Por Guilherme Soares Dias*
Só quem já passou um verão em Salvador sabe a magia que essa estação tem na cidade. Salvador é a capital do verão. De dezembro a março tem uma série de shows, festivais, festas, praias, amores, amizades, músicas, ensaios dos blocos, além das festas de largo e do carnaval. Turistas que vêm curtir a cidade nessa época, baianos radicados em outros lugares que voltam. Uma alegria coletiva solta na rua misturada a uma gama de programações para entreter a todes, para além das praias e passeios para lugares paradisíacos.
É tempo de derreter no calor; curtir a brisa; encontrar pessoas queridas por acaso nas ruas, nas festas; ouvir palavras doces, ver pessoas na rua como se estivessem bailando, de resenhar sobre a noite anterior… Lembro da amiga diretora de audiovisual Dayse Porto contando do ano que fez intercâmbio na Espanha e perdeu o verão na cidade e quando voltou era como se tivesse perdido toda uma fase dos amigos. Não participou das histórias, dos novos amores, das piadas, não sabia várias das músicas.
O verão é também uma espécie de férias coletivas sem, necessariamente, parar o trabalho. Um ritual de começo de ano, que faz com que milhares de pessoas dêem conta do resto do ano. Não é à toa que desde 2017 é pra cá que eu me mudo a cada dezembro.
2021 foi diferente. Não teve mergulhos profundos no mar, foi só um gostinho, um molhar o pezinho na água. E ficamos todos com aquele calor, com sensação de não refresco da alma. Existiu uma vivência do consolo coletivo. Tanto que a pisadinha foi o ritmo que conduziu esse verão. Várias sofrências que surgiram a partir da pandemia, com batidas e que foram compartilhados por todos.
O nível de extravasamento foi muito pequeno. Mas vai marcar. Dayse, por exemplo, não lembra nada do verão de 2007, aquele em que esteve na Espanha, mas acha que vamos lembrar de cada coisinha do verão 2021. O dia da semana que foi a São Tomé de Paripe para fugir de aglomerações, dos vinhos e danças sozinha em casa, dos poucos e bons encontros com amigues… Foi uma vivência contida, mas marcante.
O tempo todo com a pandemia rondando por perto (pessoas doentes, internações, mortes), ao mesmo tempo que tinha uma vontade de extravasar e que precisava ser contida. Vamos mesmo lembrar de cada encontro, cada ida a praia, cada momento.
O verão foi embora na sexta (19) e deu lugar ao outono que é aquele período de se recolher e trocar as folhas, mas a gente fica aqui com o quentinho do que foi vivido e leva os amores desse período para as próximas estações. Sonhando que o próximo verão seja mais possível e que a gente possa extravasar tudo que não pudemos.
Como foi o seu verão?
*Colaboraram Yeda Souza de Jesus, Carlos César Silva e Dayse Porto*
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