A representatividade negra jornalística é um tema que ganha cada vez mais espaço quando o assunto é mídia. Em Salvador, rostos de repórteres negros vêm sendo cada vez mais comuns, o que era de se esperar há tempos, já que se trata da capital com maior percentual de negros do Brasil. Ainda assim, por trás das câmeras, continua necessário falar sobre a presença (ou ausência) desses profissionais. É nesse cenário que, há mais de 20 anos, Mira Silva atua. Vídeo-jornalista, diretora, roteirista e consultora audiovisual, figurou por anos como a única diretora negra da TV aberta baiana, e hoje integra a equipe de diretores do programa Encontro, da Rede Globo.
Fortemente conhecida por seu trabalho realizado na Rede Bahia, afiliada da Globo, Mira é braço responsável por programas de grande alcance e repercussão no estado. Iniciando na empresa no início dos anos 2000 como assessora de imprensa, após 1 ano passou para a equipe da TV Salvador, emissora que tinha 12h de programação independente e local, da qual surgiram muitas experimentações comunicacionais. Nesse ínterim dirigiu o Aprovado, programa que apresentava conteúdos acadêmicos para toda a população, e figurou líder de audiência durante os 17 anos de exibição, com apresentação de Jorge Portugal (1956-2020) e Jackson Costa.
Em 2017 foi uma das criadoras do Conexão Bahia, que segue no ar com conteúdos voltados para as múltiplas expressões da diversidade cultural baiana. Em plena pandemia no ano de 2020, participa da concepção, roteiro e assume a direção do Conversa Preta, programa que pauta temáticas antirracistas e relacionadas com a negritude, tendo pessoas negras produzindo, apresentando e sendo entrevistadas. Resultado? Em sua primeira edição, ganhou o 7º Prêmio Globo na categoria Melhor Programa Regional Afiliadas 2020. No ano seguinte, roteiriza e dirige o primeiro episódio da série sobre surfistas negras, ‘Janaínas: Deusas do Mar’, exibida no Canal Off e finalista do prêmio ‘New York Festivals TV & Film Awards’ em Nova York.
Em menos de 1 mês após o seu desligamento da Rede Bahia em 2022, episódio que causou comoção do público nas redes sociais e foi destaque na imprensa local, Mira retorna à Globo como uma das diretoras de um programa de alcance nacional, o Encontro. Com esse feito, torna-se a primeira diretora negra de entretenimento na Rede. Fato que, embora comemorável, não é motivo de orgulho para a profissional. “Infelizmente, ainda estamos nessa ocupação de espaços aos poucos. Eu espero que, daqui há um tempo, possa dizer que existem várias diretoras negras”, comenta.
A propagação de narrativas culturais é um tema que acompanha a trajetória profissional de Mira Silva, extrapolando a atuação na TV. Foi co-produtora do curta ‘O Corpo da Cidade’ (2020), integrou a equipe de direção e roteiro do curta ‘2 de Julho-Caminhos da Liberdade’ (2019), e realizou a direção, roteiro e montagem do documentário ‘Elos de Resistência’ (2022). Além disso, é produtora cultural, foi curadora de festas literárias como a Fliquinha e Viva Livro, e está na curadoria da Bienal do Livro Bahia em 2022. Mesmo com tantos compromissos, ainda sobra tempo para desfrutar do amor pelos esportes. Praticante de yoga, remo, rapel e mergulho, Mira levou o axé baiano ao Chile ao realizar o sonho de correr os 23 km no Moutain do Deserto do Atacama, corrida no deserto mais árido do mundo.
E nessa trajetória, haja resistência! Mira partilha de uma visão de mundo que encontra na educação antirracista uma forma de empoderamento e fortalecimento identitário, marca sobrepujante em seu trabalho. Outra prova disso é o projeto Sementinha Preta em em seu Instagram e canal no YouTube, onde compartilha leituras infanto-juvenis que tratam da temática. É, sem dúvida, uma referência para comunicadores da nova geração. E, pela intensidade de sua atuação, ainda vamos ouvir muito sobre os seus próximos passos. Sorte a nossa!
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Vai longe, meu amigo. Você é uma potência, gratidão por esse trabalho lindo que você está espalhando pelo Brasil. Beijos e sucessos!