Afroviajantes preferem viagens para capitais do Nordeste e com história negra

As viagens estão na pauta das pessoas negras no Brasil e a preferência dos afroviajantes é por capitais da região Nordeste e com forte história negra presente. Uma pesquisa encomendada pela empresa de consultoria em diversidade AFAR Ventures para a startup de pesquisa online, Painel BAP, o primeiro painel de consumidores e pesquisa online afrobrasileiro, realizada entre os dias 12 e 17 de dezembro de 2021, com 1067 internautas em todo Brasil (que se autodeclaram pretos ou pardos), aponta que 64% dos entrevistados pretendem realizar pelo menos 1 viagem de férias nos próximos 12 meses.

Os dados apontam ainda que o Guia Negro é uma das fontes de consulta dos afroviajantes interessados em fazer novas viagens. Entre os entrevistados, 15% dizem conhecer a plataforma e 20% já compraram algum produto ou serviço. Os números sinalizam que esse público está disposto a viajar para locais com representatividade, querem buscar suas raízes nesses destinos e podem ser um caminho para aquecer o mercado turístico nacional (54% querem ir para um destino afro após maior flexibilização das medidas de enfrentamento à pandemia).

Dos três principais destinos para as próximas viagens sinalizados pelo público entrevistado, Recife e São Luís aparecem com 20% da preferência dessas pessoas, seguido de Maceió com 19%. Salvador aparece na quarta posição com 18%, entretanto é o destino que já foi mais visitado entre os entrevistados (24%), sendo esta capital o local preferido para os jovens-adultos entre 25 e 29 anos. O Rio de Janeiro aparece na quinta posição com 14%.

Todas as cidades desejadas pelos afroviajantes, segundo a pesquisa, possuem forte história negra. Recife é a capital do frevo, do maracatu e possui o Museu da Abolição, estátua de Zumbi e eventos como a terça afro, que ocorre no Pátio de São Pedro e reúne afroempreendedores e apresentações culturais. Vizinha da capital, Olinda tem um roteiro de afroturismo chamado Caminhada Olinda Negra, realizada pelo Alafin Oyó em parceria com o Guia Negro. São Luís tem 74% da população negra e é palco do tambor de crioula, bumba meu boi, da primeira romancista negra do Brasil, Maria Firmina dos Reis, e do maior quilombo urbano das Américas: o bairro da Liberdade. A capital maranhense recebe o Caminho Ancestral, realizado pelo Instituto Da Cor ao Caso, em parceria com o Guia Negro.

Já Maceió tem praias lindas, um mercado municipal efervescente, além de estátuas de Ganga Zumba. O passeio Andança Negra Maceió, da Alagoas Cultural, leva para explorar lugares como o Instituto Geográfico e Histórico de Alagoas, onde estão peças apreendidas em terreiras pela polícia no começo do século 20. Maceió também é a porta de acesso para Palmares, maior símbolo da resistência do período da escravização e que recebe uma viagem anual do Guia Negro, em parceria com Brafrika Viagem e a Diaspora.Black.

Salvador, por sua vez, é considerada a meca negra, um lugar que todos os viajantes negros precisam ir, pelo menos, uma vez na vida. A capital baiana tem 80% da população negra, praias como o Solar do Unhão e Ribeira, além do Museu Afro Brasileiro e do Pelourinho, onde há apresentações culturais. Na cidade, o Guia Negro organiza passeios como a Caminhada Salvador Negra, Curuzu-Liberdade Tour, Suburbana Tour, Nordeste Tour e Passar uma Tarde em Itapuã.

O Rio tem 49% da população negra é berço do samba e tem a feijoada como um dos seus pratos típicos. Por lá, o samba da Pedra do Sal e os novos empreendimentos negros são alvo dos desejos dos afroviajantes, que também costumam ir à Barraca do Rasta, próximo ao posto 1 no Leme. Na capital fluminense há passeios como Pequena África, Heranças Africanas em Madureira e Museu do Samba, realizados pela Sou Mais Carioca e Guia Negro.

Entre os destinos internacionais desejados pelos afroviajantes, estão os países africanos como África do Sul, Angola e Nigéria, além de Jamaica, que fica no Caribe e é marcada pela diáspora africana e cultura negra.

Mudanças pós-pandemia

A pesquisa revela também que houve mudanças nos critérios de escolha dos destinos de viagens nacionais. Para 7 em cada 10 respondentes a maior preocupação está em como a cidade enfrentou e está enfrentando a pandemia. Para 55% dos entrevistados, a maneira de se hospedar terá mudanças, principalmente para os 62% que relatam que antes da pandemia se hospedavam em hotéis, agora buscam informações sobre os protocolos sanitários que estão sendo aplicados para desinfecção dos quartos e o tráfego nas áreas comuns.

Entre os entrevistados, 84% consideram o cumprimento dos critérios sanitários é extremamente importante, 69% importante e 15% muito importante. Já quanto à exigência do certificado da vacinação, apenas 4% dos respondentes declaram que não vão tomar nenhuma dose da vacina. Para alguns dos entrevistados, o índice de vacinação e as medidas sanitárias adotadas são fatores determinantes para que turistas realizem viagens.

“A pesquisa mostra o poder do afroturismo, no Brasil. As prefeituras, empresas aéreas, hotéis e demais participantes do trade turístico precisam se comunicar melhor com esse público. A demanda de representatividade e por experiência inclusiva em viagem é grande no setor do turismo. Países como África do Sul, Gana e Estados Unidos já possuem grandes investimentos nesse sentido”, diz Paulo Rogério Nunes, um dos sócios da AFAR Ventures.

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Redação

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