À primeira vista São Paulo é apenas um emaranhado de concreto, envolto de cinza, com cheiro de xixi e barulho de buzinas e do acelera e freia dos carros. Mas um olhar mais apurado por essa cidade faz os viajantes se apaixonarem. Tem museus, tem shows, tem festas de ruas, tem coisas de graça, tem diversidade e riqueza cultural. Quem vem visitar a cidade não se arrepende e sai com gosto de quero mais.
Além de não ser um destino de turismo óbvio e, por isso, foi considerada a cidade mais subestimada do mundo, São Paulo não é o primeiro lugar quando se pensa em afroturismo no Brasil. Mas a capital paulista é um dos lugares mais interessantes para estar em contato com a cultura e história negra. Já ouvi até de guias experientes que aqui não tinha muito o que conhecer quando o assunto é história e cultura negra. A verdade é que cerca de 32% das pessoas se declaram de cor preta e parda em São Paulo, o que significa que são cerca de 4 milhões de negros na cidade (a população total é de 12 milhões). Em Salvador, cerca de 80% dos 3,5 milhões se declaram negros. Então, a capital baiana percentualmente tem mais negros, mas São Paulo tem mais numericamente, mas assim como muitas cidades teve a negritude apagada do seu contexto urbano, principalmente no centro.
Mas quem vem a São Paulo surpreende-se com a variedade de programações. Segue o roteiro do Guia Negro:
1 – CENTRO
Na República, é onde está a maior parte dos novos migrantes africanos, uma pequena África. Por lá, tem a Galeria do Reggae e a Galeria Sampa, que são reduto da nova migração africana, onde pode ser encontrada comida, salões de cabeleireiro, produtos ligados ao reggae e tabacaria. O samba rock, ritmo preto paulistano, é praticado na rua na região da galeria, principalmente na Rua Dom José de Barros, onde fica a Galeria Olido.
Os tecidos africanos podem ser comprados na Rua Barão de Itapetinga, com a Avenida Ipiranga. Há ainda lugares como a Liberdade, que não tem essa narrativa contada como deveria, mas é palco da #caminhadasaopaulonegra e tem placas do Pelourinho, do Largo da Forca e a Capela dos Aflitos, onde as pessoas negras eram, pela ordem, torturadas, mortas e enterradas nos séculos 18 e 19.
2 – ESCOLAS DE SAMBA
A escola de samba Vai Vai que tem ensaios aos domingos. Há outras escolas de samba tradicionais com foco na negritude como Camisa Verde e Branco, Nenê da Vila Matilde, Rosas de Ouro, Peruche, Tom Maior, entre outras.
3 – SAMBAS
Nas sextas-feiras, há o tradicional Samba da 13, no Bixiga, na Rua São Vicente, no Coisa Mais Linda e no Bar Havana. Na Rua 13 de Maio é o Tamarineiro quem recebe um grande público.
O Samba da Laje acontece na Vila Santa Catarina e é uma roda de samba com feijoada. Todo segundo domingo do mês. O Samba da 27 acontece todos os domingos a partir das 16h no Grajau, na zona sul.
No Largo da Santa Cecília, o samba rola todas as sextas-feiras a partir das 19h até às 22h. Maria Zélia, Bate Fundo, Cruz da Esperança e Boteco da Dona Tati.
4 – MUSEU AFRO BRASIL
O Museu Afro Brasil é o melhor sobre diáspora do mundo e mostra arte, literatura e história do povo negro. Aos sábados tem entrada gratuita. O Museu Afro Brasil fica no Parque Ibirapuera, na Av. Pedro Alvares Cabral, s/n, próximo ao Portão 10, em São Paulo. Abre de terça a domingo, das 10h às 17h (permanência até às 18h).
5 – ONDE COMER NA CAPITAL DA GASTRONOMIA
Para comer indico, o Rap Burguer, que serve hamburgueres saborosos com nome de rappers importantes na famosa Rua Augusta e reúne pessoas negras descoladas. O Biyouz, restaurante africano, abriu em 2007 e oferece pratos de diferentes países do continente na República e na Bela Vista. O Congolinaria serve comida vegana vindo do Congo. O Mama africa Labonnebouffe oferece comida camaronesa no Tatuapé. O Jerkys é o primeiro a trazer comida do caribe, mais especificamente, da Jamaica para São Paulo. A Chef Debinha serve uma deliciosa feijoada no Bixiga, enquanto o Ala Jardim tem um ambiente agradável, bons drinks e culinária contemporânea.
6 – RELIGIOSIDADE
A Irmandade dos Homens Pretos construiu Igrejas Nossa Senhora Rosário dos Pretos na Penha, zona leste, e no Largo Paissandu, no centro. Ambas têm missa com cultura afro. Além de vários terreiros espalhados pela cidade.
7 – FESTAS
De festa, é importante ficar de olho na Batekoo cena LGTQIA+e periférica, na Discopedia, que toda terça-feira das 19h às 23h traz rap, hip hop e funk e pretos descolados para a cena. Na Afrojamsp encontro de músicos que ocorre uma vez por mês. A festa Amem é um coletivo formado por artistas pretes LGBTQIA+ inserido na comunidade Ballroom que fomentam eventos como @paradapreta @ballveraverao @pajuball e @kikiballafrodiasporica. Já a Bandula é organizada pelo coletivo Netos da África.
8 – CENTROS CULTURAIS
O Centro de Culturas Negras do Jabaquara (zona sul), o Quilombaque (Perus, noroeste da cidade), o Centro Cultural do M’Boi Mirim são referências em eventos culturais periféricos. Enquanto a Agência Popular Solano Trindade realiza atividades culturais na região do Campo Limpo e Capão Redondo, na zona sul.
A programação do Sesc que tem unidades espalhadas por toda a cidade também trazem diferentes shows, oficinas, peças de teatro e rodas de conversa. Há sempre presença de artistas negros e preços acessíveis ou entrada franca.
Já a Embaixa Preta, espaço da Feira Preta no Anhangabau, tem coworking, salas de vídeo, de podcast e espaço multiuso, além de loja colaborativa, restaurante e eventos.
9 – SLAM/SARAU
Entre os saraus, destaque para Cooperifa, no Jardim Guarujá, na zona sul, que ocorre todas as terças-feiras das 19h às 22h. O Slam da Guilhermina, que é uma batalha de poesias que acontece toda última sexta-feira de cada mês ao lado do Metrô Guilhermina-Esperança, do lado esquerdo ao sair da catraca. O Slam Resistência circula há dez anos por diferentes espaços da cidade.
10 – APARELHA LUZIA
O Aparelha Luzia (Rua Apa, 78 – Campos Elíseos) é um quilombo urbano que funciona como centro cultural com festas, exposições, lançamentos de livros, filmes e peças e funciona de quinta a domingo das 19h à 00h. No sábado para domingo, as festas entram madrugada a dentro.