Texto: Guilherme Soares Dias* | Edição: Nataly Simões | Imagem: Heitor Salatiel
“A mulher africana é a mãe da terra e como o continente e como as mães não pode ser rejeitada, nem negada”, afirma Melanito Biyouha, chef e empresária camaronesa que vive em São Paulo desde 2003. Ela vai comemorar o 31 de julho, Dia da Mulher Africana, fazendo o que sabe de melhor: cozinhar.
Desde 2007, Melanito está à frente do Restaurante Biyouz, localizado na região central de São Paulo, e serve pratos de diferentes países africanos. Ela diz que se considera uma mãe, que é chamada para acolher e para proteger o que gera. “Faço parte das pessoas que querem trazer outro olhar para as pessoas negras e africanas. Nossa consciência absorveu muita negatividade. Tudo que nosso povo trouxe foi absorvido, mas há uma parte ruim que mina nosso futuro”, considera.
O Biyouz nasceu justamente com o propósito de divulgar a cultura africana por meio da comida. Em 2007, quando Melanito morava em Brasília e trabalhava dando aulas de francês e como cabelereira ela visitou São Paulo, cidade referência por ter mais pessoas negras e migrantes africanos, mas percebeu que não tinha restaurantes africanos. “Foi um choque. Tinha restaurante italiano, francês, japonês, árabe. Então, comecei a ter esse sonho de ter um lugar onde poderia encontrar pratos da cultura do nosso povo”, conta.
O primeiro restaurante foi aberto na região da República e em 2019 a empresária abriu um segundo na Bela Vista. Melanito conta que como boa mãe, ama cozinhar e alimentar as pessoas com a melhor comida. A gastronomia africana é, segundo ela, baseada nos vegetais e natural. “Mesmo massas como o fufu são produzidas de forma agrícola”, explica.
A base dos alimentos são milho, arroz, produtos vegetais, folha de boldo e de espinafre. No cardápio do restaurante, os destaques são peixe, banana da terra e suco do fruto de baobá. Há também iguarias como o mafé, molho de amendoim, que é carro-chefe do Senegal e o quiabo, encontrado em vários países do continente. “Temos pratos de mais de 12 países. A gastronomia africana é internacionalizada por conta da escravização e da migração que levou essas comidas para outras partes do mundo”, afirma.
Herança materna
Melanito aprendeu a cozinhar com a mãe Ngo Bisse e com a avó Ngo Mboum. “Elas me ensinaram a cozinhar e me formaram uma mulher que consegue sustentar a casa e as pessoas. Não tive curso de gastronomia famoso. Meu curso é dentro da cozinha da minha mãe. Depois que comecei a me especializar”, recorda.
A chef conta que como ia na feira com a mãe e comprava ingredientes para cozinhar não teve dificuldade para montar o restaurante. “Cresci com essas receitas”, afirma. Entre elas, está o prato Ndole, molho de folha de boldo, amendoim cozinho e carne. “A folha de boldo é o carro-chefe dos Camarões. E o prato consegue disfarçar o amargor da folha”, destaca.
As influências da mãe e da avó também estão no menu do restaurante. Kitoor é um prato com folha de couve, amendoim torrado que apanha peixe ou carne, que é uma homenagem à avó de Melanito, enquanto Abissé, molho com folha de beringela, é uma homenagem à mãe.
Além da mãe e da avó, outra mulher africana inspira Melanito, a escritora senegalesa Fatou Diome, que é radicada na França. “Ela escreve ótimos textos sobre a situação dos africanos na Europa e no mundo. Ela também fala da valorização da cultura africana. Acompanho e admiro bastante o trabalho dela”, ressalta.
Serviço:
O Restaurante Biyouz fica na Alameda Barão de Limeira, 19, Campos Elíseos, e na Rua Fernando de Albuquerque, 95, Consolação. Ambos na cidade de São Paulo.
*Originalmente publicada no Alma Preta
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