Cervejaria negra, Implicantes faz financiamento coletivo e sofre racismo

Texto: Guilherme Soares Dias*Edição: Nataly Simões | Imagem: Divulgação

Primeira fábrica cervejeira negra do Brasil, a Implicantes, de Porto Alegre, anunciou um financiamento coletivo para auxiliar o negócio durante a pandemia da Covid-19, o novo coronavírus. A namorada de um dos sócios da cervejaria fez uma publicação no Facebook para divulgar a campanha e a postagem foi alvo de uma série de mensagens racistas. A repercussão do caso fez a campanha viralizar e o negócio liderado por empreendedores negros não só alcançou a meta estabelecida, como continua a arrecadar verbas.

Os sócios da cervejaria são os irmãos Diego e Daniel Dias, que sempre admiraram cerveja artesanal e participavam de eventos cervejeiros. Os empresários ressaltam que notavam a falta de pessoas negras nesses eventos, pois frequentemente eram os únicos presentes. “Havia uma tentativa frustrada das cervejarias homenagearem a população preta, pois acabavam por utilizar imagens caricatas e termos pejorativos nos seus rótulos, que normalmente correspondiam a cervejas escuras”, ressaltam na campanha.

Além de empreendedores negros à frente do negócio, os produtos vendidos pela Implicantes homenageiam em seus rótulos figuras históricas da cultura negra. “Trazemos o debate sobre o racismo em alguns rótulos, como apelidos sendo dados para pessoas negras”, contam os sócios. A intenção é valorizar também a história do samba e da capoeira, por exemplo.

Os irmãos iniciaram uma produção caseira até conseguirem adquirir uma cervejaria. A vida útil dos equipamentos da fábrica, no entanto, já estava perto de seu vencimento. “Como os recursos financeiros eram limitados, por várias vezes tivemos que aprender de forma autodidata a realizar consertos e manutenção na Cervejaria, pois era necessário escolher entre adquirir as peças necessárias para reposição ou contratar profissional habilitado para manutenção/conserto dos equipamentos”, explicam.

Diego ressalta que o financiamento ocorreu por não ter conseguido empréstimo. “Estávamos quase fechando, já que nossas vendas tinham reduzido por conta da pandemia”, afirma Diego Dias.

A limitação dos equipamentos adquiridos impediu a venda da cerveja para fora do Rio Grande do Sul. A capacidade de produção da fábrica, com todos os equipamentos funcionando adequadamente, é de 10 mil litros de cerveja por mês. No entanto, a mais de 3 mil litros, ou seja, em virtude dos problemas técnicos apresentados pelo maquinário, nunca foi possível atingir mais do que 30% da produção planejada.

Quem contribui financeiramente com o financiamento recebe kits com copos, camisetas, bonés e latas da marca. A meta já foi atingida, mas a campanha continua e o dinheiro, segundo Diego, será utilizado nos reparos da fábrica e na expansão da produção para o início da exportação para outros estados brasileiros.

*Originalmente publicado no Alma Preta

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