Tia Cida, 107 anos, viajou o Brasil desde 1972 organizando excursões e é rainha do afroturismo

Guilherme Soares Dias

Nas tradições africanas, os mais velhos são reconhecidos pela sua importância e contribuição. Nas religiões de matriz africana, é preciso pedir licença a quem veio antes para falar. Esse site, então, pede humildemente a benção à Tia Cida, que tem 107 anos, “passeia” desde 1965 e desde 1972 roda o Brasil em excursões que organiza. Até março de 2020, ela ainda estava na estrada. Só a pandemia a segurou em casa, mas não a impediu de receber o título de rainha do afroturismo e ser homenageada na I conferência virtual do setor, que ocorreu no último 19 de outubro de 2020.

Para Solange Barbosa, fundadora da Rota da Liberdade, que ajudou a organizar o evento, Aparecida de Oliveira Santos, a Tia Cida construiu uma estrada que hoje todos que vieram depois trilham. “Nossa trajetória na vida é uma maratona, com troca de bastão, desde o primeiro africano que embarcou no navio e foi nos passando o bastão. Tia Cida é uma das pessoas mais importantes desse processo, profissional do turismo que é uma lição de vida”, afirmou no evento online. Solange disse ainda que uma forma de homenageá-la é o comprometimento com o que se faz de cada um dos atores atuais que trabalham com afroturismo.

Tia Cida mora no Tatuapé, na região leste de São Paulo, e apareceu na live sorridente, vestindo colar, blusa verde brilhante, chapéu rosa e com emoção no rosto. Contou histórias e sorriu encantando quem tentava de longe aprender com seus passos. A neta, Eliane, uma das que cuida da avó, contou que ela é uma fortaleza. A mãe de Eliane cuidou de Tia Cida nos últimos anos, mas faleceu em 2012 e passou o bastão para ela. “Minha avó é uma otimista, sempre trabalhou e já recebeu algumas homenagens no setor do turismo”, conta.

A rainha do afroturismo já encheu 30 ônibus de excursão e diz que o segredo é o trabalho. Ela comemorou os 100 anos em uma viagem que organizou para Poços de Caldas (MG) em 2013, onde recebeu abraços dos netos que chegaram de surpresa na festa. Ela viajou por quase todo o Brasil, organizando excursões para a Bahia, Minas, região Sul… Só faltou conhecer a região Norte, já que nas viagens que vendia de avião e de navio, preferia não ir por medo desses dois veículos.

Ela conta que começou “passeando”. Foi conhecer o Rio de Janeiro e se tornou vendedora da agência e depois líder das excursões. Nos últimos anos organizava viagens para pessoas da melhor idade. Tia Cida diz que gosta de todos os tipos de viagens. “Todas me agradam, me fazem bem”, afirma, sorrindo. A neta divide que o negócio dela é “pé na estrada”. E ela complementa: “O importante é passear acompanhando o povo que gosta”.

Como toda rainha, Tia Cida orienta como quer que as coisas saiam e diz ser muito querida pelos grupos que já viajaram com ela. A live foi acompanhada de filhos e netos e a emoção exalava no vídeo, que teve ainda depoimentos de amigos e familiares. Ela recebeu de presente uma almofada e um quadro com certificado de honra ao mérito por todos os serviços prestados.

Natural de Itapira (SP), Cida faz parte da comunidade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que fica do Largo do Paissandu, no centro de São Paulo desde 1965. No fim do evento, ela disse: “que deus abençoe. Muitas glórias e saúde à todo mundo. Vamos marcar data para almoçar comigo”.

Nós do Guia Negro queremos agradecer pela sua trajetória, pela benção e desejar que esse almoço possa ocorrer em breve!

Assista aqui ao evento organizado pela Conectando Territórios, Diaspora Black e Rota da Liberdade:

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