SP terá 5 novas estátuas de pessoas negras; quem são e qual o tamanho delas?

São Paulo vai ganhar cinco novas estátuas de pessoas negras e uma votação por meio do site da Secretaria Municipal de Cultura decidiu quem serão as personalidades homenageadas. São elas: Lélia Gonzalez, Mãe Sylvia de Oxalá, Milton Santos, Elza Soares e Chaguinhas foram os nomes escolhidos. Agora, a questão que fica é se elas serão minúsculas como as últimas cinco instaladas em 2022 (Carolina Maria de Jesus, Madrinha Eunice, Geraldo Filmes, Itamar Assumpção, Adhemar Ferreira da Silva) pelo mesmo governo, que medem 1,67 metro ou serão grandiosas como o bandeirante escravocrata Borba Gato?

Hoje, a capital paulista tem 390 monumentos e só 12 fazem menção pessoas negras. De acordo com a administração municipal, o “objetivo é aumentar a representatividade de personalidades negras nas obras de arte em espaços públicos da capital paulista, além de valorizar a história e a cultura da população negra, destacando grandes personalidades que contribuíram significativamente para a cidade de São Paulo e o Brasil”.

As obras devem ser confeccionadas e instaladas ao longo de 2024. Os artistas que farão as esculturas e os locais onde serão colocadas ainda serão definidos. O valor do projeto não foi divulgado.

Também faziam parte da votação nomes como a atriz Ruth de Souza; a líder sindical das empregadas domésticas Laudelina dos Campos Melo; a líder do Quilombo de Palmares Dandara; a líder quilombola Tereza de Benguela; a médica Iracema de Almeida; os engenheiros Antônio e André Rebouças, conhecidos Irmãos Rebouças; o intelectual, e o ativista e político Abdias do Nascimento.

Veja mais sobre as personalidades que ganharão estátuas:

1 – MÃE SYLVIA DE OXALÁ

Paulista nascida em 1938, no bairro da Liberdade. Foi Ialorixá do Axé Ilê Obá e substituiu o Pai Caio de Xangô na importante tarefa de preservar e ensinar o modo de vida, a valorização e desestigmatização da religião da orixalidade – o Candomblé. Reconhecido como 1º espaço de Candomblé tombado pelo Condephaat como patrimônio Histórico e Cultural (CONDEPHAAT), o terreiro Axé Ilê Obá esteve sob o comando de Mãe Sylvia de Oxalá de 1986 a 2014. Durante esses 32 anos, ressaltou o valor da sociabilidade de terreiro e a identidade negra na cidade de São Paulo através da religiosidade. Fundadora do “Acervo da Memória e do Viver Afro Brasileiro Caio Egydio de Souza Aranha”, com o objetivo de preservar e divulgar a cultura afrobrasileira, respeitando suas características ligadas à oralidade, o respeito à ancestralidade e a comunidade. Com seu trabalho, ganhou diversos prêmios humanitários e ligados à cultura e preservação, como Prêmio Luiza Mahin 2012 – Câmara Municipal de São Paulo, Prêmio Niños de la Calle, em Madrid e Prêmio Humanista, da Universidade de Ciências de Moscou, entre outros.

2. ELZA SOARES

Elza Gomes da Conceição nasceu em Moça Bonita, hoje conhecida como Vila Vintém, em 1930. Filha de uma lavadeira e de um operário, ela foi obrigada a se casar aos 12 anos, virou mãe aos 13 e já era viúva aos 21. Depois do programa “Calouros em desfile”, Elza começou a procurar lugares para cantar. Em 1959, lançou o primeiro single “Se Acaso Você Chegasse”. Mesmo fazendo sucesso na rádio, Elza Soares foi condenada pela imprensa e pela sociedade ao se relacionar com Mané Garrincha quando ele ainda era casado, em 1962. Nos anos 70, a cantora foi perseguida pela ditadura militar e teve a casa em que morava com Garrincha metralhada. Em 2002, gravou o álbum “Do Cóccix até o Pescoço”, com produção de Alê Siqueira, sob a direção de José Miguel Wisnik. A música “A Carne”, de Marcelo Yuka, Seu Jorge e Wilson Cappallette, se tornou símbolo contra o racismo. O disco foi indicado ao Grammy Latino em 2003, como melhor álbum de MPB.

