Viajo porque preciso

Desde pequeno experimentei o gosto de viajar. Minha avó percorria as cidades do Mato Grosso do Sul para levar bolo, música e animação para os aniversários dos irmãos espalhados pelo Estado. Ela é (ainda faz isso) quase uma festa ambulante. Eu a acompanhava nas andanças. Ficava admirando a sucessão de pastos, nuvens e cupins. Via desenhos nisso tudo e ficava imaginando como era a vida nas pequenas casas na beira da estrada… Me surpreendia com os sotaques, clima e diferenças entre as cidades. Adorava esse ir e vir.

Sou jornalista, mudei de Campo Grande, onde nasci, para São Paulo em 2009. Tenho 32 anos e venho de uma família com pouca (nenhuma?) grana. Sou independente financeiramente e juntei cada centavo para a viagem sozinho e fui planejando estar sem trabalho por um período longo, por escolha.

Nos primeiros meses/anos de capital paulista sentia uma felicidade imensurável ao pagar o aluguel. Eu não seria despejado e ficaria pelo menos mais aquele mês. Com o tempo, fui pensando que queria sentir outro tipo de felicidade. Não queria ficar a vida toda feliz por quitar um aluguel, uma parcela de carro ou apartamento. Queria ser feliz por investir em mim. Queria ganhar o mundo.

Fui conquistando meu espaço e chegando a sensação de saciedade com São Paulo. Não me propus novos desafios na cidade. Érika Ramos, uma grande amiga faleceu de um câncer raro aos 36 anos. A vida era finita, redescobri. Quis me mexer. Para onde ir? O que fazer que ainda não tinha feito? O que conquistar?

Passei a entender que curtia a vida que levava, mas queria desbravar outras vidas. Outros lugares. Fazer as viagens que não aconteceram por falta de tempo e/ou dinheiro. Decidi tirar um sabático. Parti em abril de 2016 com vontade de percorrer estradas. Não tenho e não tive respostas, destinos definidos, muito dinheiro, nem datas certas nas cidades, nem de retorno.

Num blog antigo, me definia assim: “Espero a grande abóbora, procuro o tesão perdido e escrevo no muro das obviedades. Crio dias, descubro pessoas, aprendo a aprender e busco desafios. O que me fascina são as pessoas e palavras, com as quais me divirto, trabalho, sofro e invento”.

Meu quintal é o mundo

 

 

 

 

 

 

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Redação

O Guia Negro faz produção independente sobre viagens, cultura negra, afroturismo e black business

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