Cortejo Afro traz desfile elegantemente sofisticado para o carnaval de Salvador

Guilherme Soares Dias

Um bloco afro com balé, obra de arte, baianas, bateria, artistas e público diverso. Esse é o Cortejo Afro que leva para o carnaval de Salvador um desfile “elegantemente sofisticado”, como diz seu slogam. Fundado em 1998 pelo artista plástico Alberto Pita no Terreiro Ilê Asé Oyá, em Pirajá, na periferia da capital baiana, o bloco trouxe como tema em 2020 “Oxumarê” para falar sobre mobilidade, diversidade, riquezas, beleza, amor e tolerância.

Cerca de 1,5 mil pessoas vestem as roupas do bloco e desfilam durante três dias de carnaval, nos circuitos do Campo Grande e Barra-Ondina. O desfile é elaborado e traz pelo menos sete “alas” diferentes. De trás para frente há:

  • Um balé urbano com dançarinos representando Oxumarê com cobras.
  • A bateria com cobras na cabeça e pescoço com mulheres percursionistas seguidas pelos homens
  • O trio elétrico que traz a banda, decoração de pombos e o artista visual Veko, destaque do bloco, que desfila de branco, guarda-chuva e adereço na cabeça que lembra cobra. O teto do trio tem fitas brancas que representa Oxalá. Os grandes sombreiros, segundo Pitta, “visam passar o visual dos reinados das tribos africanas, especialmente de Benin, Costa do Marfim, dentre outros países africanos”.
  • Foliões com fantasia de quimono, saia e filá com eko didê (pena) vermelha.
  • Oito dançarinos sem camisa, adorno dourado na cabeça e saias com as cores do arco-íris.
  • Carro com Navio negreiro, com cordas penduradas e cuias, que ficou exposto no Museu de Arte Moderna (MAM) e que no desfile é ocupado por dois dançarinos e pela Ialorixá Nívia Luz, do Terreiro Ilê Asé Oyá. À frente do carro há a bandeira do bloco. A carroceria do caminhão foi adesivada com mãos pretas de punhos fechados. Mesmo desenho da roupa dos dançarinos urbanos (1) e da bateria (2)
  • Mulheres vestidas de branco, com saias rodadas e turbantes chamadas de “baianas”. Além de dois homens carregando espelhos e de Antônio Jorge Bitencourt, artesão e artista plástico, que também vem vestido de Oxumarê.

Os cordeiros usam a camiseta do bloco, o que dá uma certa dignidade as pessoas que mais trabalham e são piores remuneradas durante a folia. Entre as músicas, clássicos como “Abraço Negro” e “Faraó”, além de músicas próprias. É de longe o bloco mais moderno, com abertura para a diversidade e que traz inovações para o carnaval, mas também traz mais integrantes brancos do que outros blocos afros. Todo ano, há artistas desfilando. Neste ano, destaque para a presença do ator Fabrício Boliveira. Além das avenidas, o Cortejo Afro também participou das comemorações de 22 anos do Camarote Expresso 2222.

Fotos: Heitor Salatiel
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Redação

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