O mundo todo teve que ficar confinado neste 2020 por conta da pandemia do coronavírus. Essas, aliás, foram duas das palavras mais faladas do ano. Mas teve um outro assunto que entrou para as pautas de discussões e que fez muita gente que nunca tinha discutido sobre parar e se rever. O racismo ganhou debate global após a morte de George Floyd nos Estados Unidos. E, por isso, temos chamado 2020 de o “o ano do antirracismo”.
A partir da morte de George tivemos:
1 – Estátuas de escravocratas derrubadas em vários países;
2 – Manifestações por black live matter ocorreram em diferentes cidades;
3 – Pessoas negras ocupando o perfil de pessoas brancas;
4 – Algumas pessoas brancas entendendo pela primeira vez que precisam estudar sobre questões raciais e rever privilégios
5 – Algumas pessoas negras despertando para o tema e passando a se informar e fazer parte dessa luta
6 – Militantes mais antigos lembrando da longa trajetória do movimento negro no combate ao racismo e enfatizando que o Brasil tem seus próprios George Floyds…
7 – Algumas empresas entenderam seu papel nessa luta e começaram a fazer ações
8 – Nunca se discutiu tanto sobre a questão racial nas redes
9 – Os acusados de matar George sendo liberados após pagar fiança milionária
10 – A primeira mulher negra sendo eleita vice-presidente dos EUA. Queremos Kamalah Harris presidenta!
Mas George Floyd não foi o único fato que marcou o debate:
1 – No Brasil, João Alberto foi morto espancado no Carrefour. O que fez a rede de supermercado criar um conselho para debater e agir sobre o tema. No Recife, Miguel, de 5 anos, morreu após cair do nono andar. Mirtes, a mãe, foi passear com os cachorros da patroa e deixou o menino aos cuidados de Sari Corte Real, primeira-dama de Tamandaré. Ela foi presa por homicídio culposo e solta após fiança de R$ 20 mil. Também perdemos o pantera negra Chadwick Boseman
2 – Neymar se entendeu negro a partir de um racismo no futebol. O volante Gerson, do Flamengo, também disse ter sofrido racismo em campo.
3 – Silvio Almeida, Djamila Ribeiro e Emicida foram ao Roda Viva falar sobre questões raciais
4 – A diretora do Nubank também foi ao programa da TV Cultura e disse que era difícil contratar negros e que não queria nivelar por baixo. Após repercussão negativa, a empresa teve que se rever e fazer um programa de diversidade. A Magazine Luiza lançou programa de contratação com foco em pessoas negras, foi questionada judicialmente e venceu
5 – O tema do colorismo (classificação de pessoas negras a partir do tom de pele) foi pautado, principalmente, a partir de discussões e declarações da filósofa Djamila Ribeiro
6 – Foi o ano de consolidação da mídia negra e surgimento de novos canais. A Trace Brazuca ganhou canal próprio. A Wolo TV lançou sua plataforma de streaming e a série Casa da Vó, protagonizada por Margareth Menezes. A Afro TV estreou no instagram trazendo informação e entretenimento. Alma Preta, Mundo Negro, Notícia Preta, Influência Negra e Guia Negro se consolidaram. O Ceará Criolo surgiu. A TV Globo pautou a questão racial a partir de um Globo Repórter, que reexibiu um debate do programa Em Pauta somente com repórteres negros, após edição que discutia racismo só com brancos ser questionada.
7 – O presidente da Fundação Palmares (a não citação do nome é proposital) negou o racismo, Zumbi, o cabelo afro e várias personalidades negras homenageadas pelo órgão criado para valorizar a negritude e combater o racismo. O presidente e o vice-presidente da República negaram a existência do racismo…
8 – O Museu Afro demitiu funcionários no começo da pandemia e ganhou novo diretor no final dela
9 – Lewis Hamilton se sagrou o maior campeão de todos os tempos na Fórmula 1 e levou o símbolo do antirracismo, o punho cerrado, para o pódio
10 – Emicida lançou Amarelo e fez branquitude participar do debate e a negritude chorar com a beleza e potência do nosso povo. Beyounce ressignificou referências e mostrou por que é chamada de rainha com Black Is King.
Enquanto isso, por aqui:
1 – Começamos o ano sendo rejeitados como blog de viagem pela Rede Branca de Blogueiros de Viagem (RBBV – a sigla é essa, a redenominação do que significa é por nossa conta);
2 – Ocupamos perfis de blogueiros brancos e entramos para o grupo de whatsapp Potências Negras;
3 – Participamos de podcasts de viagem e fomos destaques em matérias sobre o tema de viagem e diversidade no programa do Zeca Camargo, no Bom Dia São Paulo, no MSTV1, na Folha, no Estadão, no Globo, no UOL, no G1… Mas a matéria mais linda foi escrita por Julia Almeida para a Revista Afirmativa (leia aqui);
4 – A Caminhada São Paulo Negra foi perseguida pela polícia, que depois teve alunos de um curso da PM fazendo o roteiro;
5 – Apontamos o dedo para a Abav, maior feira de viagem que não traria o tema do afroturismo, e eles foram obrigados a nos pautar;
6 – Junto com outros atores que atuam no turismo formamos a rede de afroturismo;
7 – Palestramos no Afropunk,, no Congresso Mundo é nosso de viajantes negros, no Afropresença, entre outros;
8 – Redenominamos o Centro de Convenções de Salvador (que tem o nome de ACM) para Luiz Gama. Foi uma fala durante uma palestra no local, mas reverberou;
9 – Fizemos duas temporadas do Guia Negro Entrevista, bate-papo com personalidades negras que agora vai ao ar no Catraca Livre. Uma temporada em Salvador e outra em São Paulo. Rompemos com a Carta Capital, após a revista considerar que alguns dos nossos entrevistados não eram relevantes. Apontamos a falta de diversidade na cobertura e na equipe e seguimos nosso caminho.
10 – Questionamos a página @repostandoomundo sobre a ausência de pessoas negras em suas postagens. Fomos bloqueados. Mas depois adicionados. Conversamos para apontar ações e a página passou a fazer posts com pessoas negras.
Continuamos nossas lutas e pautas em 2021. Não somos moda ou pautados por um ano apenas. Por um mundo sem racismo e por pessoas negras potentes!
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