Perfis Pretos: conheça Amilton Lino, bailarino que mudou a dança na Bahia

Com ampla trajetória na dança, Lino inovou ao incluir a dança moderna em coreografias de pagode e axé music

Nascido em Salvador,BA em 18 de março de 1965, Amilton Lino é professor de dança afro contemporânea, capoeirista, coreógrafo, bailarino e músico com uma vasta experiência curricular. O bailarino nasceu e cresceu no bairro da Liberdade, local que representa as raízes culturais da negritude, pois é sede do Bloco Ilê Ayê, o primeiro bloco afro do Brasil.

Em sua família, ele foi influenciado pelos irmãos que já dançavam um estilo chamado “brown”, influenciado pelo norte-americano James Brown. A indumentária era camiseta justa e calça boca de sino, figurino que compunha as competições de dança que existiam nos bairros da Liberdade, Federação e Brotas.

Influências

O irmão de Amilton Lino, Joaquim Lino dos Santos, era um dos dançarinos que mais ganhava nas competições, e assim exerceu forte influência na vida artística do coreógrafo, que também passou a fazer parte das disputas mirins (ganhando a maioria delas). Lino conciliava os estudos com a vida artística, sorvendo influências culturais do rádio ao som de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Stevie Wonder, James Brown e Miriam Makeba. 

Ainda sobre a influência da própria família, seu irmão Joaquim veio a ser bailarino, coreógrafo e professor do Olodum, ajudando a divulgar e fortalecer a dança afro Brasileira.

Também foi criador e diretor da instituição Quintaci, professor da Funceb e de outras escolas de danças em Salvador, sendo responsável pela formação de muitos profissionais de dança que divulgam a cultura baiana pelo mundo.

Amilton Lino na época em que trabalhou com Carlinhos Brown (Foto: Acervo Pessoal)
Amilton Lino na época em que trabalhou com Carlinhos Brown (Foto: Acervo Pessoal)

Ainda da adolescência, ele descobre a capoeira; uma luta com elementos de dança que, na época, ainda sofria marginalização.

Aos 17 anos, começa a fazer dança profissional em unidades do SESC, aflorando seus viés artístico, e conhecendo mais as suas raízes enquanto artista negro.

Futuramente, um dos seus propósitos seria reduzir o apagamento das contribuições negras nas artes, tornando-se um dos professores de dança afro contemporânea mais conhecidos do estado.

Novos rumos na trajetória

Ao entrar no SESC, é o momento em que conhece Raimundo Bispo, popularmente conhecido como Mestre King, ícone da dança afro e instrutor de capoeira, na Bahia e no Brasil, do qual foi aluno.

Na mesma época, Lino também participou do projeto Viva Bahia (primeiro grupo folclórico da Bahia fundado pela professora, folclorista e etnomusicóloga Emília Biancardi nos anos 70, que viria a dar origem a grupos consagrados como o Balé Folclórico da Bahia). 

A partir daí, Lino começou a estudar com vários expoentes de diferentes modalidades da dança, expandindo seus horizontes e carreira artística. “Eu estudei com Carlos Moraes [maitre de ballet], que era um grande professor de balé clássico, e ele me dava bolsas para estudar. Minha mãe não tinha como pagar, e eu fui pra EBATECA na Pituba, naquela época”, relata Lino, em alusão a um das escolas de balé mais famosas de Salvador, sediada em um bairro considerado elitizado.

Ele também estudou com Cida Linhares, professora de dança, que o convidou para fazer aulas de balé. Além desse background, também foi aluno de Angela Bandeira (bailarina do BTCA e professora de dança) e Jorge Silva (coreógrafo, professor, estilista e produtor).

Inovações na arte

Lino inovou no cenário da dança baiana ao trazer elementos da dança contemporânea para ritmos nos quais a expressão era pouco utilizada, como o axé e o pagode. Ele coreografou trabalhos importantes como o DVD Ivete no Maracanã (2007), o qual alcançou a marca de mais vendido do ano. Também trabalhou com bandas como Psirico, Harmonia do Samba e Parangolé, coreografando shows, clipes e trabalhos audiovisuais. 

Amilton Lino e Ivete Sangalo (Foto: Acervo Pessoal)
Amilton Lino e Ivete Sangalo (Foto: Acervo Pessoal)

“Eu consegui trazer movimento da dança afro, do jazz, da dança moderna e do balé clássico. Movimentos que, até então, não eram vistos nessa dança”, relata o professor, acrescentando que “dança é para educar, levar conhecimentos gerais, mostrar os valores, potência. Mostrar um caminho de conhecimento, pertencimento e  conquista. A dança afro mostra não apenas os movimentos das divindades, mas toda a potência da pessoa negra”.

Amilton Lino também estudou em escolas de dança pelo mundo; nos Estados Unidos, passou pelo Instituto fundado por Alvin Ailey, um dos maiores coreógrafos da dança moderna, e renomado artista afroamericano, além de dançar no Balé do Harlem, o bairro mais negro de Nova York. 

Por muitos anos, ele ministrou aulas de dança afro contemporânea na FUNCEB – Fundação Cultural do Estado da Bahia, além de passar por espaços como a Casa Silvestre e Casa XIV, no Pelourinho. Atualmente (2025) ministra aulas no Stúdio Dança e Arte, localizado no Edf. Farol Praia Center em Salvador.

Confira a entrevista com Lino aqui.

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Contatos: 71 99254 2050

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Lucas de Matos

Olá! Eu quero te dar as boas-vindas à minha coluna. Sou um comunicador baiano que ama falar sobre gente, e por aqui você vai encontrar muito assunto sobre cultura, comunicação, dicas de leitura, e mais. Sou autor de 'Preto Ozado', livro que já vendeu mais de 1.600 exemplares e se tornou um minidocumentário. Viajo pelo Brasil em atividades literárias, participando de festas como FLICA, FLIP e FLIPELÔ. Falo sobre cultura para meus 22 mil seguidores no Instagram! Vamos conversar? ?

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