Rotas Afro percorre caminhos da história negra no interior de São Paulo

A Rota Afro nasceu em 2019 em Piracicaba (SP) para dar visibilidade para a história negra de uma das regiões que mais teve pessoas escravizadas no Estado de São Paulo. Idealizado e realizado pela guia de turismo Júlia Madeira, o Rotas Afro busca levar a narrativa com protagonismo negro para fora dos grandes centros urbanos. Hoje, além de Piracicaba, os roteiros ocorrem também em Campinas e são realizados por escolas da região, além de contar com eventos especiais, como o Rotas Afro Caipira.

Para além do passado, os roteiros mostram as manifestações culturais negras do presente como o samba de lenço e o batuque de umbigada e proporcionam também a interação entre pessoas interessadas em cultura negra. É sempre bom lembrar que Piracicaba é cortada pelo rio de mesmo nome e possui dezenas de restaurantes na orla que servem peixe à moda caipira que podem ser degustados ao fim dos passeios por lá. “É uma oportunidade de conhecer a história, com interação, com música. Um passeio histórico e cultural”, define Julia, que também é capoeirista e sempre canta nos passeios.

ROTAS AFRO – PIRACICABA

O primeiro roteiro foi desenvolvido pela fundadora do projeto em Piracicaba, cidade que fica a 158 quilômetros da capital do estado. Baseado nas pesquisas do professor Noedi Monteiro, que também participou do primeiro passeio, o roteiro percorre a região central da cidade, visitando pontos como o Largo da Santa Cruz, Igreja de São Benedito e o Engenho Central. Neste último, é contada a história do Dr. Preto, médico que chegou em Piracicaba no começo do século 20 e foi impedido de atuar profissionalmente devido ao preconceito racial da época.

Em um bate-papo com o Guia Negro, Júlia contou de onde veio a inspiração para a criação dos passeios. Com a certificação de guia adquirida aos 18 anos, ela queria trazer uma visão diferente e falar sobre negritudes em outros locais. Muitos roteiros e agências já trabalham com ênfase no afroturismo para cidades como São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro.

Porém, a piracicabana viu uma oportunidade de gerar oferta de um serviço quase inexistente na região.

Durante a realização dos roteiros, que existem desde 2019, os turistas passam por pontos importantes da cultura negra ao longo da história daquele local, visitando lugares importantes para a história negra ou monumentos e construções desenvolvidos por arquitetos e engenheiros pretos.

Em 2022, foi criado um evento especial para o projeto: o Rotas Afro Caipira. Essa novidade é uma edição limitada, realizada em 3 datas pré-definidas nos meses de maio, junho e julho. Ele se destaca em relação às rotas já conhecidas, pois traz o olhar rural para as histórias. O Rotas Afro Caipira mostra as periferias, produtores rurais e regiões menos favorecidas.

Segundo Júlia (foto), é um recorte racial dentro da ruralidade, que é algo que não costuma ser muito feito. “Nos roteiros, visitamos produtores rurais e familiares da região e juntamos eles aos grupos de cultura tradicional da cidade. Na primeira edição, foi feito com o Samba de Lenço e na segunda com a violeira Luana Iris”, conta.

ROTAS AFRO – CAMPINAS

Outro roteiro realizado é o de Campinas. A cidade foi escolhida por ser a última do país a abolir a escravização durante o século 19. Devido aos movimentos abolicionistas terem começado nas grandes metrópoles, com mais força e rapidez, a ideia é mesmo olhar para as cidades menores e entender como esses períodos se desenrolaram por lá. Junto com Bananal, Piracicaba e Campinas eram as cidades com maior concentração de escravizados na região na última década antes da abolição em 1888. A similaridade histórica e proximidade geográfica foram os pontos que facilitaram na hora de escolher uma segunda localidade para o projeto e desenvolver o roteiro para tal. Os roteiros de campinas são acompanhados também pelo mestrando em História da África, Guilherme Oliveira.

ROTAS ESCOLAS

Um braço do Rotas Afro é o Rotas Escolas. Diferente da edição especial caipira, esse é um projeto recorrente, onde o roteiro original é feito com estudantes dentro de passeios feitos com as escolas. A iniciativa nasceu de uma demanda bastante específica, onde as escolas estavam precisando de uma metodologia mais leve e de passeios ao ar livre, como uma maneira de amenizar as consequências da pandemia na educação dos jovens.

O calendário de passeios já é pré-definido para o ano todo, onde ele acontece em 2 ou 3 escolas por mês. Alguns desses colégios recebem também o incentivo do Instituto Terra Mater, para a realização dos roteiros de forma totalmente gratuita. O Rotas Escolas começou em 2021 e, por enquanto, está sendo desenvolvido apenas em Piracicaba. Contudo, já existe uma ideia de levar o projeto para Campinas também. Além desse projeto para o futuro, Julia já pensa em Rio Claro como a terceira cidade para sediar o Rotas Afro, além de uma nova edição caipira em Piracicaba para 2023.

Saiba mais e agende uma visita no Instagram do Rotas Afro.

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Lucas Henrique

Turismólogo de formação e estudante de Marketing Digital nas horas vagas, busca mostrar sua voz como comunicador e, se possível, mochilar pelo Brasil e pelo mundo enquanto isso. Considera o diálogo e a conexão entre pessoas as coisas mais importantes para se buscar crescimento e evolução, sejam eles profissional ou pessoal. Fã número 1 de debates sobre as atualidades, além de adorar escrever sobre internet, redes sociais e tecnologia

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