Etnia Awaete no Mic: da luta pela terra ao desenvolvimento cultural

53 anos: esse é o tempo que o povo Awaete, do município de Altamira no Pará, teve contato com pessoas não-indígenas. Representados pelo pajé Time’i Assurini, o grupo marcou presença na 3ª edição do Mercado das Indústrias Criativas – MIC, que acontece em Belém neste mês de novembro, apresentando o projeto Casa Ancestral Janeraka, bem como suas produções artísticas que denominam de patrimônios, em vez de artesanatos.

“A floresta está ficando mais perigosa com a invasão ao nosso território, que é um dos mais devastados do mundo”, denuncia o pajé sobre a situação de ecocídio na comunidade, que era conhecida pela cultura pesqueira. Foi com a criação da Rodovia Transamazônica que o isolamento da comunidade foi destituído. Embora, segundo Time’i, tenha sido benéfico por conta das guerras internas entre povos, esse contato trouxe prejuízos sem precedentes.

Pajé Time’i Assurini em rodada de negócios

“Os relatos dos mais velhos é que foram pessoas foram envenenadas e só sobraram 52 pessoas”, conta o pajé, ao Guia Negro, sobre o episódio no qual os sertanistas dizimaram parte da população para ocuparem o espaço. “Somos oprimidos o tempo todo, e hoje buscamos mais autonomia e participação no processo de criação, tentando não depender de ONG’s”, explica, enquanto apresenta suas criações artísticas. 

Educação ancestral e patrimonial

“Não somos uma loja, somos uma bancada de educação patrimonial”, defende Time’i sobre a exposição dos trabalhos de seu povo no MIC. “Falamos da nossa ciência, das nossas artes e da nossa cantoria para que os acadêmicos e cientistas vejam a nossa forma de dialogar com o mundo tendo mais respeito”, pontua. O pajé e seu grupo também apresentaram o projeto da Casa Ancestral Janeraka Belém nas rodadas de negócio.

A Casa tem o objetivo de cocriação de um ambiente onde haja o fortalecimento das questões indígenas e ancestrais para povos ribeirinhos, quilombolas e indígenas, servindo de um espaço físico de acolhimento e residência artística para a retomada estratégica de territórios ancestrais em Belém. 

Pajés Matuja Assurini e Ymyni Assurini

O projeto também almeja a manutenção de um espaço de etnofloresta e etnobotânica, a criação de um Ateliê de Artes, ofertas de formações a partir de metodologias éticas, decoloniais, regenerativas e cocriativas entre indígenas e não-indígenas. Além disso, também prevê o acesso a profissionais de diversas áreas de conhecimento, como Museologia e Patrimônio Cultural, Etnomusicologia, Produção Audiovisual, e outros. 

Ymini Assurini, também pajé da etnia, destacou a importância de participar do evento como chance de maior visibilidade. “Nós na aldeia não temos muito contato e estamos buscando conhecimento para falar com autoridades para que conheçam a nossa luta”, relata a esperança na sua expectativa durante o MIC, que acontece até o dia 13 de novembro com rodadas de negócios, exposições da economia criativa e shows culturais gratuitos.

Para contribuir com a Casa Ancestral Janeraka Belém clique AQUI.

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Lucas de Matos

Olá! Eu quero te dar as boas-vindas à minha coluna. Sou um comunicador baiano que ama falar sobre gente, e por aqui você vai encontrar muito assunto sobre cultura, comunicação, dicas de leitura, e mais. Sou autor de 'Preto Ozado', livro que já vendeu mais de 1.600 exemplares e se tornou um minidocumentário. Viajo pelo Brasil em atividades literárias, participando de festas como FLICA, FLIP e FLIPELÔ. Falo sobre cultura para meus 22 mil seguidores no Instagram! Vamos conversar? 💬

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