinte e cinco autores, entre pesquisadores, jornalistas, empreendedores e ativistas, que são referências em suas áreas. Eles escrevem sobre lugares, personagens, cultura e movimentos, fazendo resgate histórico e projetando o futuro.
Entre os autores do livro estão: Philip Arthur, Ermi Panzo, Luciana Araujo, Lucas Velloso, Semayt Oliveira, Juca Guimarães, Tadeu Kaçula, Assis Tavares, Pai Rodney, Cinthia Gomes, Vera Eunice, Abilio Ferreira, Nabor Jr, Camila Cardoso, Adriana Barbosa, Elizandra Souza, Neon Cunha, Jairo Malta, Claudia Alexandre, Sidney Santiago, Oswaldo Faustino, Simone Nascimento, Juliana Gonçalves, Flávio Carrança e Lenny Blue. As fotografias são de Felipe Benício e Heitor Salatiel, que também fizeram a pesquisa histórica de imagens. Já o design ficou por conta de Inara Negrão e Deborah Souza, da Grida, com ilustrações de Thais da Silva Pereira.
O livro pode ser adquirido online: https://hotmart.com/pt-br/marketplace/produtos/hagsxd-livro-sao-paulo-negra-x88it/B102329291M
É um prazer ver a Guia Negro enegrando a narrativa de São Paulo, um passo crucial na construção de uma narrativa que, francamente, não tem sido amplamente contada. Que a cidade se embranqueça e negue seu passado negro é quase um drama cômico em si, quase tão engraçado quanto tentar encontrar um lugar tranquilo na República! Espero que este livro seja um passeio histórico tão enriquecedor quanto a Caminhada Negra, e que inspire outras cidades a não esquecerem seus ancestrais negros, mesmo que eles não estejam em todos os livros de história escolares. Que a publicação traga novas leituras e possibilidades, e que o livro seja tão bom quanto a experiência de um blocos afro!act two ai