Livro Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô será lançado no Muncab, em Salvador

Com venda exclusiva pela livraria Katuka Africanidades, o novo livro da jornalista e cientista da religião, Claudia Alexandre com o título Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô celebra as resistências das primeiras mulheres de terreiros ao abordar sobre masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés e das transformações do culto ao poderoso orixá Exu na diáspora negra. 

O livro será lançado na próxima quarta-feira, 31de janeiro, às 18h30, no Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador. O evento, que tem promoção da livraria Katuka, terá uma roda de conversa com participação da prefaciadora, a socióloga Nubia Regina Moreira, coordenadora do grupo de pesquisa Ojú Obìnrín Observatório de Mulheres Negras e professora da UESB (Universidade do Sudoeste da Bahia).

Haverá sessão de autógrafos e venda de livro no local (R$ 80 por exemplar). O Muncab está localizado à Rua das Vassouras, 25 – Centro Histórico. Entrada gratuita.

MAIS SOBRE O LIVRO:

Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô debate sobre masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés (Editora Aruanda/Fundamentos de Axé, 2023), apresenta um debate inédito no campo dos estudos sobre as tradições e religiosidades afro-brasileiras em relação ao que foi escrito até aqui sobre o controverso orixá Exu.

Ao mesmo tempo que questiona sobre representações femininas de Exu que não foram inseridas na definição do corpo das tradições yorubá-nagô dos primeiros candomblés na Bahia. A obra insere registros e informações sobre as experiências e protagonismo de mulheres negras – africanas, escravizadas, alforriadas, libertas, que resistiram as opressões patriarcais para manter suas práticas ancestrais.

Com um detalhado levantamento, o livro destaca alterações na relação com o orixá Exu, que na iorubalândia (Nigéria, Benin, Togo…) é representado por figuras em pares – macho e fêmea, que não se popularizaram no Brasil. O prefácio é assinado pela professora, escritora e ativista Dra. Núbia Regina Moreira, pois o livro é baseado na tese de doutorado da autora, defendida em novembro de 2021, eleita a Melhor Tese do Ano, pelo Programa de Ciência da Religião da PUC-SP.

Claudia Alexandre também possui uma vasta produção sobre sambas e escolas de samba de São Paulo e é autora do livro-dissertação “Orixás no Terreiro Sagrado do Samba: Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai”, também pela Editora Aruanda/Fundamentos de Axé. Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô Ao abordar sobre demonização o livro aponta o racismo religioso como uma das opressões sociais que atravessa a ambiguidade do orixá Exu, principalmente quando reivindica o lado feminino do orixá. Algo pouco explorado na literatura sobre a formação dos candomblés de tradição yorubá-nagô, que cultuam Exu-Legba-Legbara-Elegbara.

IORUBALÂNDIA

Na cosmogonia iorubá, Olodumaré, o Deus supremo, o teria constituído com os princípios masculino e feminino, dando-lhe controle sobre eles, um poder que não foi concedido a nenhuma outra divindade. Exu seria o dono do movimento, que mantém o equilíbrio vital e distribui em partes iguais o essencial aos seres viventes, para que haja fertilidade e vida constante dos seus cultuadores.

A autora destaca registros desde o século 18 de alguns grupos, na região da iorubalândia, que já realizavam cerimônias onde figuras de Exu – masculina e feminina – evidenciam as diferenças anatômicas do par: ele com seu falo desproporcional, apito e gorro; e ela com seios e vulva demarcados e à mostra, enfeitada com joias e, às vezes, acompanhada de outra figura que remete a uma criança.

As imagens apresentam penteados alongados, uma marca da identidade do orixá. Em alguns lugares como Egbado, Igbomina, Ibraba, Olobo e Oshogbo, existem cultos familiares, onde o orixá está associado não apenas à fertilidade e sexualidade, como à fecundidade e à maternidade.

Durante a pesquisa a autora percorreu os três terreiros fundantes, em Salvador, na Bahia, que ainda mantém o sistema matriarcal: Casa Branca do Engenho Velho, Ilê Opó Afonjá e Terreiro do Gantois. O resultado foi a constatação de que, apesar da liderança das mulheres, houve tensões na relação com o orixá Exu, o que exigiu dissimulações e negociações por parte das poderosas iyalorixás, em relação à dominação da Igreja Católica.

A masculinização e a demonização foram as principais transformações que Exu sofreu na travessia atlântica. Ao analisar a definição do papel da mulher como autoridade máxima nos terreiros de candomblé, bem como o trato com Exu e sua masculinidade demonizada, principalmente entre os séculos 19-20, a autora destaca uma série de aproximações e rejeições dentro da própria comunidade de axé. “Sabe-se que no início havia resistência, por parte de antigas lideranças, em iniciar “filhos” e “filhas” deste orixá, ocorrendo muitos casos de troca pelo orixá Ogum, o grande guerreiro dos metais.

As justificativas para tal barganha acabavam por reforçar o imaginário demoníaco imposto à divindade. Esses constrangimentos e tensões podem ter levado ao ocultamento e o silenciamento sobre qualquer assunto referente a existência do feminino de Exu, mas acima de tudo atestam outras consequências das opressões da sociedade hegemônica contra práticas negro-africanas no período escravista”, disse Claudia.

No livro estão disponíveis imagens e representações de figuras femininas de Exu, evidenciando que a diáspora negra ainda mantém muitos fragmentos de violências que alteraram a relação do povo negro com sistemas de crenças ainda presentes na cosmologia africana.

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Redação

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