3. LÉLIA GONZALEZ

Foto: Cezar Loureiro

Lélia de Almeida nasceu em 1935, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi posteriormente renomeada como Lélia Gonzalez, em vista de seu casamento com o espanhol Luiz Carlos González, em 1960. Mulher Negra, ficou marcada na história em vista de sua atuação como filósofa, antropóloga, escritora, intelectual, professora e militante do movimento negro e feminista.

No decorrer de sua juventude Lélia trabalhou como empregada doméstica e babá, e apesar dos impeditivos, em 1954 finalizou seus estudos do Ensino Médio no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Graduou-se em História e Geografia, em 1958, e quatro anos após, tornou-se bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual da Guanabara. Lecionou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Gama Filho, atual UERJ. Lélia teve especial participação na fundação do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em São Paulo, 1978. Neste sentido, foi pioneira em questionar o feminismo hegemônico, cujo nega e/ou negligência as especificidades de ser mulher negra no Brasil. No mais, Lélia reivindicava a necessidade de resistência ao neocolonialismo, por meio de ações interdisciplinares que discutem o racismo, colonialismo e imperialismo, e sobretudo seus impactos no hemisfério Sul. Lélia Gonzalez faleceu em 1994 em decorrência de problemas cardiovasculares.

4 – Chaguinhas

Francisco José das Chagas, mais conhecido como Chaguinhas, nasceu em São Paulo. Ele desempenhou um papel de liderança notável como cabo negro no primeiro Batalhão dos Caçadores de São Paulo durante uma revolta que buscava salários justos e igualdade de pagamento entre militares brasileiros e portugueses. A Revolta Nativista foi reprimida com força pelas autoridades, resultando na condenação à forca de seus líderes, Chaguinhas e José Joaquim Cotindiba. No dia programado para a execução, em 20 de setembro de 1821, ocorreu um incidente notável no qual a corda na Praça da Liberdade rompeu-se três vezes, gerando um apelo por absolvição que foi negado.

Chaguinhas enfrentou uma morte brutal a pauladas, mas seu nome permaneceria vivo na memória coletiva. Ele foi sepultado no Cemitério dos Aflitos, e na Capela dos Aflitos, devotos buscam milagres, escrevendo seus pedidos em papéis e batendo três vezes em uma porta de madeira, em alusão aos três rompimentos da corda naquele dia fatídico. Embora a Igreja Católica nunca o tenha oficialmente reconhecido como santo, ele se tornou uma figura popularmente venerada e referência na história da população negra em São Paulo. Sua importância é ressaltada pela União dos Amigos da Capela dos Aflitos (UNAMCA) e outros movimentos negros que lutam pelo seu reconhecimento.

5 – Milton Santos

Milton Santos foi um geógrafo brasileiro considerado por muitos o maior pensador da história da Geografia no Brasil e um dos maiores do mundo. Destacou-se por escrever e abordar sobre temas como a epistemologia da Geografia, o espaço urbano, urbanização, a globalização, entre outros. Nascido em Brotas de Macaúbas em 1926. Graduado em Direito, Milton destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Foi o único latino-americano a ganhar o prêmio Vautrin Lud, em 1994, de maior prestígio na área da geografia e considerado o “Nobel da geografia”. Em 1963, foi nomeado presidente da Comissão de Planejamento Econômico (CPE), cargo que deixou em 1964.

Na mesma época, Milton Santos discutiu temas de política econômica e planejamento regional, a partir de uma perspectiva científica, envolvendo ainda seu trabalho no Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais. “Por uma Outra Globalização” (do pensamento único à consciência universal), foi sua obra mais conhecida. O livro é referência até hoje em cursos de graduação e pós-graduação nas universidades brasileiras e aborda de forma crítica o processo de globalização capitalista em relação a criação de totalitarismos sistemáticos nos governos ao redor do mundo.

LEIA MAIS:

Compartilhe:
Avatar photo
Redação

O Guia Negro faz produção independente sobre viagens, cultura negra, afroturismo e black business

Artigos: 695

Um comentário

  1. Apesar das cinco estátuas inauguradas, homenageando negros e negras, serem minúsculas e sem pedestal, como é, particularmente, a de Itamar Assumpção, em frente ao Centro Cultural da Penha, que deve ter se baseado numa fotografia de Itamar menino, não podemos nos queixar, pois há um gigantesco monumento com negros , num local de destaque: o Monumento às Bandeiras, como os Bandeirantes a cavalo e os escravizados a pé, empurrando a enorme canoa… ele querem sempre nos lembrar qual é o eterno papel que almejam nos impor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *