“NIA: a jornada de uma jovem negra”: jogo é lançado por mulheres negras do audiovisual 

O mercado de jogos ainda apresenta uma baixa representatividade feminina e negra em seu espaço.  De acordo com um levantamento do Ministério da Cultura, menos de 10% dos funcionários de empresas de jogos são negros, mulheres são uma parcela menor ainda da estatística. No cenário internacional não é diferente. A média de desenvolvedoras nas empresas é de 14% e menos de 4% são negros, segundo dados da NextGen Skills Academy. Para mudar essa perspectiva, uma turma do Cinema Nosso, composta 100% por mulheres negras, desenvolveu o jogo de cartas analógico “NIA: a jornada de uma jovem negra”.

Com classificação etária a partir de 8 anos e um tempo médio de 30 minutos de partida, a proposta do jogo é simples – fazer com que Nia, garota periférica de 15 anos, se desloque até a escola em que é bolsista. Para isso, os jogadores devem, de forma colaborativa, responder questões e percorrer o caminho do tabuleiro até o final. “O jogo é como se fosse uma reparação histórica. Nós decidimos fazer cartas de perguntas e curiosidades sobre personalidades, movimentos e momentos importantes da cultura brasileira, mas que foram protagonizados por pessoas negras. Eu descobri muita coisa enquanto fazia as cartas, coisas que nem sequer comentaram na escola, que mudaram o rumo do Brasil”, define a estudante Clara Santos, uma das responsáveis pelo conteúdo do jogo.

Além de valorizar a força da colaboração entre as pessoas e ensinar sobre culturas e a história afro-brasileira, o conceito do game também reforça o combate ao racismo de forma lúdica. “Ao conhecer a trajetória de personalidades pretas que fizeram e fazem história no meu país, eu senti que posso fazer o que quiser também. Acho que esse é um fator muito importante do jogo, assim como ajudar o jogador, independentemente da cor de sua pele, a reconhecer situações de racismo e a se engajar na luta antirracista”, explica a publicitária e produtora audiovisual Ana Beatriz Ramos, que participou do desenvolvimento do jogo.

O projeto teve início em novembro de 2019, com mais de 60 jovens negras, e precisou ser adaptado para o formato online a partir da pandemia. “A produção foi desafiadora. Nossa ideia inicial era um jogo digital, e nós já estávamos com praticamente a história toda pronta (que se passaria na escola da Nia) e faltava apenas tirar do papel, mas com a quarentena, tivemos que repensar tudo para fazer um jogo analógico que fosse diferente dos demais”, pontua Clara.

Após a conclusão do projeto em setembro de 2020, o jogo entrou na fase de busca por parcerias para distribuição, inclusive nas escolas. “O público alvo são adolescentes entre 13 e 15 anos. Acreditamos que, nessa fase, a identificação e autoestima são muito importantes. Futuramente, a ideia é que Nia possa ser desenvolvido em formato digital e virar uma história em quadrinhos também”, finaliza Ana.

Empoderamento e Cinema – Jovens Negras no Audiovisual

Promovido pelo Cinema Nosso, o projeto tem como objetivo estimular o acesso democrático à formação, produção e empreendedorismo audiovisual à jovens negras com idade entre 18 e 29 anos moradoras do Rio de Janeiro. Durante a formação em games, as alunas, que nunca tiveram contato com ferramentas de gamificação, aprendem a produzir um jogo, da criação do roteiro até o game design, ilustração e dinâmica.

No decorrer do curso, as alunas desenvolvem competências para profissões em tecnologia com base nos critérios de habilidades do século 21 e no movimento Steam, que foca na metodologia da formação em Artes, Ciências e Matemática buscando a solução de problemas. O programa também inclui workshops e atividades complementares para que as jovens tenham contato com profissionais já consolidados no mercado.  O primeiro ano do projeto contou com o patrocínio da Amil, através da Lei do ISS, via Secretaria de Cultura do Município do Rio de Janeiro.

Sobre o Cinema Nosso

O Cinema Nosso é uma instituição sociocultural que, ao longo de sua trajetória, trabalha para proporcionar experiências de tecnologia e inclusão para a produção de narrativas juvenis, fomentando a cadeia produtiva do audiovisual no Rio de Janeiro. Foi constituído informalmente em 2000 – então sob o nome Nós do Cinema –, a partir do processo de seleção de elenco para o filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles e Kátia Lund. Hoje, o Cinema Nosso é reconhecido como uma das maiores escolas populares de audiovisual na América Latina, com mais de 5000 jovens formados em seus cursos. Em 2020, foi uma das organizações contempladas pelo edital Criança Esperança em parceria com a UNESCO.

Para conhecer mais sobre o Cinema Nosso, acesse: www.cinemanosso.org.br

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Redação

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