O anúncio de que a TV Globo vai fazer o remake da novela “Pantanal” deixou a internet em polvorosa. Sucesso na extinta TV Manchete em 1990, a novela foi um marco na teledramarturgia por ser líder de audiência em outra emissora que não a Globo e ter imagens externas que mostravam as belezas da maior planície alagada do mundo. No Mato Grosso do Sul, onde nasci e a história foi gravada o folhetim era uma verdadeira febre. Durante anos, o turismo do estado foi incentivado por conta da repercussão da história. A personagem de Juma passou a fazer parte do imaginário popular e o violeiro Almir Sater, que já fazia sucesso regional alçou vôo para outras obras da ficção e carreira nacional.
Originalmente escrita por Benedito Ruy Barbosa, a novela terá roteiro de seu neto, Bruno Luperi, que foi um dos co-autores da novela Velho Chico. O Guia Negro e os sul-mato-grossenses querem saber se a novela trará atores do Pantanal, com seus sotaques, cor e história. Sim, a maior parte das pessoas que moram na região são negros, além dos povos indígenas, e queremos vê-los assim na tela.
Corumbá, que é a maior cidade da região, e um dos maiores municípios do Brasil, exatamente por abrigar em sua área a planície pantaneira, tem 71% de pessoas que se consideram pretas ou pardas. O local de gravação da novela, aliás, ainda não foi definido. A primeira versão ocorreu na fazenda Rio Negro, que em Miranda, município vizinho a Corumbá. O autor da novela diz que estuda locações nos dois estados (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), mas que deve decidir por um deles.
A atriz Rane Abreu é apontada por produtores da região como um dos nomes naturais a estar na produção. Ela defende que a questão racial precisa estar presente no folhetim e que a emissora vai precisar se adequar ao momento em que esse tema está em visibilidade e cometa a indicação: “Não sei se sou uma atriz com características para TV. Tomara que tenham sensibilidade de ter atores locais”, ressalta.
O ator Bruno Moser, que nasceu Corumbá e é conhecido em Campo Grande (MS) por atuar em filmes, comerciais e peças de teatro, espera que a produção utilize mão de obra local. “É uma oportunidade pra classe e pra quem trabalha com isso há tempos. Acredito que eles utilizarão mão de obra local por questões financeiras e de logística”, aposta. Bruno afirma ainda que é importante que “Pantanal” aborde temas políticos que envolvem a conservação ambiental, como reforço da importância do bioma para o país e para o planeta, contribuindo para projetos que visem a preservação da natureza.
Para Salim Haqzan, corumbaense, ator e diretor de teatro e fundador do Grupo de Experimentos e Truques Teatrais, a escolha da protagonista precisa levar em consideração a “beleza local”. Ele questiona se a Globo vai povoar a novela de atores brancos como ocorreu em “Segundo Sol”, que se passava na Bahia e com “Sol Nascente”, que conta história da migração japonesa, ou ainda “Alma Gêmea” que trazia a atriz branca Priscila Fantin como a protagonista de origem indígena. “Será que conseguiremos nos ver. Estamos sempre aquém, nosso biotipo é sempre desconsidera, nunca aparece nessas produções que vêm para cá”, ressalta.
Com ascendência árabe, ele diz que chegou a fazer testes para a novela “América”, que teve uma passagem na região, mas os escolhidos para representar pantaneiros eram pessoas brancas de olhos azuis. Salim ressalta que quando as produções chegam à região já tem elenco pré-definido. “É importante conhecer a linguagem pantaneira, a forma de falar. Esse tempo ‘brejeiro’ que o pantaneiro tem. Provavelmente, vamos assistir a uma novela Pantanal com sotaque carioca”, considera. O ator ressalta que em 1990 não havia a percepção do que está sendo vivido hoje em relação à representatividade e a repercussão da internet. “Na época em que foi exibido, eu me identificava com as imagens, mas não com o texto e com a história”, afirma.
Entre os atores de Mato Grosso do Sul, aponto alguns que não poderiam deixar de estar nessa novela, como Espedito Montebranco, Rane Abreu (poderia ser a mãe de Juma), Fernando Cruz (Velho do Rio), Patrícia Andrade (que tem a mistura de negro e indígena característica da região), além de Arce Correa, ator pantaneiro, que interpreta a personagem Maria Quitéria há anos e tem veia cômica aflorada. Gabriel Sater, que é filho de Almir, e já esteve na Globo na novela “Meu Pedacinho de Chão” e é candidato a substituir o pai, que interpretava um violeiro na primeira versão.
O autor da novela, Bruno Luperi, deu entrevista ao Midiamax afirmando que “Pantanal” faz parte do seu imaginário infantil e diz que busca que na nova versão as belezas não sejam “industrializadas”, “pré-moldadas”. “Temos a obrigação de encontrar essa tintura brasileira, rostos diferentes, um sotaque novo. Não dá pra garantir que a gente encontre um novo ‘Almir Sater’, é um fenômeno que ocorre de tempos em tempos, outra parte que estamos olhando com carinho é a parte musical. É o momento da cultura pantaneira, da moda de viola, da música raiz”, afirmou. Luperi garantiu que ‘não tem como fazer Pantanal fora do Pantanal” e que os artistas locais terão oportunidades, como ocorreu em Velho Chico.
Aguardamos ver rostos pretos e pantaneiros na produção. Segundo Mauricio Stycer, do UOL, se não houver imprevistos, “Pantanal” entrará no ar em setembro de 2021, logo após “Um Lugar ao Sol”, de Licia Manzo, sucessora de “Amor de Mãe”.
Confira a abertura da novela:
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Sou matogrossense , pantaneira, tenho DRT, tenho muita vontade de participar de séries, novelas e algo teatral da minha região! Aguardo contato. 18996293797 Vera Paina. Obrigada.
Também sou ator sul-mato-grossense. Espero que eles olhem e escalem os atores da região. Muito bom o texto e obrigado por falar sobre isso, é importante que as grandes produtoras se atentem e olhem para o Brasil além do Eixo RJ-SP.
Obrigado! Importante mesmo que esse debate ganhe força!