Luta Queixada ganha exposição artística em Perus no aniversário de 60 anos

A história negra é sempre invisibilizada dentro de uma sociedade como a brasileira, onde o racismo se faz tão presente ainda nos dias de hoje. Grupos como o proletariado e a periferia, que possuem grandes números de membros negros em sua composição, são alguns dos que mais sofrem com esse silenciamento histórico. A Comunidade Cultural Quilombaque é uma organização, sem nenhum fim lucrativo, criado em 2005 por moradores do bairro de Perus, região noroeste da cidade de São Paulo. O grupo tem como objetivo jogar uma luz sobre as questões que a periferia enfrenta todos os dias, e trazer para o centro da discussão as necessidades e histórias de seus moradores.

Com essa ideia, um dos projetos que foram destaque deles nos últimos tempos foi o “Trilha da Memória”, uma intervenção artística feita em parceria com a Agência Queixadas Eco Cultural Turístico e o Centro de Memória Queixadas. Com a ideia, eles queriam trazer de volta as histórias dos queixadas e sua greve operária, que marcou os moradores do bairro de Perus de 1962 a 1969. 

A Revolta dos Queixadas foi uma das maiores greves proletárias da história do Brasil. Durante aproximadamente sete anos, os trabalhadores da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus, localizada no bairro de Perus, se organizaram nessa manifestação não-violenta, a fim de lutar por melhores condições de trabalho. 

Durante os anos de greve, o sindicato que lutava pelos trabalhadores fez uma série de movimentos para arrecadação de fundos, com o objetivo de auxiliar os trabalhadores e gerar algum tipo de sensibilização na opinião pública. A greve acabou em 69, com as empresas pagando uma parte dos direitos aos trabalhadores. Contudo, o sentimento de luta nunca acabou.

Em entrevista com o Quilombaque, ouvimos o lado de um dos organizadores do projeto, sobre como foi participar de algo tão importante para os moradores daquela região. “A gente aqui no Quilombaque tem a história dos Queixadas na nossa essência. Mesmo depois de todos esses anos, a luta ainda é muito presente.”

O grupo é uma referência sociocultural no bairro de Perus. Muitos dos moradores de lá são filhos ou netos dos operários queixadas. A ideia é levar o legado dos que lutaram para frente, não deixando a história do bairro morrer. “O foco é reapropriar a memória e homenagear os que vieram antes”.

Foram dois movimentos artísticos que o Trilha da Memória trouxe para essa data de comemoração dos 60 anos da luta queixada. O primeiro é o “Reemplaca Memória”, que traz justamente essa homenagem direta aos membros da greve. Com ele, trinta placas comemorativas foram espalhadas pelas ruas do bairro para renomear esses espaços. 

Segundo as próprias palavras do site Queixadas Parade, “a proposta tem o intuito de despertar a curiosidade da população do bairro em saber o porquê desses nomes e o que eles representam para a memória coletiva”. Nas placas, existem QR codes que podem ser acessados por qualquer um que passar próximo a elas. Os códigos levam para informações a respeito da história e do projeto.

O segundo movimento artístico é o Queixadas Parade, onde sete esculturas de porcos queixadas foram espalhadas pelas ruas de Perus. Essas esculturas foram customizadas por artistas locais, representando cada uma delas um grande marco da história do bairro. 

Esses projetos possuem um período de duração já pré-definido, pois não recebem todo o apoio público que deveriam. Essa também é uma luta, só que agora nos dias atuais. O Quilombaque está nesse processo de fazer com que prédios públicos do bairro possam ter nomes de pessoas importantes para a história local, apropriando-se daquele espaço que lhes é direito. 

Além disso, trazer mais cultura para a periferia também é uma das metas. “A história e cultura da periferia é exposta no centro da cidade. Por exemplo, o Museu das Favelas fica na Santa Cecília. Qual o sentido disso?” questiona Dede Ferreira, criador das placas do Reemplaca Memória, durante o entrevista com o Guia Negro.

Após o término da exposição, o plano é doar as esculturas dos porcos queixadas para os espaços culturais do bairro, como as bibliotecas e o Museu do Hip Hop e doar as placas para as famílias conforme o nome descrito, respectivamente.

No site da Queixadas Parade, você encontra vários outros detalhes sobre esse trabalho incrível. Sigam eles também nas redes sociais.

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Lucas Henrique

Turismólogo de formação e estudante de Marketing Digital nas horas vagas, busca mostrar sua voz como comunicador e, se possível, mochilar pelo Brasil e pelo mundo enquanto isso. Considera o diálogo e a conexão entre pessoas as coisas mais importantes para se buscar crescimento e evolução, sejam eles profissional ou pessoal. Fã número 1 de debates sobre as atualidades, além de adorar escrever sobre internet, redes sociais e tecnologia

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