Black travel movement ganha força no Brasil

Afroturismo, turismo afroreferenciado e turismo étnico são temas discutidos em eventos do setor

Os termos para definir o turismo com foco em cultura negra e em pessoas de cor preta e parda mudam dependendo do evento. Ora turismo étnico, ora afroturismo, em outras turismo afro referenciado ou a citação do termo inglês black travel movement. O fato é que esse tema entrou de vez na pauta dos eventos ligados ao turismo.

Se há um ano atrás, escrevia que havia poucos ou nenhum blogueiro negro falando sobre como era viajar pelo mundo, esse cenário mudou e se transformou de pressa. De lá para cá, o tema começou a aparecer na imprensa e redes sociais. Seja com perguntas de porquê os negros viajam menos, seja discutindo o racismo no turismo, de revistas como a National Geographic admitindo que foram racistas por anos, de guias com lugares de cultura negra que você precisa conhecer ou em posts de blogs, como o No Mundo da Paula, de Paula Augot, que conta, por exemplo, como é ser negra na Tailândia. Outro casal que pôs a cara e a voz preta pelo mundo para contar peripécias de viagens em seus canais são Thamyra Thâmara e Marcelo Magano, com o Favelados pelo Mundo. O Alma Preta também fez seu papel contando como é ser um intercambista negro.

Se nos Estados Unidos, o black travel movement conta com plataformas como o Nomadness, Travel Noire e Black e Abroad. Aqui no Brasil, o Black Bird nasce como uma plataforma para inspirar viagens e torná-las mais inclusivas, além de organizar caminhadas como a São Paulo Negra, que revela histórias e personagens negros da capital paulista. No intercâmbio, além das viagens para África organizadas pela escola de inglês Ebony English, surgiu a agência Go Diaspora, especializada em África e países caribenhos. Há ainda negócios como a Black Travelers e a Sou Mais Carioca, ambas do Rio, que focam no turismo étnico para atender principalmente afroamericanos que vêm ao Brasil. Esse também é o foco da Afrotours Viagens, de Salvador.

O negócio mais expressivo desse mercado também tomou corpo no último ano: o Diaspora.black, plataforma de hospedagem e experiências. Concorrente do Airbnb, o negócio tem foco em pessoas negras e participou do processo de aceleração do Facebook. Com presença em mais de uma dezena de países, onde é possível ficar na casa de pessoas negras ou experimentar um pouco da cultura negra, a Diaspora lançou também um selo para capacitar e certificar a rede hoteleira como lugares amigáveis para pessoas negras, evitando possíveis casos de discriminação – mais comuns do que imaginamos nesse setor.

De um cenário em que não era pautado ou discutido para várias iniciativas, o afroturismo também passou a ser pauta dos eventos do setor. Na USP, a Semana Lazer e Turismo, de 11 a 13 de setembro, organizada pelos graduandos de curso homônimo, tinha mesas sobre diversidade. Haviam debates dedicados as mulheres viajantes, aos LGBTs – até aí sem novidades, já que esses foram grupos que começaram a ganhar espaço há mais tempo – e uma dedicada ao turismo étnico. A Semana de Ciência e Tecnologia do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) também trará o tema dentro do “Bora viajar?”, em que eu, Guilherme Soares Dias, dividirei as experiências de ser um corpo negro pelo mundo e contar desse movimento todo que tem atingido o turismo.

No dia 27 de setembro, será a vez da Abav Expo 2018 (evento anual da Associação Brasileira de Viagens) pautar o tema, com a presença de Luciana Paulino, relações públicas e sócia fundadora do Black Bird. O tema também ganha outras áreas. O Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU vai discutir sobre representatividade nas viagens no próximo dia 24 de outubro, dentro da Semana de Comunicação.

É verdade que o turismo étnico já esteve presente em um ou outro evento de turismo, mas também que nunca esteve tão em voga quanto agora. E isso é só o começo. Por que a partir do momento em que os 112 milhões de brasileiros negros – segunda maior população negra do mundo, atrás apenas da Nigéria – começarem a se empoderar e buscar viagens que valorizem a sua gente, história e cultura, esse movimento, que já é irreversível, se tornará cada vez maior.

 

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Redação

O Guia Negro faz produção independente sobre viagens, cultura negra, afroturismo e black business

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