Maior encontro de turismo, Abav Collab tem versão digital que ignora afroturismo

Evento não tem discussão sobre presença de negros em viagens e não faz pesquisa sobre agências que trabalham com turismo étnico

Guilherme Soares Dias

O ABAV Collab 2020 – Feira Virtual de Turismo – ocorre entre os dias 27 de setembro e 2 de outubro e é uma versão virtual do evento promovido anualmente pela Associação Nacional das Agências de Viagem (ABAV), considerado a principal feira do segmento. Em 2020, ano em que o #blacklivesmatter e movimentos antirracistas ganharam mais projeção, o evento não tem mesas específicas para discutir o afroturismo ou a presença de pessoas negras no setor. Além disso, durante a inscrição o questionário da organização dá opção de diferentes áreas do turismo como lazer, luxo, LGBT, mas ignora a possibilidade de atuação no afroturismo.

Sem pesquisa para saber quantas e quais empresas atuam ou estão interessadas no setor é como se ele continuasse não existindo ou não tivesse a importância devida. O Afroturismo é o turismo que leva pessoas para conhecer mais da cultura e história negra e está em crescimento no Brasil e em outros países da diáspora africana. Enquanto ignora o afroturismo, a Abav terá painéis como “Perspectivas para o turismo militar na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro”.

Além disso, não há uma pesquisa nacional, nem por parte do Ministério do Turismo, nem por parte das empresas do setor, que mapeie qual o percentual de turistas negros no Brasil. Sem os dados não é possível saber como se comporta a maior parcela da população brasileira (54% que se declaram negros ou pardos) quando viaja. A baixa presença de pessoas negras no turismo é notória, uma vez que o racismo estrutural faz com que a população negra seja não só a maior parcela entre os mais pobres, mas também aquela com mais dificuldade de se permitir disfrutar momentos de lazer. Outro fator é que no setor de turismo, a maior parte dos funcionários são brancos, assim como ocorre com aqueles que ocupam espaços de decisão nas agências ou são proprietários de hotéis, responsáveis por destinos, etc.

O Guia Negro procurou a ABAV para saber porquê o afroturismo e a presença de pessoas negras no turismo foram ignorados durante o evento. Segundo a assessoria de imprensa, em 2020 o Abav Collab “foi construído de forma coletiva, com a sugestão de palestras e eventos vindas dos integrantes do setor. A plataforma não teve curadoria como em outros anos. Todo mundo que entrou em contato, foi aprovado”, informa. A Abav ressalta ainda que já tratou do tema em anos anteriores. Em 2018, a Black Bird Viagem, empresa da qual sou sócio, participou de uma mesa sobre diversidade em que foi discutido outras formas de fazer turismo (com pessoas com deficiência e LGBTQIA+ integrando o painel) e em 2019 o tema voltou a ser discutido. A entidade reconhece ainda que seria importante ter uma pesquisa para saber quantas empresas trabalham com o afroturismo e disse que deve estimular que ocorra no evento do próximo ano.

Já o Encontro Nacional de Estudantes de Turismo (Enatur) que ocorreu entre 23 e 25 de setembro abriu o evento com uma discussão sobre “As lutas antirracistas contemporâneas e os novos desafios do turismo”, no qual o tema foi discutido por cerca de duas horas por quatro painelistas (incluindo esse jornalista que aqui escreve).

Abav Collab 2020

Para além das vendas, a ABAV afirma que “prioriza o turismo responsável”, e trará instruções ao turista sobre responsabilidade diante do novo normal, informação sobre protocolos vigentes em serviços e destinos, e mais valor pelo preço da viagem, com agentes associados conectados na plataforma para atender aos consumidores previamente cadastrados.

Cerca de 50 agências de viagens selecionadas entre as associadas à ABAV, em todo o Brasil, mostrarão como destinos, hotéis, companhias aéreas, locadoras de automóveis e demais receptivos envolvidos se adequaram aos protocolos sanitários para voltar a operar, com dicas importantes também para que os turistas adotem práticas responsáveis em suas viagens.

Todo o conteúdo disponibilizado pelos participantes ficará disponível na plataforma durante um ano no site  www.abavcol lab.com.br.

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Redação

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