Ainda falta “consciência negra” no turismo brasileiro

Mais um ano começando, mais um novembro passou, chamado de mês da Consciência Negra e que tem no dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra, feriado em várias cidades e estados do país, a data mais importante para reflexão sobre a situação dos negros no Brasil e novamente foram raras as ações no turismo ligadas ao tema. Segundo Google Trends, os termos “Negros”, “Consciência Negra”, “Inclusão Racial” e, para minha surpresa, “Afroturismo” foram os mais buscados durante o mês, mas mesmo assim ainda somos ignorados pela maioria das empresas e entidades de classe do setor, poucas com um “post ” em rede social e sendo possível contar as que realmente fizeram ações compatíveis com a atenção que a data merece.

Mesmo com a maioria dos setores econômicos mais desenvolvidos e lucrativos do país realizando ações efetivas ligadas a inclusão e diversidade racial, mesmo com as empresas que desejam aumentar seu valor de mercado sendo pressionadas para apresentar ações de ESG que estão fazendo, ainda que estejamos falando do essencial, que é a consciência que leva a omissão ou ação, a pauta da inclusão racial, causa negra, o combate ao racismo estrutural são ignoradas no turismo brasileiro. Nenhum setor ou empresa é obrigada a realizar ações focadas no tema, bem como também não são culpadas do racismo e suas consequências, mas ficará cada vez mais complicado se omitir.

O consumo identitário, no qual cada vez mais o consumidor que ser ver representado no serviço ou produto, tem crescido no país, assim como também o consumo consciente. Estudo recente identificou que 72% dos consumidores negros não se sentem representado em propagandas de produtos ou serviços e que 82% gostariam de ser mais bem tratadas e ouvidas. O Instituto Locomotiva, também em pesquisa recente, informa que o poder de consumo atual da população negra é acima de R$ 1,7 trilhões. E nem preciso falar do sucesso dos eventos afrocentrados como Afropunk Bahia, em Salvador, e Feira Preta, em São Paulo. Se houvesse um mínimo investimento nos turistas e empreendedores pretos participantes destes eventos, com certeza, haveria um retorno quase imediato.

Hoje o que temos de ações focadas no turista negro são realizadas praticamente sem nenhum apoio financeiro pelos empreendedores e profissionais pretos do movimento do AFROTURISMO, que realizam ações e ocupam espaços o ano todo para mostrar para o turista negro e o antirracista que tem alguém focado em proporcionar um turismo com pertencimento, identidade, representatividade e, no que tiver ao nosso alcance, sem racismo. Nosso foco é construir essas alternativas para que toda viagem, toda experiência turística do afroturista seja como ele merece: de excelentes lembranças, que vão alimentar o desejo de realizar as próximas. Nos ignorar ou nos invisibilizar é o que de fato já temos em uma sociedade que ainda é estruturalmente racista, mas continuaremos a nos aquilombar para mudar esta realidade, pois nós, pessoas pretas e antirracistas, merecemos pra ontem um turismo sem racismo.

Só falta CONSCIENCIA NEGRA para quem não que ter consciência, pois não faltam informações, dados e fatos para agir, investir e colaborar para combater o racismo em qualquer setor da nossa sociedade. INCLUSÃO RACIAL não é solidariedade, é RESPONSABILIDADE social. E investimentos sérios de inclusão racial no turismo tem como protagonistas, com autonomia financeira e gestão, profissionais negros, principalmente que já atuam no AFROTURISMO, pois já pesquisamos o tema e temos conhecimento e capacidade para implementar ações efetivas e ágeis para gerar a mudança que desejamos ver no setor. Representamos um desejo coletivo, pois para nós nunca se trata do “EU” , mas do “NÓS” , pois só podemos SER , se todos SÃO.

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Hubber Clemente

Negro, paulistano, que ama sua cidade, principalmente o centro, local de importância histórica e ancestral para o povo negro, onde também fica sua escola de samba do coração, a Vai Vai. Hoteleiro por vocação e paixão, com mais de 22 anos de carreira no setor. Ativista, militante, divulgador do AFROTURISMO como caminho de inclusão racial, diversidade, resgaste histórico e conexão ancestral por meio do turismo, visando uma sociedade melhor e a mais justa. Fundador da iniciativa Negros e Pretos Afro Turismo Afro Hotelaria, Co fundador Papo de Hoteleiro ,integrante da comunidade de inovação Inovadores Inquietos, Coletivo pelo Afroturismo, do Comitê da Diversidade no Turismo e apoiador de parcerias do Coletivo Quilombo Aéreo

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