Artista, que iniciou sua trajetória com joias inspiradas em búzios e tradições afrodescendentes, apresenta agora esculturas e pinturas que exaltam a força e a identidade negra.
Com abertura no dia 2 de dezembro, no Edifício Misericórdia, em São Paulo, a mostra celebra uma década de existência e resistência da artista Ojire Ventura, marcada pela pesquisa sobre a cultura afro-brasileira e a força das mulheres negras ao longo da história. Com a curadoria de Camila Alcantara e expografia de Audrey Carolini, Forças Ancestrais presta uma femenagem às mulheres negras – às Ialorixás, à Irmandade da Boa Morte e às Ganhadeiras – reconhecendo-as como pilares fundamentais das conquistas e do progresso do povo negro ao longo da história.
Essas mulheres desempenhavam um papel que ia além de suas atividades econômicas: elas eram respeitadas em suas comunidades e, por meio de suas ações, ajudaram a consolidar uma rede de solidariedade entre o povo negro. Seu trabalho foi essencial para o desenvolvimento do comércio local, contribuindo para a circulação de mercadorias em um período em que as cidades coloniais brasileiras ainda estavam em formação. Dessa forma, essas mulheres fortaleceram um grupo historicamente excluído e marginalizado, promovendo a liberdade e autonomia de muitos.
As Ialorixás: Liderança Feminina
No contexto de uma sociedade que historicamente marginalizou as mulheres, as Ialorixás representam um papel de empoderamento feminino. “Elas mostram que as mulheres podem ser líderes, sábias e influentes, desafiando estereótipos de gênero e promovendo a igualdade”, diz a artista sobre essas líderes religiosas, que são figuras centrais nas comunidades afro-brasileiras e têm um papel que vai muito além da religiosidade.
Como mulheres de sabedoria e liderança, elas exemplificam o poder feminino na organização comunitária e na preservação de valores e tradições africanas. Em Forças Ancestrais, Ojire Ventura destaca a importância cultural, social e política dessas líderes espirituais, especialmente no contexto de uma sociedade que historicamente marginaliza as mulheres negras, que foram pioneiras na promoção da igualdade e na quebra de estereótipos de gênero, mostrando que o papel das mulheres negras pode e deve ser de protagonismo e respeito em todas as esferas.
Irmandade da Boa Morte: Resistência e Espiritualidade
A Irmandade da Boa Morte, uma confraria formada por mulheres negras em Cachoeira, na Bahia, desde o século XIX, simboliza um marco de resistência cultural e espiritual afro-brasileira. Essa irmandade tem como missão não apenas preservar as tradições religiosas ancestrais, mas também fortalecer o senso de identidade e lutar contra a opressão racial e de gênero. Na exposição, Ojire presta uma homenagem a essas mulheres que, além de religiosas, desempenharam papéis sociais e políticos fundamentais, construindo e inspirando uma rede de apoio, preservação e valorização da cultura de espiritual negra por todo Brasil.
As Ganhadeiras: Autonomia e SustentabilidadeAs Ganhadeiras foram mulheres escravizadas ou libertas que, no período colonial, encontraram no comércio informal uma forma de conquistar autonomia econômica. Vendendo produtos e serviços pelas ruas, essas mulheres não apenas sustentavam suas famílias, mas também adquiriram recursos para comprar suas próprias alforrias ou a de outros escravizados. A mostra, como todo trabalho de Ojire Ventura, reconhece a relevância dessas mulheres, que resistiram e prosperaram em meio às adversidades, consolidando redes de apoio comunitário e promovendo o desenvolvimento econômico. A homenagem às Ganhadeiras em Forças Ancestrais destaca sua importância dessas mulheres negras – que lutaram pela liberdade de homens e mulheres – como símbolos de resistência, resiliência e independência.
Com essa tríade de inspiração conceitual, Ojire Ventura convida todas, todos e todes a celebrarem a força, resistência e beleza das tradições e lideranças femininas negras, em uma experiência de profunda conexão com a história e a cultura afro-brasileira.
Ojire Ventura: História e Inspirações
Ojire Ventura, artista negra, mãe, nascida em um terreiro de candomblé, iniciou sua trajetória em 2015 com a criação de uma marca de joias e adornos, marcada pelo uso dos búzios. A estética e a simbologia espiritual que seu trabalho transmite refletem uma conexão profunda com a ancestralidade e os valores das culturas africanas e afro-brasileiras, ressaltando a beleza e a força das tradições que resistem através do tempo. Em cada peça, Ojire busca expressar não apenas o valor estético, mas também o poder de proteção e identidade que os búzios simbolizam, transformando suas criações em amuletos que já embelezam mulheres e homens de todo país, como Tassia Reis, Jota Pê, Luedji Luna Xênia França, Theodoro Nago, Larissa Luz, Bielo Pereira, Xan Rasvelli, Maria Rita, Erica Malunguinho e Jairo Pereira
Coleção Odu (2022)
Agora, prestes a completar 10 anos de carreira, a artista expande sua atuação para as artes visuais desenvolvendo esculturas e pinturas que aprofundam ainda mais sua pesquisa sobre narrativas ancestrais e contemporâneas, a fim de valorizar a identidade afrodescendente e, sobretudo, reforçar o papel das mulheres negras na resistência e afirmação cultural, como símbolos de força, resiliência e união.
Serviço:
Exposição “Forças Ancestrais”
Data de abertura ao público: 02 a 07 de dezembro de 2024 das 14h às 19h30
Local: Edifício Misericórdia, Largo Misericórdia, 20, Centro Histórico de São Paulo
Contato: Mariana Rocha- alakoroproducoes@gmail.com Tel.11 983346474