Corregedoria da PM recebe empresários da Caminhada São Paulo Negra

A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo recebeu os representantes da Black Bird Viagem, Guilherme Soares Dias e Heitor Salatiel para dar escurecimentos sobre a Caminhada São Paulo Negra ter sido seguida pela PM por três horas e três quilômetros em 24 de outubro de 2020, provocando constrangimento e intimidação nos empresários, que trabalhavam enquanto eram filmados pelos policiais, e no grupo, que contratou um passeio turístico.

O coronel Alexandre Gaspar Gasparian, coordenador Operacional da PM, admitiu que a “inteligência” da polícia identificou a caminhada como uma manifestação e enviou um ofício. A aspa na palavra inteligência foi dele próprio. Mas disse que o setor faz esse acompanhamento das redes sociais e que qualquer aglomeração deve ser acompanhada. O tal ofício não foi exposto. Ele considera que não houve racismo e que “não foi por A ou B que foram seguidos”.

A dra. Diva Zitto, presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil OAB/SP, questionou se outros passeios turísticos já foram seguidos. A resposta foi negativa (…). Os empresários lembraram que a presença policial denota que há algo errado e quiseram entender porque mesmo após três horas, os PMs que os acompanharam não entenderam que era um tour. O racismo estrutural está em não entender que um evento chamado Caminhada São Paulo Negra pode ser um tour, como é de fato e é anunciado, inclusive com preço de venda. E não perceber que esse passeio assim ocorre, pois os lugares que percorre não são identificados como turísticos. Vem, justo daí, a importância.

Os representantes da Black Bird convidaram, então, a PM a fazer o passeio para entender a importância dessa história e para valorizá-la ao invés de criminalizá-la. Assim, o farão no próximo 9/12 às 14h quando voltarão à Corregedoria da PM, agora para a sala de aula de líderes da polícia que se formam e multiplicam conhecimentos em suas bases no Estado de São Paulo.

Segundo o coronel Gaspariano, já foi passado para o comando uma orientação dizendo que a Caminhada São Paulo Negra é um passeio e não uma manifestação e que, a partir de agora, só vão acompanhar o grupo se a empresa solicitar a presença da PM. O coronel Leandro Gomes, diretor de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos, afirmou que a polícia quer se aproximar da sociedade e construir relação, criando espaços para iniciativas como a da Black Bird Viagem. “Não conhecíamos o tour, mas agora queremos saber mais”, disse.

Já o ouvidor da PM em São Paulo, Eliseu Soares, afirmou que a instituição precisa avançar e reconhecer que há assimetria na conduta entre pessoas brancas e negras. “A lei da vadiagem é cultura que herdamos. Tensões são resolvidas com diálogo e instrumentalizam políticas públicas”, afirmou. O coronel Leandro Gomes disse que a polícia deve divulgar um guia prático de abordagem policial até o fim do mês. Também participaram da reunião o chefe de gabinete da Ouvidoria da PM, Alberto Saraiva, e o ativista e jornalista Abilio Ferreira, que teve um ato em homenagem a Francisco José Chagas, o Chaguinhas, também perseguido pela polícia no último dia 20 de setembro.

Essa história não termina aqui. Nossos passos vêm de longe e não estamos sós. A Caminhada São Paulo Negra, idealizada e realizada pela @blackbird_viagem, vai potencializar cada vez mais nossas histórias e a cultura preta! E há outros coletivos fazendo o mesmo em São Paulo e outras cidades. Então, que a gente possa seguir e ver cada vez mais essas narrativas entrando no imaginário da cidade.

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Redação

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