O Airbnb é para negros?

Você já teve a oportunidade de viajar pelo país ou mundo a fora? Se a sua resposta for positiva: quantos turistas negros você já viu ao seu redor? A resposta (que a redação sabe bem qual é) revela um racismo estrutural presente não só por aqui, como em diferentes países, e essa é uma realidade pouco notada pelos viajantes. A hostilidade com negros se expande também para experiências vividas nas plataformas de hospedagem, como a história de Carlos Humberto da Silva.

Um hóspede branco não quis se hospedar na casa de Carlos Humberto após ver que ele, o anfitrião, é negro e possui reservas menores do que a de outros amigos brancos, ainda que ofereça um apartamento bem melhor. O caso, que envolve o Airbnb, é conhecido pela comunidade negra e estimulou a criação da Diáspora Black, plataforma de hospedagem criada a partir de uma resposta a um mercado excludente de um potente nicho de consumidores negros.

Carlos Humberto é sócio-fundador da Diáspora Black, empresa que vende acomodações, experiências, viagens e cursos de pessoas negras, e costuma dizer que já conhecia o racismo de perto, mas que quando ele migrou da rua para a sua casa “foi muito doloroso”. O episódio está longe de ser isolado, há diversos relatos de pessoas negras que não conseguiram reservar suas casas no Airbnb. E a rejeição à população negra neste tipo de plataforma não é um fenômeno apenas brasileiro.

Um estudo da Universidade de Harvard concluiu que hóspedes com nomes tipicamente afro-americanos têm 16% menos chances de serem aceitos na plataforma de hospedagem do que candidatos com sobrenomes identificados como de pessoas brancas. No entanto, o Airbnb, que além das hospedagens oferece experiências turísticas, iniciou ações para aumentar a inclusão de pessoas negras na rede. Em Nova York, por exemplo, há opção de fazer compras no Harlem com uma antropóloga negra.

O posicionamento do Airbnb sobre o caso

Ao tomar conhecimento do caso, o Airbnb explicou que mantém uma rigorosa política de não discriminação e que o descumprimento das regras pode resultar na suspensão da plataforma e até responsabilização legal.  Desde 2016, mais de 1,3 milhão de pessoas se recusaram a concordar com a Política de Não Discriminação da empresa e, por isso, tiveram o uso negado ou suas contas canceladas. Sobre o caso de Carlos Humberto, a plataforma alega que são necessários mais dados para avaliar melhor a ocorrência.

O outro lado da moeda

Em contrapartida, cada vez mais empreendedores negros têm se engajado para oferecer um turismo mais acessível à população negra. Sendo essas, junto com o Diáspora Black, opções mais justas para uma clientela que busca pelo pertencimento nos espaços turísticos. Entre elas, o público pode conferir: a guia Gabriela de Palma, super host das experiências vividas com a Pequena África, reduto da história negra na cidade do Rio de Janeiro; a Caminhada São Paulo Negra, idealizada por Guilherme Soares, que visa resgatar histórias negras que estão por toda parte da cidade de São Paulo. “Eu organizo a caminhada, que nunca foi comprada por plataformas como o Airbnb. Pode ser por ter datas específicas, ou por ter esse “nome forte” que espanta os menos dispostos a debater a questão racial”, explica Guilherme.

O que os usuários dizem nas redes

@umpretoporaí: No Rio Grande do Sul já tive duas reservas canceladas e o motivo foi “infelizmente a casa não está mais disponível”. Fora do Brasil não tive problemas, em Paris me hospedei na casa de um Camaronês, me senti MUITO à vontade!

@euemeupixaimpora:
Quando fui pra Europa ano passado eu tentei hospedagem no Couchsurfing. Todos negaram. Escrevi pra umas seis mulheres. Ninguém aceitou. Eu nem dou moral pra essas plataformas mais.

@afropolitanau:
Resposta: Não. Sempre que eu vou tenho que me explicar num longo parágrafo sobre quem eu sou e por que estou ali. Ferramenta feita pra brancos.😐

@viajando_de_busao_pelo_mundo: Sem contar quando reservamos e a pessoa na hora vê que somos negras e fica com uma cara estranha! Isso aconteceu comigo! Após tentei reservar a mesma acomodação e ela cancelou! Aí que fui entender!

@maristelagripp: Sempre usei e nunca tinha pensado nisso. Gostei da reflexão.
A questão que fica é: o Airbnb é para negros?

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Guilherme Soares Dias

Jornalista, consultor, empreendedor e amante de viagens

Artigos: 37

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