Ouro Preto: conheça a história negra brasileira da mineração

A Mina Du Veloso é uma iniciativa que visa trazer um novo olhar para o turismo da cidade de Ouro Preto, no interior do estado de Minas Gerais e que foi premiado em 2019 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan). A cidade é mundialmente conhecida por ser um símbolo do período histórico colonial do Brasil.

Por lá, é possível se transportar para uma outra época da história do país e se sentir passeando por um lugar ainda nos tempos da monarquia, que foi o período regente mais longo da nossa história. Assim como toda a estrutura socioeconômica do Brasil,  a cidade de Ouro Preto também foi construída em cima do trabalho escravizado. Porém, não só nas construções de museus e igrejas essa mão de obra foi explorada e abusada, mas também no trabalho de mineração.

Não apenas Ouro Preto, mas todo o estado de Minas Gerais, sempre foram uma referência para a coroa portuguesa durante a procura abusiva e exploratória dos minérios presente no solo brasileiro. Essa ânsia por usufruir das riquezas naturais do Brasil fizeram com que quilômetros e quilômetros de minas sob o território do estado mineiro fossem construídos ao longo dos séculos. E é nesse espaço, sob a terra, que nasce a ideia do Mina Du Veloso.

O Guia Negro conversou com Du Evangelista, idealizador do projeto, que contou sobre o foco da Mina Du Veloso ser mostrar o legado africano da mineração de Ouro Preto. “Queremos criar um roteiro afrocentrado em Ouro Preto, mostrar a cidade por outro ponto de vista, com foco na mineração feita por pessoas negras.”

Nascido de uma ideia de alunos da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), a Mina Du Veloso era, no início, um projeto para estudar a geologia da região da cidade, uma vez que Ouro Preto é um município que sofre com intensas chuvas em determinadas épocas do ano, por isso a necessidade desse estudo.

Durante as pesquisas do grupo, do qual Eduardo fazia parte, ele descobriu uma cidade completamente nova sob a tão conhecida Ouro Preto, um lugar construído com o trabalho negro durante os anos escravagistas. A partir dessa descoberta, ele quis procurar por mais e mais minas, que pudessem ser visitadas, dentro da cidade.

Du Evangelista trabalhava, nesse período, com reforma e avaliação de imóveis. Assim, recebeu o contato de um senhor que queria que ele avaliasse sua casa para venda. Nessa avaliação, ele descobriu uma imensa entrada para uma mina desativada no quintal dos fundos da residência.

Junto com amigos do bairro, Du comprou o imóvel e investiu financeiramente para a reforma do lugar e a transformação daquela mina em um atrativo turístico e visitável. “A região aqui tem muita chuva. Mas mesmo assim, as igrejas, os prédios, a história permanece intacta. Isso só mostra o conhecimento e a sabedoria de quem verdadeiramente estava com a ferramenta na mão, construindo essas casas e essas igrejas, que era a população africana” conta Eduardo.

O Mina Du Veloso acredita que Ouro Preto pode se tornar uma potência do afroturismo brasileiro. “Salvador é uma referência quando se fala em turismo para pessoas negras, mas Ouro Preto também tem muito a oferecer. Minas Gerais foi o estado que mais recebeu pessoas escravizadas durante o período escravista no Brasil. Essa história precisa receber a atenção que merece.”

E a história preta na cidade precisa ser ressignificada, pois Ouro Preto foi cenário de duros momentos para a população preta e escravizada. Du quer apresentar esse outro lado dos anos em que negros africanos habitavam essas terras. Ele quer mostrar a cultura, a inteligência, os avançados conhecimentos em engenharia e construções, para deixar ciente para todos de quem é o real mérito pela existência e preservação da cidade.

O projeto ainda ganha corpo e não conta com incentivo público. Du Evangelista foi pré-candidato a prefeito de Ouro Preto nas últimas eleições, também como estratégia de conseguir maior visibilidade e viabilidade econômica para a expansão da Mina du Veloso. Uma das metas para o futuro é transformar a iniciativa em um circuito de visitação para todas as minas da cidade, trabalhar melhor a segurança e manutenção dos espaços das minas, para que cada vez mais turistas possam visitar e conhecer melhor essa parte da história do Brasil.

Siga: @minaduveloso

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Lucas Henrique

Turismólogo de formação e estudante de Marketing Digital nas horas vagas, busca mostrar sua voz como comunicador e, se possível, mochilar pelo Brasil e pelo mundo enquanto isso. Considera o diálogo e a conexão entre pessoas as coisas mais importantes para se buscar crescimento e evolução, sejam eles profissional ou pessoal. Fã número 1 de debates sobre as atualidades, além de adorar escrever sobre internet, redes sociais e tecnologia

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