Durante uma viagem de cruzeiro com amigos, Ana Lucia Faustino, criadora do projeto Balanço Black em Alto Mar, se deparou com o seguinte cenário: ela estava em um navio, com serviços do tipo all inclusive, com muita comida e bebida liberada; músicas, famílias e amigos reunidos, todos se divertindo bastante. Entretanto, não havia quase nenhuma pessoa negra entre os viajantes, apenas no time de funcionários.
A partir dessa situação, ela decidiu criar o primeiro Cruzeiro Black do Brasil. O projeto tem o objetivo de tornar mais atraente à população negra a possibilidade de fazer uma viagem de cruzeiro, por meio da criação de um laço de identificação dessas pessoas. Isso é feito a partir da escolha de atrações para a festa que sejam relacionadas com as raízes e cultura negra, como bandas e grupos de samba rock, black music, entre outros gêneros. A quarta edição do Balanço Black em Alto Mar acontece entre os dias 16 e 19 de dezembro de 2022 promete muitos bailes em ritmo black, além de passeios em praias e ilhas paradisíacas, saindo de Santos (SP) e passando por Porto Belo (SC) e Balneário Camboriu (SC).
INÍCIO E REALIZAÇÃO DA PRIMEIRA EDIÇÃO
Em 2015, Ana estava em uma viagem com quatro amigas em um cruzeiro no litoral brasileiro e buscava uma festa que a agradasse dentro do navio, mas não encontrou nada nem perto de seus gostos musicais: samba e pagode. Junto a isso, ela percebeu também que a quantidade de pessoas não-brancas que estavam dentro do navio sem ser a trabalho era muito, mas muito pequena. Conseguiu encontrar apenas um casal, viajando com o filho pequeno. Isso a deixou inconformada e, assim, veio o estalo para a criação do Black Cruzeiro ou, com o nome oficial, Balanço Black em Alto Mar.
O Balanço Black é uma festa anual dentro de um navio, que acontece durante 3 ou 4 dias, e foca em atrações e artistas que sejam relacionados à cultura musical negra. Ana conta que foi muito criticada e desacreditada quando levou a ideia adiante. Os principais argumentos questionavam o quão inovador e diferente era aquele plano, o que provavelmente faria com que ele fosse um fracasso. Porém, utilizando sua rede e a experiência com o desenvolvimento de eventos semelhantes, fez com que a primeira edição, em 2016, fosse sucesso.
Ao todo, foram mais de 200 participantes dentro do barco, que durou 3 dias em alto mar. “Até o capitão comentou comigo sobre o que estava acontecendo, que em 17 anos de navegações, ele nunca tinha visto tantos negros se divertindo dentro de um navio. Até pessoas brancas queriam entrar na festa sem convite, foi um arraso”, conta aos risos. O resultado foi tão positivo e gratificante já logo na primeira edição do evento, que ela decidiu programar a segunda para o ano seguinte.
Com o sucesso das primeiras realizações da festa black, organizadores de eventos e agências começaram a criar eventos semelhantes. Isso acabou impactando de forma negativa a procura e as vendas do evento original fazendo com que o Black Cruzeiro não acontecesse em 2018. Porém, em 2019, Ana foi procurada por clientes que haviam feito a viagem com ela nas edições anteriores, informando que queriam a festa original de volta. Assim, Ana retomou com o terceiro ano do Balanço Black em Alto Mar. Com três edições, o projeto total soma quase 500 pessoas participantes ao longo dos anos.
FUTURO DA FESTA
Desde o início, Ana fala que o objetivo do projeto é levar a representação negra para novos espaços. Ela trabalha para gerar a conscientização de que um cruzeiro, visto como um lugar de luxo, pode e deve ser ocupado por pessoas semelhantes a ela. Para criar essa identificação e conexão com seus clientes, ela trabalha diretamente na divulgação e publicidade do evento. Em muitas das vezes, ele encontra os integrantes do Balanço Black em eventos que ela frequenta e lá faz a promoção da ideia.
“Já cheguei a ir em mais de 20 lugares em uma única noite, procurando gente para viajar comigo. Assim que consegui meu público cativo, que está comigo até hoje e já foram em todas as edições”.
Para o futuro, o foco é aumentar o projeto e atingir novos públicos. Ana quer encontrar e levar viajantes mais jovens para dentro do navio. Pensando na ideia de continuidade, ela entende que fazer com que os jovens se interessem pelo cruzeiro fará com que ele dure ao longo dos anos. Além disso, ela pretende fechar um navio inteiro para o evento um dia, e não realizar apenas uma festa. Contudo, a falta de patrocínios é algo que a atrapalha nesse sentido.
Para a edição de 2022, com a parceria com a agência de viagens MimiTur foi possível flexibilizar a tornar mais acessível a forma de pagamento para a viagem. Ana está animada com essa facilidade, pois acredita que irá atrair ainda mais viajantes interessados. Mais informações sobre o ingresso no Instagram e no Facebook do cruzeiro.
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