Começo esse texto ressaltando que o AFROTURISMO brasileiro vive o seu melhor momento. Conseguimos espaço e até protagonismo nos principais eventos do turismo no primeiro semestre;, temos uma gerência na EMBRATUR que cuida e ajuda a fomentar o movimento nas ações internacionais do órgão; começam a aumentar o número de empresas do setor a investir em ações de diversidade e inclusão racial no turismo, enfim ótima colheita para o movimento e para quem atua no setor. Porém, este bom momento também traz algumas ameaças, como o chamado “diversity washing “.
O diversity washing ocorre quando uma empresa se apropria do conceito de diversidade na sua comunicação de marca, sem, efetivamente, agir em prol dela ou, na tradução literal, faz uma “lavagem da diversidade”. O termo e conceito é difundido por Liliane Rocha, mulher negra, especialista em diversidade e sustentabilidade, autora do livro “Como ser um Líder Inclusivo”. Um exemplo simples: uma marca produz uma campanha cujo conteúdo exalta a diversidade, com a participação de pessoas negras ou LGBT+. Mas, enquanto isso, internamente não investe em ações ou não possui na sua equipe de colaboradores representatividade desses grupos. Falar, realizar ou investir em ações de AFROTURISMO sem profissionais negros do movimento no protagonismo das mesmas é “diversity washing”.
Estão surgindo iniciativas importantes e necessárias de apoio a empresas, empreendedores que atuam com diversidade e inclusão no turismo brasileiro como editais, apoio a inovação de projetos de startups do setor e premiações. Estes apoios, principalmente financeiros, para afroempreendedores do AFROTURISMO são importantíssimos, pois durante anos eles bancaram seus negócios com recursos próprios sem apoio. Além de terem que vencer a resistência e preconceito que sofrem por terem negócios focados na inclusão de pessoas negras. Portanto, reforço, estas iniciativas são fundamentais para o desenvolvimento e evolução do movimento.
O que estamos atentos é que já observamos as ameaças destes apoios, como normalmente acontecem no setor corporativo de investimentos, como de startups, prioritariamente serem captados por negócios liderados por pessoas brancas. É extremamente frustrante para quem atua no AFROTURISMO há anos, com muitas entregas e trabalhos realizados com a causa, ver empreendedores brancos à frente de iniciativas de diversidade e inclusão racial. Quando acontece este fato, reforça o quanto o racismo estrutural ainda está presente em todas as instâncias, pois sem pertencimento e representatividade de profissionais negros a frente destas ações, as necessárias mudanças não acontecem.
As empresas e profissionais negros que atuam hoje no AFROTURISMO têm toda experiência e competência para gerar a necessária e urgente inclusão de viajantes negros e antirracistas no turismo brasileiro. Chega ser até cansativo repetirmos esta frase, mas ela é sempre atual para este casos: tudo que nós, pessoas negras precisamos para mostrar nossa capacidade é OPORTUNIDADE. E para conectar com este texto, oportunidade de apoio financeiro para desenvolver nossos negócios e ações no AFROTURISMO.
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