A Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, lançou o projeto Caminhos do Rosário, uma iniciativa pioneira que integra as Congadas e festas do Rosário à política pública de turismo da fé, que movimenta R$ 5,5 bilhões ao ano no estado. No último dia 17 de junho, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) registrou os Saberes do Rosário, reinados, congados e congadas como patrimônio cultural do Brasil.
Minas Gerais apresentou, dessa forma, o maior trajeto festivo de Congadas do país: são 701 festas mapeadas em 332 municípios, com mais de 1.100 celebrações anuais realizadas por 1.170 grupos ativos, incluindo congadeiros, moçambiqueiros, catopês e tamborzeiros. A cultura afro-mineira, já reconhecida como patrimônio estadual, ganha nova projeção como expressão viva de identidade, fé e pertencimento.
“Minas oferece ao Brasil e ao mundo um patrimônio que é arte, fé, cultura e território. O Caminhos do Rosário reforça a transversalidade entre cultura e turismo, entre proteção do patrimônio e valorização das comunidades tradicionais”, reforça o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas de Oliveira.
O projeto faz parte do programa Afromineiridades e visa fortalecer as comunidades tradicionais, gerando visibilidade nacional e internacional, além de transformar Minas em referência no afroturismo de base comunitária.
Caminhos do Rosário oferecerá, assim, um calendário oficial das festas, roteiros integrados de turismo da fé, conteúdo educativo sobre história afrodescendente e ações de capacitação e promoção, com lançamento da plataforma digital no portal minasgerais.com.br.
Os próprios grupos e também as prefeituras poderão realizar os cadastros nesse site, o que também contribuirá para o mapeamento das comunidades e dos territórios. Concomitantemente com essa possibilidade de criação de roteiros turísticos, as ações de capacitação e formação serão fundamentais para que a atividade turística nesses territórios seja realizada de forma respeitosa e consciente em relação a importância dessas tradições.
Turismo da fé
Com um turismo em franca expansão, mais de 32 milhões de visitantes em 2024, Minas amplia a visibilidade aos roteiros que unem experiência e espiritualidade. O Caminhos do Rosário soma-se a eventos como a Semana Santa, o Jubileu de Congonhas, as Romarias da Piedade e de Bom Jesus da Lapa.
Exemplos de destaque incluem: as Congadas de Uberlândia (50 mil pessoas), de Poços de Caldas (20 mil), de São Sebastião do Paraíso (150 anos de história), além de Betim, Contagem, Itaúna, Divinópolis e festas nos Vales, Jequitinhonha, Norte, Mantiqueira e Centro-Oeste mineiro.
As comunidades tradicionais são protagonistas dessa política. São elas que mantêm a oralidade, os trajes, a música e a fé das festas do Rosário, agora reconhecidas, protegidas e promovidas como ativos culturais e turísticos de impacto regional.
Investimento histórico
O lançamento dos Caminhos do Rosário ocorre também em meio a um marco de investimentos na cultura popular. Entre 2024 e junho de 2025, o Governo de Minas pagou mais de R$ 49 milhões em editais via Fundo Estadual de Cultura (FEC) e Política Nacional Aldir Blanc (PNAB).
Em julho de 2025, novos editais voltados para as culturas populares com foco na negritude serão lançados.
Patrimônio cultural
No último dia 17 de junho, foi aprovado, por unanimidade, o registro do bem Saberes do Rosário: Reinados, Congados e Congadas, durante o primeiro dia da 109ª reunião do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Depois de 17 anos de espera teremos o registro desse bem, representado por diversos grupos, mestres e mestras, lideranças e comunidades, nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, e que representa nossa ancestralidade africana, mantendo vivas as tradições, nos conectando com nossas origens” celebrou o presidente do Instituto, Leandro Grass. O processo de registro contou com a relatoria da conselheira, historiadora, mestra (detentora) e líder na Comunidade Jongo Dito Ribeiro em Campinas (SP), Alessandra Ribeiro Martins.
O mais novo patrimônio cultural brasileiro consiste em um conjunto diversificado de saberes da ancestralidade afro-brasileira que são atualizados por meio da devoção ao Rosário. “Para mestres e mestras dessas tradições, seus saberes constroem comunidades fortalecidas culturalmente por um modo de vida ancestralizado que, desde as práticas cotidianas aos ritos celebrativos, expressa as habilidades dos povos negros para a resistência cultural, a negociação e, especialmente, para a produção de comunidades afetivas e identidades culturais poderosas: que resistiram, no passado, às violências da escravização e, na atualidade, às violações de direitos perpetradas pelo racismo estrutural e seus desdobramentos”, afirmou Alessandra.
Tradição
Essas tradições atravessaram mais de 300 anos de história, chegando ao século 21 com transformações e ressignificações, mas sempre mantendo uma identidade fundamental: a ancestralidade de matriz africana com canto, ritmo e dança.
Na maior parte das vezes há a coroação de reis e rainhas congos (ou do Congo) como parte principal de um festejo que, ao longo de dias, cumpre alvoradas, levantamento de bandeiras, rezas, cortejos e missas. “O caráter extraordinário desse bem cultural está em sua abrangência territorial, longevidade temporal e diversidade de formas expressivas em sua multiplicidade de detentores”, observa Alessandra.
Fazem parte dessas tradições elementos diversos como massambiques (moçambiques), congos (congados, conguistas, congueiros), catopês (catupés, catopés), marujos, caboclos (caboclinhos, penachos, cabocladas), tamborzeiros, pifeiros, entre outros grupos rituais, e reinados (côrtes ou tronos coroados) descritos e registrados por pesquisadores, em diferentes contextos e regiões do Brasil, especialmente nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Ao fim da votação, o presidente do Iphan destacou o compromisso do Instituto em avançar no plano de salvaguardas e na construção de estratégias para a preservação e promoção do bem Saberes do Rosário: Reinados, Congados e Congadas “para que a gente consiga mostrar o Brasil e revelar essa nossa ancestralidade”.
Ele ainda lembrou que a atual gestão está priorizando “os patrimônios culturais afro brasileiros, a ancestralidade africana e indígena, por meio da recuperação dessas expressões, saberes e tradições que nos fizeram e fazem ser o que somos enquanto país.”. “O que realizamos aqui hoje, nesta reunião, foi um ato de reparação histórica, um ato de justiça social” finalizou.