Estudo aponta que 71% das mulheres pretas identificam manifestações mais cruéis de racismo

Neste 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) chama atenção para os desafios enfrentados pelas mulheres negras no empreendedorismo brasileiro. A data marca uma oportunidade de dar visibilidade às desigualdades estruturais e celebrar a potência dessas mulheres na economia do país.

A pesquisa “Empreendedoras Negras”, realizada pelo IRME em parceria com a Rede Mulher Empreendedora (RME), oferece um retrato contundente da realidade vivida por mulheres pretas e pardas que empreendem em todas as regiões do Brasil.

O estudo mostra que, diante da exclusão do mercado formal de trabalho, o empreendedorismo tem sido um caminho de sobrevivência e resistência. Mas os obstáculos são muitos. Um dos dados mais impactantes revela que 71,2% das empreendedoras pretas percebem que o racismo se manifesta de forma ainda mais cruel contra mulheres de pele escura, percepção compartilhada por 60,8% das mulheres pardas.

Dados do levantamento:

  • 47,6% faturam até R$ 2 mil por mês, sendo a maioria (64,9%) empreendedoras solos;
  • 73% são mães, sendo que 50,2% das pretas e 46,9% das pardas são mães solo;
  • Mesmo com alta escolaridade — 62,9% das pretas e 52,5% das pardas têm ensino superior — muitas relatam que empreender foi a única alternativa para gerar renda;
  • Os principais setores de atuação são alimentação, beleza e consultoria, segmentos com criatividade e inovação, mas com pouco suporte para escalar negócios;
  • 70,7% das mulheres pretas já sofreram discriminação racial no ambiente de trabalho, frente a 52,8% das mulheres pardas;
  • Falta de acesso a créditoracismo e sobrecarga com trabalho doméstico são os maiores entraves apontados.

“A autonomia econômico-financeira é fundamental para as mulheres em geral, mas é ainda mais importante para mulheres negras que são atravessadas violentamente pelo machismo e pelo racismo da nossa sociedade. Apoiar mulheres negras nesta jornada é o trabalho da RME e deveria ser de toda sociedade”, afirma Ana Fontes, empreendedora social e fundadora da RME e do IRME.

Motivações e Desafios

A pesquisa revela que as principais motivações para empreender são liberdade para fazer o que gostam (42,8%), independência financeira (31,5%), e flexibilidade de horário (28,7%). O empreendedorismo não é só sobrevivência — é também um espaço de construção de identidade e autonomia. A presença das empreendedoras negras é nacional, com destaque para os estados de São Paulo, Bahia e Minas Gerais.

Outro dado importante é que 66,6% das entrevistadas reconhecem o papel de coletivos e organizações como principais agentes de apoio ao empreendedorismo feminino, reforçando a força da articulação em rede.

A pesquisa também chama atenção para desigualdades mais profundas: mulheres pretas enfrentam maior dificuldade de acesso a crédito, mais episódios de discriminação racial e sobrecarga com trabalho doméstico e familiar. Ainda assim, muitas relatam que empreender resgatou sua autoestima e deu novo sentido à vida.

O estudo Empreendedoras Negras foi coordenado pelo LAB – Laboratório de Gênero e Empreendedorismo do IRME, e executado pela Ideafix. A pesquisa quantitativa contou com 715 respondentes de todas as regiões do Brasil, entre os dias 14 e 18 de outubro de 2024.

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Redação

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