Guilherme Soares Dias
O Couchsurfing é uma rede em que você pode conectar-se a pessoas e ficar hospedado gratuitamente na casa delas ou tê-las como guias de programas locais em suas cidades. A rede foi criada em 2003 e tem mais de 4 milhões de usuários. A proposta é democratizar viagens, mas o racismo encrustado na sociedade faz com que nem todo mundo consiga usufruir do Couchsurfing.
A rede social é construída por fotos, descrição de gostos, o que faz, amigos, depoimentos, verificação e mensagens diretas de pedidos de um sofá amigo ou de alguém que tope te levar para conhecer mais da sua cidade. Quando fiz um mochilão em 2016 estava maravilhado com a possibilidade de ficar na casa das pessoas. Além de economizar grana, que era curta, eu conheceria pessoas. Os relatos que eu lia eram incríveis, além de amigos (brancos) que recebiam pessoas (brancas) em suas casas pela rede e tinham sempre histórias pra contar.
Quando cheguei na Europa comecei a solicitar hospedagem em diferentes cidades por onde passaria. Foram três meses de ‘nãos’. Achei que o problema era com o meu perfil. Pedi mais depoimentos de amigos em outras línguas: além do português e inglês, tinha em espanhol e francês. Quando saí da Europa e fui para a Tailândia recebi meu primeiro ‘sim’. Mas só deu certo de ficar na casa de alguém no Egito. Meu host era simpático, experiente em receber pessoas, tinha a mesma cor que eu, além de ser gato.
A essa altura meu perfil estava super ativo e eu recebi uma solicitação de hospedagem no apartamento que tinha deixado em São Paulo de uma pessoa com características árabes e o perfil todo nessa língua. Eu fui confrontado pelo meu próprio preconceito. Não morava mais no apartamento e não tinha como recebê-lo. Mas será que o hospedaria ou teria medo por conta das histórias criadas a partir das notícias ruins que vem da região dele no mundo? Afinal, todos nós temos um preconceito para ser trabalhado. Qual é o seu?
Nesse momento entendi, que eu tinha sido recusado na Europa não por que meu perfil era incompleto, mas pelo racismo estrutural. O analista de Big Data Moisés Jr, que é viajante e mantem o perfil Nego pelo Mundo, conta que tentou se hospedar em um veleiro na Malásia, mas foi recusado “por falta de disponibilidade”. No dia seguinte, uma amiga branca fez a solicitação e conseguiu a hospedagem no mesmo lugar. Ele conta sobre um amigo etíope, com inúmeras referências e certificado no site, que não conseguiu nenhuma estadia na Europa.
Quem mais já teve experiências assim no Couchsurfing?
PS: amigos brancos, eu sei que vocês nunca pararam para pensar sobre isso. Daí, vem a importância de ter pessoas negras produzindo conteúdo sobre viagens.
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