Guilherme Soares Dias*
Se você é negro e pisa na África – seja a primeira vez ou não – vai sentir uma sensação de retorno, de pertencimento e de conexão natural. Visitar a África do Sul é estar o tempo todo em contato com a ancestralidade africana, com as culturas zulu, xhosa e tantas outras presentes, mas também com a modernidade de trens, estádios e cidades que foram trabalhadas para receber turistas. Afinal, o governo sul-africano elegeu o turismo como a segunda prioridade econômica, atrás apenas da mineração.
Os investimentos fizeram com que Johanesburgo recebesse o maior número de pessoas do continente – a cidade tem o aeroporto que funciona como hub, um centro de distribuição, para a região. Em 2018, foram 10,5 milhões de turistas na África do Sul. O Brasil é o nono país que mais envia turistas para lá, sendo 70,5 mil em 2018. Apesar de não haver dados oficiais, a presença de brasileiros brancos é majoritária, o que retrata o racismo estrutural que impede negros de viajarem e se reconectarem com a sua história.
A África do Sul é um destino com vários atrativos. O primeiro atrativo é a conversão do real para o rand – moeda local – que favorece aos brasileiros e torna comer, se hospedar, e comprar lembrancinhas pelo menos 10% mais barato do que os preços praticados do lado de cá. Apesar da dupla conversão, é melhor trocar o real pelo dólar e ao chegar por lá trocar pelo rand.
O país é muito parecido com o Brasil: pobre e rico ao mesmo tempo. A segurança não é algo que te impede de ir a lugares, mas é preciso se precaver. Há menos pedintes do que por aqui, mas eles são mais insistentes. E uma coisa é fato: uma pessoa negra tem uma experiência totalmente diferente de uma pessoa branca. Talvez porque a gente seja mais considerado como local. Talvez porque não vamos ficar tirando foto e impressionados com pessoas em situação de pobreza. Nosso encantamento será muito maior com a cultura, com a história e com a conexão natural que temos.
Veja 13 destaques sobre a viagem:
1 – Mandela.
Para quem busca conexão com a história, a África do Sul é um prato cheio. O país soube preservar a narrativa sobre Nelson Mandela e Apartheid de modo exemplar. Madiba está nas cédulas de dinheiro, em estátuas nas principais cidades, em nomes de rua, praças, mas também tem sua casa em Soweto preservada, assim como a história da prisão em Constitution Hill, no Museu do Apartheid e na Robbin Island, em Cape Town. Percorrer os passos de Mandela pelo país é uma diversão a parte. A cada novo lugar e novas histórias cresce a admiração pelo líder sul-africano e sua luta pela liberdade.
2 – Safári.
Quem gosta de animais tem um prato cheio. É um dos melhores destinos para fazer safári e há opções próximas das grandes cidades. Há quem, como eu, tenha preconceito com esse tipo de passeio e ache que é coisa de branco europeu. Mas estar em conexão com elefantes, leões, leopardos, búfalos, girafas e tantos outros em seus habitats naturais é algo único. Há opções para todos os bolsos e o investimento vale a pena, assim como cada registro feito.
3 – Conexão com a ancestralidade.
O país possui onze línguas oficiais. Cada etnia fala uma língua. As mais presentes são a zulu e xhosa. Ao percorrer as ruas você vai tendo contato com as músicas, danças e línguas. Há tentativas de exotificação dessas culturas, como em qualquer lugar do mundo, mas há também uma troca natural. As pessoas negras automaticamente vão se identificar com os sul-africanos. Eles vão achar que você é do país. E ao descobrir que é do Brasil vão devolver um sorriso ainda maior e tratá-lo como um irmão, um africano que vive do outro lado do oceano. Eles amam e têm muita curiosidade sobre o Brasil.
4 – Lua-de-Mel.
As lindas paisagens fazem qualquer pessoa se enamorar. Entre os destaques para os recém-casados está Cape Town, onde fica o Kirstenbosch National Botanical Garden, jardim botânico de Cape Town; as vinícolas na região de Constancia; o passeio de helicóptero, de bicicleta ou a pé pela região de Waterfront. Há bons restaurantes e casas de jazz que fazem jus a escolher o destino. O Company’s Garden é ótimo para piquenique. Na Mainden’s Cove, você tem uma vista incrível para a Camps Bay, Table Mountain, Lion’s Head e a Montanha dos 12 Apóstolos. Nada pode ser mais apaixonante do que isso.
5 – Noite.
