Afroturismo ganha coordenação dentro da Embratur

A Embratur, Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, formalizou a criação da Coordenação de Diversidade, Afroturismo e Povos Indígenas. Quem assume a pasta é Tania Neres, integrante do Coletivo de Afroturismo e atuante no turismo há mais de 30 anos. Sob o guarda-chuva da Gerência de Experiências e Competitividade Internacional da Embratur, ela comandará o desafio de valorizar a diversidade no Brasil em todas as ações promocionais da Embratur. “Essa coordenação é um marco na história do Brasil. Uma mulher negra na Coordenação de Diversidade, Afroturismo e Povos Indígenas, eu espero comemorar, em breve, muitas conquistas dentro da Embratur”, ressalta Tania.

Tania é graduada em Administração de Empresas e pós-graduada em Planejamento, Marketing e Ensino da Cultura Afro, duas vezes eleita entre as 100 pessoas mais poderosas do setor pela Revista Panrotas, fez parte do Comitê de Afroturismo de Salvador, participou do projeto Destinos Turísticos Inteligentes (DTIs), além de ocupar o cargo de Gerente Comercial da Bahiatravel.

A nova integrante da Embratur já fez vários dos roteiros do Guia Negro e é parceira na militância por um turismo mais diverso. Ela conta sobre como será sua atuação:

Diversidade

Diversidade é conscientizar que todos devem ter respeito, empatia e inclusão dentro dos espaços. Precisamos focar, principalmente, no atendimento, receptividade, onde as pessoas possam se sentir acolhidas, que elas possam entender e saber que têm tranquilidade para circular num hotel, aeroporto, sem sofrer qualquer tipo de preconceito. A diversidade é bem ampla. O foco será inclusão, segurança e respeito.

Afroturismo

Afroturismo é a história que a história não conta. O afroturismo é movimento, é comportamento e é um dos maiores movimentos no mercado mundial contra o racismo. Estamos pensando seriamente num turismo mais inclusivo, antirracista, onde todos os equipamentos do setor possam nos enxergar e deixar que ocupemos todos os espaços. Quando você conhece, viaja ou se movimenta dentro de espaços onde existe um protagonismo negro, você está fazendo afroturismo, quando você come acarajé, você está fazendo afroturismo. Afroturismo é gastronomia, música, dança, cultura. Convido todos a participarem de afroturismo, pessoas brancas e negras.

Povos originários

Os povos originários são a nossa história, eles fazem parte de toda a nossa herança ancestral. Eles precisam de muito mais do que respeito, precisam de cuidado, precisam também que a gente entenda que da porta para dentro quem fala é quem vive, quem vive, quem sente. Essa contribuição que vamos fazer por eles é ouvir primeiro e, a partir daí, seguir junto com eles na promoção do turismo.

Desafio

O grande desafio para toda a comunidade que vamos trabalhar é saber que estamos num país que, infelizmente, tem muito racismo e homofobia. Sabemos dos altos índices de morte de pessoas por crimes homofóbicos e racismo. Sei que vou enfrentar muitas pessoas que não querem que eu fale sobre isso, mas sabemos também que temos pelo menos 54% da população que estão do meu lado. Nós não somos minorias, somos maioria invisibilizada. Não somos minorias, nunca fomos. Quanto aos povos originários, é importante respeitar o espaço que essas pessoas precisam ter. Vamos ter que trabalhar com outras instituições para que a gente possa protegê-los. São desafios anteriores à promoção do turismo. Precisamos falar de questões sociais. É um desafio enorme, estou pronta e sei que tem muita gente ao meu lado.

Legado

O maior resultado que espero é a gente poder começar a entender que precisamos ser um público diverso. O Brasil é diverso. Só de ter maioria de mulheres dentro da Embratur já é motivo de felicidade, mas a gente pode transformar isso em todas as secretarias. O objetivo é a gente poder olhar e se sentir representada, sobretudo nos lugares de liderança. Porque a gente sabe que nos lugares de subserviência, de serviços, de alegrar, a gente já está. Mas e no de decisão? No lugar onde a gente precisa dizer o que a gente quer ser, como a gente gosta de ser tratado, esse é o grande legado. Dentro de um futuro breve, que a gente não precise ficar falando sobre histórias de escravidão, racismo etc. Que a gente possa falar sobre coisas muito mais importantes, como o desenvolvimento do turismo na sua diversidade. A partir daí, fazer com que o mundo inteiro nos enxergue como um país diverso. É muito difícil a gente ver povos africanos pegando um voo, chegando ao Brasil e achando que estão chegando na Europa. Chegando aos hotéis e não se identificando com pessoas, porque a maioria dos negros só está servindo. Então, a gente precisa mudar isso, mudar essa chave e espero que esse seja meu legado nesse futuro próximo.

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Redação

O Guia Negro faz produção independente sobre viagens, cultura negra, afroturismo e black business

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