Milhares de pessoas vão ao Rio Vermelho, em Salvador, entregar rosas e acompanhar homenagem criada por pescadores
Texto: Guilherme Soares Dias/Fotos: Heitor Salatiel
Tudo cheira a alfazema. São 5h da manhã do dia 2 de fevereiro na praia do Rio Vermelho, em Salvador. A homenagem criada por pescadores que queriam agradecer a rainha do mar, Iemanjá, é acompanhada por milhares de pessoas e foi abraçada pelas religiões de matriz africana. É a maior festa com nome de uma orixá do mundo. No amanhecer desse dia, há alvorada com queima de fogos. Os barcos com oferendas são levados ao mar pela tarde.
Muitas linguagens e mensagens, disputas, tensões, um caldeirão. Assim define a saudação a Iemanjá a pesquisadora e jornalista Cleidiana Ramos, que estuda festas de largo da capital baiana pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). A edição de 2019 foi exatamente plural e multi, como se esperava. Segundo ela, é difícil definir a festa como uma coisa só.
O Rio Vermelho começa a encher já na noite de 1 de fevereiro. Bares como Chupito, Red, Lalá tem programação voltada para a orla. À meia noite o trânsito na Avenida Oceânica é inviabilizado e milhares de pessoas acompanham shows, bandas e sons vindos de lugares diversos, enquanto desfilam de branco, com rosas em punho. O balaio ganha flores e outras oferendas. Grupos de terreiro de candomblé e umbanda fazem cerimônias na praia. Alguns caboclos incorporam. Pais e mães de santo fazem limpezas com ervas em quem passa e deixa alguns trocados.
Mulheres vestidas de baiana vendem comidas diversas e os ambulantes aproveitam para ganhar dinheiro com a festa, tendo muito deles que morar temporariamente no local, dormindo próximos a seus pertencentes na rua.
Amigas e amigos ficam para tentar ver a alvorada às 5h. Meu grupo fez o mesmo. Domimos na areia, assim como várias outras pessoas. Tudo parece seguro e em sintonia.
No amanhecer, um festival de cores no céu, acompanhado de fogos de artifício. O mágico dia de Iemanjá começa no local de sua festa. A multidão, que vagava pela orla, agora estava na praia, no mar.
Todos entoando “odoyá”, a saudação para a rainha do mar. Pela areia, velas, círculos de rosas e outras homenagens a ela.
A festa segue pelo dia. À tarde, milhares de pessoas se reúnem novamente na orla, no que parece um grande festival, descentralizado, com milhares de células autônomas responsáveis por sua própria programação. Dezenas de artistas tocam nos bares. Alice Caymmi, Luedji Luna, Hiran, Metá Metá, entre outros, emprestaram suas vozes para a festa. Era tanta gente e tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que até ficava difícil de acompanhar.
Por volta das 21h do dia 2 de fevereiro, carros de polícia e policiais à paisana começaram a circular tentando dispersar a multidão. Ninguém queria ir embora e foi difícil conseguir transporte (tanto Uber, quanto ônibus), mas aposto que todos voltaram para casa renovados.
A essa altura o balaio lançado ao mar se perde no infinito. Fica o desejo por mais festas de largo, dos tambores, das risadas e os desejos de prosperidade.
É dia de Iemanjá. Esse é o verdadeiro ano novo na Bahia. 2019 já pode começar.
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