O bumbo, este grande tambor, é o centro. Com seu som grave, marca a cadência da percussão, acompanhada do canto, e dita o movimento da dança, que se manifesta em roda. Nascido no continente Africano e associado à cultura bantu, seu percurso pelo Brasil acompanha os negros escravizados e seus descentes.
A migração da população negra para o centro-oeste de São Paulo com o intuito de trabalhar nas plantações de café, impactou as práticas socioculturais da região, trazendo consigo suas crenças e manifestações culturais. Entre elas, o Samba de Bumbo, que apresenta uma fusão de outros estilos como samba de roda e o jongo, já estabelecido nas zonas cafeeiras do Rio de Janeiro e do nordeste, sobretudo na Bahia.
Samba Rural e ligado à religião

Afro-brasileiro, o samba de bumbo é um estilo de samba rural de São Paulo e sua vivência tem forte ligação com as manifestações religiosas das populações quilombolas, como a Festa do Senhor Bom Jesus de Pirapora (Pirapora do Bom Jesus), Folia de Reis e Congadas, Festa de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.
Outra data importante é o 13 de maio, dia da assinatura da Lei Áurea. Desde 1888, o Samba de Cururuquara, um dos principais grudos de samba de bumbo do estado, fazem uma roda de samba especial que celebra Preto Velho e a abolição institucional da escravidão.
É também neste mês de maio que o samba de bumbo faz aniversário como manifestação cultural reconhecida pelo IPHAN. Em maio de 2024, o Conselho Consultivo do Patrimônio registrou o samba de bumbo, manifestação cultural típica da grande São Paulo, como Patrimônio Cultural Brasileiro. O dossiê também reconhece outras vertentes que ocorrem simultaneamente nestes territórios, como o Samba de Umbigada, Samba de Lenço, o Samba Caipira, o Samba de Terreiro, entre outros. O pedido de registro foi apresentado em 2013 pelo Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais (FCPT).
De acordo com dossiê apresentado pelo FCPT, existem em torno de 25 grupos de samba de bumbo espalhados por diversas cidades da grande São Paulo, principalmente Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba, Carapicuíba, Vinhedo, Piracicaba, Mauá, Campinas e Itu. Entre eles, o Samba do Cururuquara (13 de maio), Samba de Roda de Pirapora, Samba de Dona Aurora e o Samba-Lenço de Mauá.
Tema de documentário
Toda essa história é documentada no filme “Griôs: Memória Negra”, produzido pela Kala Filmes, do cineasta Washington Deoli. Deoli integrou a equipe do documentário “Os Racionais MC’s” e o curta-metragem “RAP – Revolução Através da Palavra”. Para o filme ‘Griôs”, conta com a produção executiva de Ronni Big, pesquisador e gestor cultural.
A produção mergulha na história, cultura e expressões artísticas negras do interior de São Paulo, com foco no samba de bumbo e de umbigada, praticada por comunidades centenárias nas regiões de Santana de Parnaíba, Barueri e arredores.

O documentário traz entrevistas com pessoas fundamentais para a resistência e memória dos grupos O Samba do Cururuquara, Bloco Abayomi e Batuque de Umbigada. Não à toa, leva o nome de “Griô”, por focar nas lideranças centenárias e mostrar como essas práticas resistem ao tempo, mantidas vivas por mestres, mestras e jovens que assumem o compromisso de preservar o legado dos seus ancestrais.
É possível assistir o documentário no youtube da Kala Filmes:
https://shorturl.fm/YvSxU
https://shorturl.fm/oYjg5
https://shorturl.fm/FIJkD