Guia Negro entrevistou titular da pasta que fugiu de responder sobre novas placas sinalizando lugares de cultura negra
Guilherme Soares Dias
São Paulo teve no fim de semana (5 e 6) a Jornada do Patrimônio com oficinas e atividades ligadas a cultura negra. O evento teve como seu protagonista Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas. O arquiteto negro do século 18 ganhou estátua, teve réplica do chafariz que construiu colocada na cidade de forma temporária (há projeto de voltar definitivo para o Largo da Memória, na Sé), além de palestras e tours sobre a história negra. Para a prefeitura de São Paulo é muito. Para a população negra é pouco.
Isso porque a estátua de Tebas que foi desenhada por Lumumba Afroindígena e Francine Moura tem apenas três metros de altura, contrastando com estátuas que homenageiam bandeirantes que podem ser vistas a metros de distância. Além disso, ela é apenas a quinta estátua de uma pessoa negra na cidade (todas minúsculas). O secretário municipal de Cultura, Hugo Possolo, esteve na inauguração da estátua e foi questionado pelo Guia Negro quando São Paulo terá mais e maiores estátuas de pessoas negras; e se as placas que sinalizam lugares como Largo da Banana e Pelourinho ganharão mais destaque, QR Code e etc. As perguntas ficaram sem respostas efetivas.
Além disso, a Jornada do Patrimônio que tem dado destaque a história negra acontece apenas em dois dias por ano e o chafariz do Tebas ainda não tem previsão de quando e se volta definitivamente para o cenário urbano do Largo da Concórdia, na Sé.
Confira a entrevista abaixo:
Guia Negro: Está se discutindo a importância de estátuas negras na cidade. Teremos novas, como Carolina Maria de Jesus, e outras pessoas negras que são referência homenageadas em estátuas?
Hugo Possolo: Sim. Na verdade, já tiveram. Os 12 CEUs (Centro Educacional Unificado) que foram inaugurados esse ano tiveram o nome de personalidades negras…
GN: É pouco…E a gente não quer apenas nome de CEU, queremos estátua no centro da cidade. E não queremos estátua no centro da cidade desse tamanho (referindo-se a Tebas), queremos estátua no centro da cidade do tamanho da do (Padre José de) Anchieta.
HP: deixa eu completar. Acho que isso é um passo inicial. Você me cortou e eu estou construindo um pensamento. Respeite. O meu discurso foi: estou abrindo caminho. O protagonismo é seu. Eu respeito e reconheço. Exatamente isso. Você colocar 13 CEUS, você começar com um monumento, direcionar a programação como a Jornada (do Patrimônio) com esse olhar, com comitê com comissão de pessoas pretas significa que você está com essa perspectiva. Minha perspectiva como secretário de política e gestor é abrir esse caminho, não tem outro sentido.
GN: E quando a gente pode esperar mais estátuas de pessoas negras?
HP: Eu acho que o futuro é esse…
GN: Mas o futuro é quando? A gente tá querendo prazos…
HP: Eu sou secretário até o fim desse mês. Eu não sei se eu posso determinar isso ou não. Isso está nas mãos do prefeito reeleito Bruno Covas (PSDB) e, ou eu vou seguir, ou ele vai colocar alguém no lugar dentro dessa perspectiva. Ele tem sinalizado, pra gente, uma preocupação de representatividade no governo como um todo. Não só em homenagem a ancestralidade, mas em respeito e reconhecimento a essa participação. Isso está sendo articulado. A minha perspectiva seja como militante ou gestor sempre será essa, de querer mais porque esse reconhecimento é necessário. Então, eu tô junto nisso. Como pessoa branca eu não vou dizer se tem que ser assim ou ser assado. Mas se eu tiver nesse lugar que estou de poder, eu sempre vou dizer: ‘eu tenho que abrir caminho para que as pessoas pretas façam, falem aquilo que elas acreditam no resgate contra o apagamento e a favor do reconhecimento’.
GN: E há alguma política de sinalizar melhor os lugares de cultura negra? Vocês fizeram umas placas da Jornada do Patrimônio que não trazem QR Code (para detalhar melhor as histórias) e são bastante discretas, não sinalizam como deveria lugares como o Pelourinho e o Largo da Banana. Tem algum projeto de fazer essa sinalização de forma mais efetiva para contar essa história?
HP: Cada vez maior. (Não responde o que foi perguntado e segue:) A gente conseguiu desapropriar o que vai ser o Memorial dos Aflitos, no lugar que era o cemitério de indígenas e escravos para realmente recuperar. O que a gente tem que fazer é tirar o apagamento no sentido do patrimônio histórico que estamos vivendo nessa Jornada (do Patrimônio). O chafariz (do Tebas) conseguimos fazer uma réplica tão boa que parece real. Para mostrar que é viável recuperá-la integralmente. A desapropriação dos Aflitos é para que tenha realmente esse reconhecimento. Precisa de homenagens em dimensões maiores como você falou. Estátuas maiores. Por uma São Paulo menos bandeirantes e mais modernista, com perspectiva de representatividade maior.FAÇA SUA CONTRIBUIÇÃO AQUI