Por Lu Paulino
Em dezembro de 2015, estava planejando uma viagem de férias épica. Era o final de um ciclo de trabalho no Rio de Janeiro que durou um ano, e a paulistana que habitava em mim já tinha ido embora e dado a espaço a uma garota solar, com um armário cheio de biquínis que estavam sedentos por conhecer outros mares. Um fato era certo: queria gastar os 45 dias que tinha de férias explorando belas praias.
Maldivas? Grécia? Hawai? Não, obrigada. O que fez meus olhos brilharem foi uma ilha maravigold no Sul da Itália chamada Ponza. Eu simplesmente enlouqueci quando vi as fotos da Rihanna e sua crew de amigas boiando plenas no mar Mediterrâneo. E não era só a Riri que tinha descoberto o reduto secreto de férias dos imperadores romanos, mas Beyoncé e Jay Z também circulavam pela costa da ilha a bordo de um iate milionário.
Ter Rihanna e Beyoncé como inspiração para uma viagem vai muito além da minha admiração por essas mulheres enquanto estrelas pop. O significado da representatividade e a possibilidade de colocar o meu corpo negro em lugares em que supostamente disseram que eu não poderia estar era o que me movia a organizar essa viagem para o Sul da Itália.
A aventura para uma mulher negra turista já começa no embarque internacional. Não é raro os olhares curiosos de pessoas brancas nesses espaços. Ser confundida com uma turista americana e pessoas destilando comentários racistas travestidos de amenidades é algo super usual.
Ultrapassando o Atlântico e as barreiras do racismo estrutural, cheguei em Roma e tive dias incríveis. Visitei todos os clássicos turísticos, como o Coliseu, Fontana di Trévi e o Vaticano. Os termômetros marcavam 38 ºC graus, o que atualizou a minha definição de calor intenso.
Depois de 7 dias saltitando e jogando o meu corpinho negro pela bela Roma, iniciei a minha descida rumo ao paradisíaco Sul da Itália. Foram dias incríveis na fervorosa Nápoles, caminhadas memoráveis por Pompéia, até que peguei um Ferry Boat em Positano em direção a Ponza, e o sonho do verão no Mediterrâneo se concretizou.
A chegada na ilha principal é algo realmente impressionante, as águas azuis fluorescentes, as casinhas coloridas na costa, já dão o tom do passeio. O lugar é chiquérrimo, mas eu não tinha grana nem interesse em explorar as boutiques da ilha e os bares badalados. Eu queria mesmo era nadar nas piscinas naturais em que os imperadores romanos passaram suas férias, explorar a ilha de scooter e tomar meu prosecco enquanto via o pôr do sol, no melhor estilo Luiza Marilac.
Ponza e as pequenas ilhas que orbitam esse paraíso, são um labirinto de grutas marinhas laranja-púrpura, granito branco e cavernas belíssimas, onde até hoje mergulhadores procuram tesouros escondidos. As cavernas de Ponza são tão mágicas, que lá descobri que o local foi a inspiração de Homero para compor um dos cenários de “A Odisséia”. Ou seja, eu me senti a feiticeira Circe, enquanto paquera os boys entre um mergulho e outro.
Muitas pessoas negras já relataram casos de racismo explicito na Itália. Eu posso afirmar que não fui nitidamente maltratada, mas também não fui recebida com os braços abertos. Algo definitivamente soava diferente. A sensação que eu tinha é que as pessoas olhavam pra mim e se perguntavam o que eu estava fazendo ali. Depois de um breve momento de reflexão, eu decidi que a única maneira de desfrutar minha viagem seria ignorar o julgamento alheio e curtir o que foi uma das maiores aventuras da minha vida de turista.