Caminhada São Paulo Negra desvenda lugares e personagens apagados do centro

São Paulo é a cidade com a maior população negra do Brasil, já que 32% dos seus cerca de 12 milhões de habitantes se declaram de cor preta ou parda. Apesar das pessoas negras somarem cerca de 4 milhões e serem parte importante da história da capital paulista os lugares de cultura e personagens negros foram sendo sistematicamente apagados da história. A Caminhada São Paulo Negra, organizada pela Black Bird Viagem, pretende trazer à tona algumas dessas narrativas.

A experiência começa pelo bairro da Liberdade, conhecido como japonês, mas que teve como seus primeiros moradores as pessoas negras. Por lá, estão marcas do período da escravização como o Pelourinho, o local em que ficava a forca e o Cemitério dos Aflitos, destinado às pessoas negras e indígenas.  Nesse ponto, os anfitriões explicam sobre o futuro Memorial dos Aflitos na Liberdade, que reunirá as ossadas e os demais resquícios arqueológicos do antigo Cemitério dos Aflitos. A criação do espaço foi confirmada na Lei 17.310/20 sancionada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) no último 29 de janeiro.

Foto: Heitor Salatiel

O percurso inclui também personagens como o advogado, jornalista e abolicionista Luiz Gama, o arquiteto negro do século 18 José Pinto de Oliveira, conhecido como Tebas, e a escritora Carolina Maria de Jesus. O roteiro traz ainda histórias sobre a nova migração africana, passos de samba rock – ritmo tipicamente paulistano – e a única estátua de uma mulher negra na cidade. “Revelamos lugares e histórias presentes no cotidiano, mas que mesmo os paulistanos muitas vezes não conhecem. É importante perceber que as pessoas mudam a relação com a cidade depois do tour”, afirma Guilherme Soares Dias, jornalista, que é dos anfitriões da experiência.

A caminhada começou a ser realizada em junho de 2018 e desde então leva grupos mensalmente para conhecer as histórias não-contadas do centro de São Paulo. A experiência já integrou a Bienal de Arquitetura, a Jornada do Patrimônio e também é realizada para empresas interessadas em discutir a diversidade. Para além de novas narrativas, os tours provocam novas conexões. “São oportunidades de conhecer novas pessoas. Muitos começam como desconhecidos e terminam trocando contatos e se tornam amigos”, conta Heitor Salatiel, fotógrafo e produtor cultural, que é um dos anfitriões do tour.

Black Bird Viagem. Plataforma de turismo e representatividade que busca trazer um olhar inclusivo para o mercado de turismo brasileiro. Fundada pela relações públicas Luciana Paulino e pelo jornalista Guilherme Soares Dias tem como proposta compartilhar relatos de viajantes negros, histórias de lugares e cultura negra, além de inspirar novas narrativas e viagens, com dicas e promoção de alguns roteiros especiais de turismo afro-referenciado. “Afinal, se viajar é uma experiência transformadora, por que não pode ser também inclusiva?”, questiona Luciana Paulino, citando a frase que virou o slogan da empresa. Além da São Paulo Negra, a Black Bird faz roteiros pela Barra Funda e pelo Bixiga, em São Paulo; experiências por Salvador pelo Pelourinho e Subúrbio Ferroviário; além de viagens para o Quilombo de Palmares (AL).

Serviço: A primeira Caminhada São Paulo Negra de 2020 ocorre em 15 de março, às 10h, saindo da Praça da Liberdade, 238, na Liberdade. O valor é R$ 50. As inscrições podem ser feitas aqui: https://diaspora.black/produto/caminhada-sao-paulo-negra-2/

 

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Redação

O Guia Negro faz produção independente sobre viagens, cultura negra, afroturismo e black business

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