Michael Jackson chorou no Pelourinho ao ver percussionistas do Olodum tocando

Guilherme Soares Dias

Michael, eles não ligam pra gente. O clipe icônico da música “They Don’t Care About Us”, de Michael Jackson, gravado em 1996 no Pelourinho, em Salvador, com a participação do bloco afro Olodum, e no morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, levou o bloco Olodum à fama internacional. O vídeo foi dirigido pelo cineasta Spike Lee, que acaba de atualizar o clipe com imagens dos protestos #blacklivesmatter, que invadiram diversas cidades pelo mundo em 2020.

A história do Olodum com Michael Jackson começou com uma viagem do grupo aos Estados Unidos em 1990. Os integrantes do bloco encontraram Paul Simon, que perguntou onde queria ir. Pediram para ver Spike Lee. Paul Simon ligou para o cineasta e marcaram o encontro. Eles foram à loja de Lee e o convidaram para ir a Bahia dizendo que além de muitos negros, da cultura efervescente e da identidade, havia uma “resistência ativa”. O cineasta perguntou o que era essa “resistência ativa” e João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum, respondeu que precisaria visitar Salvador para conhecer.

As conversas continuaram de 1990 até 1996, quando Lee disse que estava indo levando um artista internacional pop. Ele mandou uma fita k7 e o bloco se deu conta que era Michael Jackson. Para gravar o clipe, ele pediu 215 percussionistas e dois dias, um de ensaio e outro de gravação. Michael Jackson era nosso ídolo de infância de muitos, da época do Jackson Five, em que usava cabelo black e dançava com os irmãos. Quando ele desembarcou na Bahia, era um homem magrinho, de pele bem clareada, cabelo liso e um grande músico.  “Durante um dia inteiro demos uma noção terminativa com nossos 215 percursionistas. Spike Lee dirigia e Michael Jackson via tudo, de chapéu, de guarda-chuva, mas fascinado com tanta gente tocando precursão”, conta João Jorge, ao programa Guia Negro Entrevista.

No final da gravação, Michael Jackson foi em direção ao lado direito do Pelourinho e começou a chorar dizendo: “nunca tinha visto isso no mundo”. Ele esteve em vários lugares da África, gravou clipes, mas nunca tinha visto “o som do coração pulsar” da forma que os 215 percussionistas fizeram. Com o clipe, Spike Lee e Michael Jackson deram projeção ao Olodum “como uma bolsa de canguru: “vupt”, fizeram um cavalo de tróia para a Babilônia (um sistema injusto operado a partir da Europa, dos EUA e países ricos contra a sua própria população, na maior descendente de escravo, de indígenas e que vivem subjugadas na babilônia)”, define João Jorge.

O Olodum nasceu em 1983 a partir de um grupo do movimento negro que faz trabalho social, de comunicação. Tem bandeiras nacionais e internacionais como Egito negro, luta pelo apartheid, Revolta dos Búzios e noção de igualdade ligada ao arco-íris que é juntar pessoas de cores diferentes pela mesma causa. “O sucesso do Olodum vem da música, do carnaval, da ação social, da banda, da Escola Olodum, do Bando de Teatro Olodum e da conexão internacional. Uma das características mais interessantes foi levar pessoas da Bahia para fazer um bom trabalho em outros países”, conclui o presidente do bloco.

Visite:

Na Casa Olodum é possível comprar produtos ligados ao bloco. O clipe passa em looping na loja que fica na Rua Maciel de Baixo, 22 – Pelourinho, Salvador.

Já o sobrado em que Michael gravou parte do clipe pode ser visitada. Há um poster na sacada e visitantes que compram presentinhos na loja têm direito a uma foto com o ídolo do pop. Fica no Largo do Pelourinho, 8 (casa azul), Salvador.

Confira o novo clipe:

O clipe original: (o momento em que ele é abraçado por um fã e cai no chão é ótimo)

E a entrevista completa de João Jorge Rodrigues:

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Redação

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Um comentário

  1. Meu falecido esposo amava Michael Jackson,hoje eu vim aqui em Salvador para realizar o sonho dele .De estar onde um dia Michael esteve.Salvador e lindo e os Bahianos são maravilhosos..
    Amei conhecer as origem de meu antepassados.As igrejas construídas por negros escravos … Parabéns Salvador

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