“Não podemos permitir que o primeiro monumento em homenagem à Carolina Maria de Jesus no mundo não esteja em sua devida visibilidade”. A afirmação está presente em um texto-protesto assinado por diversos coletivos, artistas e com respaldo de familiares da escritora que reivindicam por um espaço mais adequado e compatível à grandeza de Carolina para a instalação de sua estátua, em São Paulo. A campanha é para que a estátua esteja na sala de visitas e não no quarto de despejo, como escrevia Carolina sobre o lugar que morou.
O protesto acontece a partir da escolha do Parque Linear, do bairro de Parelheiros, para abrigar a escultura de Carolina Maria de Jesus. A decisão do Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultural, com o aval do núcleo periférico, trouxe diversos questionamentos para os articuladores do manifesto. Entre eles, ter como opção um local de baixa visibilidade e movimentação – o que dificultaria, inclusive, a preservação da obra em relação a ataques de depredação – em vez de um lugar mais acessível e cartão de visita do bairro, como a Praça Júlio César de Campos. Assine o abaixo assinado aqui.
Os coletivos ainda contestam no documento a atuação do núcleo periférico pela falta de representante de movimentos culturais da região dentro deste grupo e pela inviabilização quanto às informações sobre o monumento. “Se não fosse a nossa mobilização pessoal, não seríamos ao menos comunicados sobre a celebração de inauguração (da obra)”. A iniciativa para a homenagem à Carolina Maria de Jesus acontece após a manifestação incendiária à estátua de Borba Gato, em Santo Amaro. A partir do ato, a Prefeitura de São Paulo anunciou, em agosto de 2021, a produção e instalação de alguns monumentos de personalidades negras, entre eles, a escultura da escritora. Nenhuma delas, no entanto, terá mais de dois metros de altura. A estátua de Borba Gato tem 13 metros.
O racismo estrutural produz o apagamento da história negra no processo de construção das cidades. Em São Paulo, há apenas 2% de esculturas e monumentos negros e, dentre eles, somente uma representa a mulher negra, no caso, a “A Mãe Preta”, no centro da cidade.
Quem foi Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus é uma das mais importantes escritoras do Brasil, nascida no dia 14 de março de 1914, em Sacramento, Minas Gerais. Porém, migrou muito jovem para São Paulo e após a morte da mãe construiu um barraco na extinta favela do Canindé, na Zona Norte da cidade. Carolina sobreviveu como catadora de papéis e trabalhou como doméstica.
Dos papéis do lixo escrevia diários registrando o cotidiano, o que resultou no seu primeiro livro, o “Quarto de Despejo”, obra que chegou ao topo das listas de mais vendidos, superando autores já consagrados como Jorge Amado e Jean-Paul Sartre, publicado em 46 países. A escritora também lançou “Casa de Alvenaria”, “Pedaços da Fome” e “Provérbios”, no entanto, não obteve o mesmo retorno como a primeira obra. Com o pouco ganho que teve conseguiu construir a sua casa, em Parelheiros, onde viveu com os três filhos até a sua morte, aos 62 anos de idade.
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