Larissa Luz, Luedji Luna e Xênia França puxam trio “Respeita as mina” em Salvador

Guilherme Soares Dias

Não é não, diz a frase que virou símbolo da luta pelo fim do assédio durante o carnaval. A festa que carrega as contradições da sociedade para a rua sempre foi um espaço mais difícil para as mulheres, alvo de cantadas, assédios e estupros. Para trazer um ambiente em que elas possam ser quem são e se divertir de forma segura surgiu há quatro anos o trio “Respeita as mina”, patrocinado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia (SPM-BA). Desde lá, Larissa Luz vem puxando o carnaval do bloco.

A cantora tem experiência no assunto: foi vocalista do Ara Ketu entre 2008 e 2012. Desde então, ela desenvolve um trabalho mais autoral, em que faz músicas com pegada eletrônica, com inspirações do candomblé, Jamaica e diáspora africana. A cada ano ela divide o trio com outras parceiras. Em 2019, Luedji Luna e Xênia França se juntaram à Larissa para formar as Aya Bass (referência às orixás femininas yabás) e trouxeram a potência de três cantoras negras, baianas, com trabalhos autorais, não ligados à Axé Music, cantando cantoras negras.

Elas abriram o circuito Barra-Ondina, o mais comercial de Salvador, em 2019. Apesar do horário pouco nobre, o trabalhou repercutiu. Em novembro, elas foram convidadas para repetir o projeto que era apenas para aquele verão na festa que o Afropunk fez em São Paulo para lançar o festival no Brasil. No carnaval de 2020, o festival saiu com o “Navio Pirata”, o trio do BaianaSystem. No sábado (22), o trio do Afropunk trouxe Afrocidade, com participação de Mano Brown, Muzenza e Cronista do Morro à frente do trio que trazia as Aya Bass. Ambos iniciaram o circuito por volta das 23h. Isso significa que o circuito foi tomado por um mar de pessoas negras conscientes e sabedoras dos espaços que querem ocupar seguindo artistas negras que estão produzindo a nova música da Bahia e se posicionando politicamente. Foi bonito e histórico.

Vestidas de branco, com uma banda feminina, Larissa, Luedji e Xênia cantaram músicas próprias e de outras cantoras negras tradicionalmente deixadas de lado dos holofotes. Margareth Menezes foi uma das homenageadas. Mas elas também cantaram Beyonce e fizeram brincadeira com o nome do trio formado pela cantora norte-americana no começo da carreira, Destiny’s Child, e se nomearam Nordestiny’s Child. O sucesso “verdinha” de Ludmila também apareceu.

Grávida de cinco meses, a percussionista Ratinha, que tocou no show, diz que estava feliz por tocar com as três cantoras que são referência para a nova geração. “Uma energia boa e uma celebração ao feminino. Eu deixei de tocar com o cantor que sempre trabalho junto para estar aqui hoje”, ressaltou. Larissa Luz e Luedji Luna dizem que sentiram uma energia diferente em 2020, com mais gente na rua. “À noite as coisas acontecem, vimos mais escancarada a violência do carnaval. Mas ter o trio do Afropunk nos deixou mais confortável com o público na frente, ao mesmo tempo que também queríamos estar lá”, afirma Larissa. A cantora lembra que se diverte no trio e sai da experiência se sentindo mais forte, já que vive, fala e recebe energias do empoderamento feminino negro. “Quando canto Beyonce, Ludmila e MC Carol mostramos que as coisas vêm do mesmo lugar, da mesma matriz. São músicas de um mercado diferente, mas fazem parte da nossa vivência”, ressalta.

Foto: Duarte Carvalho/Divulgação

 

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Redação

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