O Prêmio Potências chega a quarta edição homenageando a cantora Ludmilla. A premiação realizada pela Music2Mynd, agência de marketing de influência, ocorre em 5 de novembro no Teatro Santander, em São Paulo, e vai reconhecer diversos talentos negros e favelados – em vida – pelos seus trabalhos.
O idealizador do prêmio Julio Beltrão conversou com o Guia Negro para dar mais detalhes:
GN: Ludmilla será a grande homenageada do prêmio em 2024. Por que ela foi a escolhida?
Julio: Ela é uma cantora admirada, que está completando 10 anos de carreira. Eu tenho certeza de que há uma ascensão de carreira: ela é uma artista, uma mulher preta, bissexual… Ela fez muito pra essa construção. Fizemos o convite para a Ludy, que foi muito embasado no que a voz dela ecoa, para além da carreira dela. O clipe “rainha da favela” cita algumas mulheres que chegaram antes dela no funk. Nossa ideia do prêmio em homenageá-la é, justamente, reconhecer ela que uma das maiores artistas negras hoje.
O Brasil ainda tem muito o que fazer pra essa construção do pop, do samba, do pagode, do funk e por meio dela vamos homenagear também outras pessoas. Sem dúvida nenhuma, Ludmilla integra muito bem esse lugar. O Prêmio Potências tem um pilar desde o primeiro dia: exaltar e homenagear pessoas pretas em vida. Foi assim com dona Elza Soares, foi assim com Glória Maria, todas elas receberam seu troféu em vida e a nossa ideia é continuar essas homenagens. Neste ano, nossos patrocinadores são a Nivea e a Fenty Beuaty, da cantora Rihana.
GN: Eu ia perguntar exatamente isso: por que que o Prêmio Potências surgiu e o que ele tá pensando daqui para o futuro?
Julio: O prêmio nasce num momento em que o mercado vê uma diminuição de publicidade com pessoas pretas e faveladas. Ele nasce de uma inquietação também de alguns erros gigantescos de algumas outras premiações, de apagamento, silenciamento, esquecimento de grandes talentos pretos. A ideia nasce no ano em que a Ludmilla foi esquecida e chamada de “macaco” em uma premiação nacional. Por isso, que a nossa história se funde.
Também teve outro talento preto que foi esquecido na premiação e não tinha nem acesso ao local que estava sendo homenageada como uma das indicadas.
Hoje, eu fico feliz de estarem nascendo outros prêmios e também de prêmios que já eram estabelecidos mudarem sua fórmula, uma vez que os brancos estão aí com diversos prêmios se auto-premiando. E nossa ideia com o Prêmio Potências é que a gente possa exaltar a cultura preta e favelada, potencializando ainda mais o que a gente tem de melhor que é a excelência preta.
GN: A gente tem essa mudança no mercado publicitário, onde tem mais pessoas negras nas propagandas. É visível quando você vê uma campanha, que essa presença está ali, pelo menos entre os modelos. Você acha que essa mudança já aconteceu ou ela está acontecendo ainda?
Julio: Infelizmente, ela tá retrocedendo. Há uma pesquisa que mostra que tivemos uma diminuição de quase 4% de talentos pretos. Para quem ouve, parece muito pouco. Mas quando você vai colocar na cadeia inteira, em que as pessoas negras representam 30% do geral de campanha, percebemos que essa queda não é pouca.
Essa inquietação e o Prêmio Potências é justamente para fazer essa reflexão e provocar para que isso não diminua ainda mais. A gente sabe que hoje há talentos pretos na tela, que tem alguns talentos pretos que têm campanhas sendo pensadas para eles como, por exemplo, o Paulo Vieira. Mas também sabe que dentro da blogosfera, de diversos influenciadores, criadores e talentos pretos e favelados, isso representa muito, muito pouco.
GN: A gente vê essa representatividade, talvez na frente das telas, como que é isso fora das câmeras? Quem pensa a campanha, quem é o gerente dessa campanha, quem é o redator… Essas pessoas também são negras?
Julio: Os programas de políticas públicas fizeram com que a gente tenha cada vez mais talentos pretos nas agências, nas empresas. Mas ainda é muito pouco e sabemos que nos cargos de liderança esse número é extremamente baixo. Ainda continuamos apresentando para decisores brancos, então, por isso, que é muito importante refletir sobre a quantidade dos programas, a quantidade de pessoas pretas e faveladas em lugares de destaque e de liderança. Por que aí, sim, a gente vai ter a publicidade mais diversa, por que somos uma cadeia, né?
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