Corrientes parece uma cidade de MS perdida no norte da Argentina

Churrasco, chipa e chamamé. Podíamos estar falando de três coisas facilmente encontradas em Campo Grande, mas esse é um texto que como anuncia o título fala de Corrientes, capital de um departamento de mesmo nome no norte da Argentina. As semelhanças não param por aí. Por lá, também é possível encontrar com facilidade gente tomando chimarrão e migrando para o tereré nos dias de verão, quando pode chegar facilmente aos 42 graus.

A cidade de 500 mil habitantes está na fronteira com o Paraguai e se espreguiça sobre o Rio Paraná. Essa proximidade faz com que tenha sido um importante entreposto no começo do século passado, quando a maioria dos prédios do centro foram construídos. Eles são prova dos dias de auge da cidade e sobrevivem decadentes – com falta de restauração e um ar quase de abandono – nos dias atuais. Essas características fazem lembrar outras duas cidades do continente: Corumbá e Assunção, que outrora foram importantes entrepostos do Rio Paraguai e hoje vivem dias de menos riqueza econômica.

A proximidade com a fronteira também transforma o lugar em corredor de contrabando e narcotráfico. O Departamento possui criação de gado, além de arroz e vinho. Localizada no norte do país, Corrientes está distante das outras grandes cidades argentinas, mas fica a 20 quilômetros de Resistência, capital do departamento do Chaco, também no país de Evita. Na política, o estado tem outro aspecto marcante: a sede do governo também é uma casa rosada. Por aqui, os partidos mais tradicionais representados pelas cores branca e vermelha se uniram para derrotar um terceiro que nascia e tentava chegar ao poder. Como a união saiu vitoriosa, o governo decidiu construir um palácio mesclando as cores dos dois partidos, resultando na casa rosada, a suntuosa Casa de Gobierno de Corrientes, de 1886.

Além de importante entreposto para as embarcações que seguem pelo Rio Paraná, a cidade tem praias artificiais que abrigam os moradores em busca de uma cor ou um lugar tranquilo para tomar seu chimarrão ou tereré. As chipas são vendidas a cada esquina. E é possível escutar os acordes do chamamé nos bares com apresentações de músicos locais, como o Terama, ou nas rádios. Em janeiro, um festival homenageia o ritmo tão ouvido também no Mato Grosso do Sul.

O carnaval é outro ponto forte da cidade que se inspira em algumas fantasias das escolas de samba do Brasil. Tanta similaridade com outros lugares fronteiriços não inviabilizam a cidade de ter uma loja da Havana e de ter produção de alfajores artesanais, comercializados pela metade do preço da marca mais conhecida. O doce de leite, outra iguaria famosa no país, pode ser comprado em qualquer supermercado.

No centro, uma rua só para pedestres é rodeada por comércios que fecham pela tarde para a siesta. Das 13h às 16h o movimento no local é muito pequeno. Mas retoma no fim de tarde e segue intenso até as 21h.

Uma das praças de Corrientes tem uma história interessante. De 1901 até o começo dos anos 2000 abrigava o Mercado Central de Corrientes, que tinha entre seus comerciantes vários descendentes de italianos, representantes de uma grande colônia na cidade. Os comerciantes decidiram se juntar para um projeto de derrubar o mercado e construir em seu local um shopping com estacionamento subterrâneo e um hotel. Após a derrubada do prédio, questões financeiras e divergências impediram a construção do novo espaço, que acabou se transformando na Praça Torre de Vera y Aragon. Hoje o Mercado Central funciona em um galpão numa das avenidas que levam ao centro da cidade.

Outro prédio importante e histórico de Corrientes é o Cassino, com teatro, restaurante e um hotel, além da casa de jogos. Localizado nas margens do Rio Paraná é um dos pontos turísticos. Apesar do castelhano ouvido nas ruas, é possível se comunicar em guarani com algumas pessoas e impossível, para um sul-matogrossense não se sentir um pouco em casa também.

Texto originalmente publicado em Semana Online.

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Redação

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