Capela dos Aflitos será, finalmente, restaurada, garante Arquidiocese de SP

Após uma longa espera, a Mitra Arquidiocesana de São Paulo aprovou o projeto de restauro da Capela Nossa Senhora dos Aflitos, uma conquista da União dos Amigos da Capela dos Aflitos (Unamca), que liderou o movimento em prol da iniciativa. A Capela dos Aflitos, situada na Rua dos Aflitos, 70, no Bairro da Liberdade, é um patrimônio tombado pelo Município e Estado de São Paulo. Na década de 90, o local sofreu um incêndio – o que resultou em apenas uma reforma – no entanto, desde então, a Unamca vem lutando por melhorias adequadas ao espaço. 

O restauro é significativo para a história da capela por ser um patrimônio que resiste dentro de um bairro que sofreu gentrificação na década de 1920 e atualmente é conhecido pela população e cultura oriental. A partir disto, a história da construção social negra da região vem sendo progressivamente apagada. A Capela dos Aflitos é, portanto, um fio que ainda traz um pouco do passado sobre africanos e descendentes que viveram na Liberdade, durante os séculos 18 e 19.  

A história da Capela dos Aflitos 

A Capela dos Aflitos foi construída em 1779, quatro anos depois do Cemitério dos Aflitos, que funcionou até 1858 na região. Durante o período escravagista, enquanto pessoas brancas eram enterradas em igrejas, os negros mortos na forca ou em outros espaços eram destinados ao Cemitério dos Aflitos. Dentre eles, está enterrado Francisco José Chagas, o Chaguinhas, um cabo negro do Batalhão dos Caçadores e um dos líderes da revolta por não receber salários equivalentes aos dos militares portugueses. Sentenciado à forca por isso, a corda que o mataria arrebentou por três vezes, o que provocou apelo do público por sua absolvição, que foi negada. O grito de liberdade por populares que assistiram a execução gerou o nome do Bairro da Liberdade. Por este fato, Chaguinhas possui devotos até hoje.  

Na capela, uma porta de madeira recebe pedidos de milagres para o cabo, que não é reconhecido como santo pela Igreja Católica. Os visitantes depositam papéis com pedidos no local e batem três vezes na porta – o mesmo número que a corda que o mataria arrebentou. Na grade do templo há faixas em agradecimento por graças alcançadas. O velário da Capela tem uma energia bem forte. Outra curiosidade é que, apesar de Chaguinhas ser conhecido como um cabo negro, é retratado em quadros presentes na capela, embranquecido e de cabelos lisos. 

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Joyce Nascimento

Jornalista por formação e atuação, desenvolve escritas a partir do que sente, do que vivencia e de suas pesquisas. Sua caminhada é também laboratório de informações. Sambista, ex-passista da Mangueira e do Paraíso do Tuiutí, e candomblecista, visa escurecer as coisas versando com a cultura de sua origem afro-brasileira e com povos tradicionais de matriz africana

Artigos: 18

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