‘Maria Felipa’ revisita a Independência do Brasil e vence maior prêmio de videoclipe do país

Mulheres com uma indumentária fantasmagórica, empunhando panelas e armas, vagando pela escuridão da madrugada.

A prática se tornou uma manifestação cultural em Saubara, cidade do Recôncavo baiano, mas foi também uma estratégia de guerra no século 19 nas lutas pela Independência do Brasil na Bahia. Protagonizada por mulheres. 

É essa história que o multiartista Xauim resgata no clipe ‘Maria Felipa’, premiado no Music Video Festival (MVF), o maior festival de videoclipes do Brasil, na categoria “Revelação em Direção Nacional – Escolha do Júri”.

Gravado nas ruas de Saubara, o videoclipe entrelaça duas narrativas: a emboscada contra as tropas portuguesas, liderada por Maria Felipa, e o encontro com as Caretas do Mingau, essa manifestação cultural das mulheres saubarenses. 

“Receber um prêmio na mesma noite em que artistas como Liniker e Anitta também foram premiadas foi muito potente. E teve um sabor especial saber que eu estava ali defendendo um trabalho que joga luz sobre a história do nosso território. Viva Maria Felipa! Viva o 2 de Julho!”, diz Xaum, que assina tanto a música quanto a direção do vídeo. 

A cantora Liniker venceu na categoria “Edição Nacional – Escolha do Júri” pelo clipe “Tudo”. Já Anitta levou o prêmio “Figurino Nacional – Escolha do Júri” pelo clipe “Funk generation”. 

O cantor, compositor e diretor Xauim. Crédito: divulgação

A escritora e historiadora Vanessa Orewá conta que as mulheres das Caretas do Mingau empreenderam formas de organização, sistematização e estratégia de guerra. Vestindo panos brancos parecendo fantasmas, elas assombravam os soldados que cruzavam seu caminho. Ao mesmo tempo, conseguiam levar alimentos e informações para as tropas baianas. 

“Essas mulheres representam a revolução na historiografia baiana, marcando a participação feminina nas guerras de Independência do Brasil na Bahia”, diz Orewá. 

Maria Felipa contribuiu para a independência da Bahia e do Brasil em 2 de julho de 1823 ao lado de Joana Angélica e Maria Quitéria, numa revolta liderada pelo povo, bem diferente da orquestrada pela elite branca. 

“Maria Felipa é a personificação das histórias que resistem nas margens, que não foram incluídas no projeto oficial de nação, mas que permanecem vivas na cultura popular”, diz Xauim.

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Thais Folego

Sou um corpo negro no mundo buscando como me descrever para além do perfil profissional - uma coisa muito sudestina, né (risos). Enquanto não encontro essa poesia, começo contando quem sou a partir de onde falo: sou uma pessoa negra, mulher, cisgênera, vinda de Mauá (periferia da região metropolitana de São Paulo). Venho de uma família interracial, trabalhadora, amorosa e cheia de contradições: meu pai é preto, minha mãe é branca e isso pauta muito da minha vida. Sueli Carneiro é minha pastora e nada me faltará. Sou associada e colunista da Revista AzMina, membra da Marcha de Mulheres Negras de São Paulo e da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo (Cojira-SP).

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