Adoraria dizer que o Salvador Capital Afro é um projeto de pretos para pretos, mas sabemos que não é assim. O Guia Negro, por exemplo, não foi convidado para o Festival Salvador Capital Afro por ter criticado o plano de afroturismo da Prefeitura de Salvador, que vai investir R$ 15 milhões em afroturismo, mas não tem atores do afroturismo como protagonistas.
Quando o Afrobiz nasceu copiaram reportagens nossas e não nos creditaram. O programa também não prevê verba para a mídia negra, para desenvolver o turismo junto aos blocos afros, entidades negras que poderiam ser pontos de visitação e potência do afroturismo.
Fomos convidados pelo programa para realizar um tour para convidados apresentando histórias negras da cidade, mas tentaram reduzir o preço do serviço e desistiram dizendo que não havia tempo. Mas o tour ocorreu e os convidados foram hospedados em hotel de luxo. Ou seja, o problema não foi falta de grana.
Também ficamos de fora de outro braço do programa, que criaria novos roteiros turísticos com foco em negritude. É justamente o que fazemos há 5 anos com R$ 15 de investimento e não R$ 15 milhões como eles. O nome do projeto seria Guia Black, uma cópia escancarada da nossa ideia. Ameaçamos de processo. O nome mudou para Rolê Afro.
No festival, que ocorre entre 30/11 e 4/12, nos excluíram da gestão, das mesas, da mediação, mas queriam o nosso conhecimento para mentoria de novos roteiros. Se não é para estar em espaços abertos, como uns dos protagonistas, não estaremos.
Nos classificamos como “embaixadores do afroturismo”. Embaixador tem mais de um. Somos uma das referências no mercado e sabemos da nossa importância. Somos uma empresa da rua, que faz negócios entre pessoas pretas. Não estamos num coworking de luxo e, sim, em movimento, expandindo e construindo novas narrativas do turismo.
Vocês ficaram com medo de ouvir nossas críticas e agora terão que lê-las e lidar com a repercussão. Não dá para construir políticas públicas sem ouvir. Continuaremos o nosso trabalho, que levou mais de 300 pessoas para conhecer o centro histórico de Salvador só no último fim de semana (26 e 27 de novembro) em que ocorreu o Afropunk Bahia. Não vão poder nos ignorar.
O plano de afroturismo tem data para acabar. A gente fica. Salvador é a Capital Afro do Brasil, com toda a potência e racismo que isso implica. Tá longe de ser Wakanda e ainda sem o protagonismo negro. Devemos estar nas mesas de decisões e ganhando esse dinheiro.
Afroturismo é afeto, afronta e futuro. Vocês têm muito o que se inspirar e aprender com as pessoas pretas. Abram mão dos seus privilégios e vamos promover, finalmente, essa reparação histórica.
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