Olodum: mais do que bloco de carnaval, grupo é entidade em Salvador

Desfile leva povo preto pelas ruas e conta histórias que remetem à África

Texto: Guilherme Soares Dias/Fotos: Heitor Salatiel

O bloco afro do Pelourinho Olodum é mais do que uma banda que desfila no carnaval. Desperta paixões, gera identidade e arrasta pessoas da comunidade pela avenida. E mais do que isso: nem Anita, nem Alexandre Pires, nem Roberto Carlos são tão conhecidos fora do país quanto o grupo baiano. São eles que participam dos eventos da Fifa mundo afora, fazem turnês internacionais ano a ano, fora a lacração eterna de terem participado do clipe da música “They Don’t Care About Us”, de Michael Jackson.

O Olodum é projeto social, é do gueto, é pop, é resistência e traz as histórias da África para a folia. “O Olodum é o Racionais MC da Bahia. É do gueto, é político, é pop”, define o conselheiro do bloco afro Paulo Rogério Nunes. O presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues (foto abaixo), lembra que a banda tem essa missão de contar a história do povo negro, levando essa cultura para o mundo, mas com o pé sempre na comunidade.

Para isso, fazem bem a lição de casa: no carnaval, momento auge do ano, arrastam uma multidão atrás do trio. A experiência de sair com a banda é indescritível. Do alto, um farol da Barra iluminado pelo sol. A Deusa das Águas dança a música do ano que faz referência a ela com o mar ao lado. Uma multidão se espreme fora da corda para acompanhar o trio. Até na praia o povo balança. De cima do caminhão, os camarotes ficam mais visíveis. O contraste é grande. Enquanto a maioria negra segue o trio no chão, um público branco assiste das sacadas ao longo do circuito Barra-Ondina.

O pôr do sol ilumina e abençoa a passagem que vai retratando a história e musicalidade do povo negro. A festa é um momento único. A banda está comemorando os 30 anos do sucesso “Faraó Divindade do Egito” que a colocou em outro patamar e é lembrada ao longo do desfile. A música é só um dos muitos sucessos, que incluem “Requebra”, “Madagascar”, “Vem meu amor”, entre tantas outras.

Sair pelas ruas de Salvador com a camisa do grupo é como carregar ouro. Todos olhos, todos desejam. As pessoas sorriem para você. É como carregar uma identidade. Vendedores ambulantes me pedem a camisa. Um homem com as roupas do Filhos de Gandhi me aborda para falar que o desfile do Olodum deve ter sido lindo. E foi. Não dá para participar de todos os eventos do carnaval, mas essa troca entre os participantes de blocos afros traz um pouco do espírito de celebração conjunta da festa.

Festejos que vão além do carnaval. No verão, o bloco realiza o Festival de Música do Olodum (Femadum), no Pelourinho, para escolher as músicas que farão parte do enredo. O evento passou a fazer parte do calendário cultural de Salvador. Na sexta de carnaval, antes de desfilarem no circuito Campo Grande fazem a saída pelas ruas do Pelô. Saem da escola do grupo paramentados e com a banda de percussão no chão vão tocando tambores pela rua até chegar à Casa Olodum. A comunidade festeja o grupo que expressa e exalta o espírito desse lugar.

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Redação

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