Na última segunda (05/08) foi realizado um trabalho de educação patrimonial e de colaboração entre guias atuantes da Pequena África, no Rio de Janeiro. Foi um encontro entre guias pioneiros e também da nova geração do afroturismo que, voluntariamente, disponibilizaram seu tempo e abraçaram a oportunidade de apresentar seus trabalhos para a equipe que trabalha em três restaurantes do Largo São Francisco da Prainha, na zona portuária do Rio de Janeiro.
A iniciativa partiu de um reclame reincidente do comércio que muitas vezes obstrui a visibilidade do patrimônio histórico local atrapalhando a fruição do patrimônio pelos transeuntes e, consequentemente, o trabalho das guias de turismo. O sucesso da ação se deu da relação entre guias locais e, em colaboração, com a equipe do Bafo da Prainha e o apoio de Raphael Vidal, empresários de três bares da região e articulador da cultural local.
Foram convidados diversos empresários do entorno a participar de uma visita guiada pelo circuito da Herança Africana com as guias de turismo Kelly Tavares e Larissa Santos a fim de sensibilizar as equipes para a importância do patrimônio e da história local. Convidamos os empresários a incentivarem e motivarem suas equipes a participar conosco em uma roteiro de duas horas e meia.
QUEM PARTICIPOU
Enquanto guias, entendemos que para a preservação do patrimônio histórico cultural a educação patrimonial é chave. Dessa forma, conseguimos preservar os bens materiais e imateriais e valorizar o espaço de trânsito de visitantes de todas as partes da cidade, do Brasil e do mundo. São turistas que, diariamente, vem para o samba da Pedra do Sal em busca de diversão ou junto com os guias de turismo para conhecer as histórias que contamos do bairro da Saúde e Gamboa.
A visita guiada contou também com a colaboração dos guias Cosme Felippsen e Simone Faitu e integrou uma oportunidade de troca de conhecimento entre as guias. Um aparente guiamento de “rotina” que as dezenas de prestadores de serviço dos bares do Largo estão acostumados a ver à distância se transformou em uma sensível ressignificação do território onde atuam diariamente. Nossa sensibilidade aflorada e compartilhada marcou na memória dos participantes para a manutenção, a promoção e o aprofundamento do conhecimento da nossa história.
ESTÁTUA LIBERADA
O bloqueio da estátua da bailarina Mercedes Baptista, localizada no Largo da Prainha, com mesas dos bares locais não será mais um problema por um tempo, nem tampouco qualquer conflito foi gerado entre as partes. Cada guia contribuiu com seus conhecimentos sensibilizando os presentes por meio do guiamento afetivo e engajador.
Acredito que, enquanto guia de turismo, para que os patrimônios sejam preservados precisamos envolver todas as pessoas que atuam no território. Para isso, compreendemos também o papel fundamental dos empresários para que sejam parceiros dos guias de turismo. Além disso, o poder público em suas diferentes instâncias precisa participar que a promoção do conhecimento siga também por meio de incentivos.
Os gestores dos restaurantes Bafo da Prainha, Casa Porto e 2 de Fevereiro entenderam a oportunidade de unir, mobilizar e agregar valor para seus funcionários. Foi uma oportunidade de estreitar os laços com guias locais, mobilizando outros empresários e promovendo seus próprios estabelecimentos e trabalhos dos guias.
ENGAJAMENTO
Eles ofereceram um incentivo de R$ 100 para cada um de seus funcionários que estivesse presentes no guiamento em seu dia de folga. Também foi realizado um sorteio sorteio de R$ 500. O percurso teve engajamento dos participantes e se estendeu a quase 3h, com ampla participação.
Agradeço a todos que nos apoiaram divulgando e participando, a todos aqueles que integram e iniciativas de base como essa. Mantemos o nosso convite para que outras colegas guias se alternem em criar essa oportunidade de guiamento voluntario ou incentivado. Nosso objetivo é a manutenção do conhecimento dos trabalhadores, residentes, dos empresários e parceiros nos territórios onde atuam.
Essas ações são de suma importância também para criar diálogos e superar desafios de forma colaborativa. Criar um calendário com uma agenda de ações coletivas, de educação patrimonial é fundamental para integrar o local às experiências turisticas. Isso vai gerar impactos mais duradouros na construção do afroturismo nacional.
Uma agenda permitirá que outros guias também possam participar dessa oportunidade contribuindo com seu conhecimento. É primordial ainda atrair outros empresários locais sensibilizando-os para a importância do nosso trabalho e atuação na região.
*Kelly Tavares é guia de turismo, fundadora da Rio Encantos e uma das articuladores do Coletivo do Afroturismo
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