Há regiões boêmias, mas poucos night clubs. Em Johanesburgo, um destaque é a região de Melville, que abriga bares. Alguns têm música ao vivo e o jazz é onipresente. Outra coisa curiosa é o stand-up comedy que ocorre em muitos bares. Em Cape Town, a Long Street abriga a maior parte dos botecos. Fazer o percurso entre eles é um dos programas, mas cuidado: não pode beber na rua. Em Durban, há cassinos e a região da Florida Road abriga bares.
6- Cape Town.
A cidade mais “instagramável” do país. Dá vontade de tirar foto de tudo. Além do que já foi citado, vale a pena visitar Muizenberg e suas casinhas coloridas à beira mar; o Cabo da Boa Esperança; além de subir a Table Mountain. A região de Woodstock abriga cafés e o neighborhood markets aos sábados. O museu Slave Lodge conta a história do apartheid.
7 – Johanesburgo.
Uma cidade moderna e pulsante. Além da região do Soweto, dos museus e do boêmio Melville, é possível comer, comprar e ir para happy hours em Rose Bank. A região de Braamfontein abriga a Universidade Witwatersrand (Wits); um grafite de Nelson Mandela próximo a Mandela Bridge, além de bares e lugares alternativos. O transporte público é deficiente, mas é fácil e barato se locomover de Uber. A região de Maboneng também é destaque para compras e diversão. Há cinema alternativo e feiras aos fins de semana. O Bar Pata Pata faz homenagem à música da cantora Mirian Makeba.
8 – Durban.
É uma cidade litorânea banhada pelo Oceano Índico e que tem a maior colônia de indianos fora da Índia. Quem vai, geralmente, passa dois dias na cidade. Entre os locais mais visitados estão Kwa Muhle Museum, Old Court House Museum, Local History Museum, Durban Natural Science Museum (todos gratuitos). Na praia, a dica é ir a uShaka Marine. As mulheres costumam curtir praia de maiô, muitas vezes com short, e os homens de bermuda. Outras opções de passeio são o Chairman Jazz, Victoria Market (grande presença de indianos), Flea Market, Moses Mabhida Stadium e a Minitown.
9 – LGBTQI+.
A África do Sul foi o quinto país do mundo a legalizar o casamento gay. É verdade que você não verá muita gente visivelmente gay ou casais se beijando na rua – nem os héteros fazem isso por questões de culturais, mas o país é aberto para os turistas LGBTQI+. Em Cape Town, o bairro Waterkant é referência e abriga bares que são ponto de encontro da comunidade e uma praça com adorno de arco-íris. A cidade tem a maior Parada LGBTQI+ da África, que costuma ocorrer em fevereiro. Johanesburgo voltou a ter parada em outubro de 2019, depois de um intervalo de sete anos.
10 – Compras.
Quer comprar capulanas (estampas africanas), máscaras, chás, vinhos e roupas com african style, você está no lugar certo. Lembrando que os preços são um pouco mais baixos do que no Brasil. Além do Neighborhood Market que ocorre no fim de semana em Cape Town e Johanesburgo, há a feira Greenmarket, em uma das praças centrais de Cape Town. Por lá, há ainda o Victoria Wharf, o Watershed e a African Trading Port, que ficam em Waterfront. O mercado de comida da região é o V&A Food Market. Em Johanesburgo, há um mercado no Shopping de Rose Bank, e uma feira em Maboneng.
11 – Modernidade.
Há muitos lugares que destacam a modernidade do país. Entre eles, está o Museum of African Design, em Johanesburgo, e o Zeitz Museum of Contemporary Art Africa, em Cape Town. O trem que leva do centro para o aeroporto de Johanesburgo é rápido, moderno e tem espaço para malas. Os estádios construídos para a Copa do Mundo de Futebol de 2010 são outra atração à parte.
12 – Gastronomia.
O braai, churrasco sul-africano é uma das pedidas mais típicas, além das carnes de caça (de avestruz, de búfalo, javali, entre outras). O biltong é uma carne desidratada comida como uma espécie de snack por eles. O chá rooibos é um dos mais consumidos e o pudim de malva é delicioso e popular. A África do Sul é produtora de vinhos e vale a pena experimentá-los. Para os vegetarianos, há menos opções do que no Brasil, mas é possível se virar.
13- Intercâmbio.
Há muitos brasileiros que escolhem a África do Sul para fazer intercâmbio. A maioria vai para Cape Town, onde há várias escolas e um ambiente bastante turístico. Mas Johanesburgo também abriga escolas e um ambiente favorável para o aprendizado da língua. O sotaque sul-africano é diferente do de outros países de língua inglesa, mas assim como ocorre na Austrália é um item a ser adaptável. Também é possível trabalhar no país, enquanto estuda e ou fazer voluntariado.
*O repórter viajou a convite da South African Tourism
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