Filme “Malês”, dirigido por Antonio Pitanga, estreia no Recôncavo Baiano

Após rodar pelo Brasil em mostras de cinema, o filme “Malês”, dirigido e estrelado por Antonio Pitanga, foi exibido em Cachoeira, no Recôncavo Baiano. A exibição lotou o Cine Theatro Cachoeira durante a programação da primeira edição do Recôncavo Afro Festival, um evento dedicado a difundir as produções de artistas negros e negras da Bahia, em uma série de atividades gratuitas espalhadas por importantes espaços culturais do Recôncavo.  O festival é idealizado pela Odé Produções e Ayabá Produtora Criativa e Audiovisual.

“Malês” é um longa-metragem que chega nos cinemas neste mês de novembro, em sincronia com o novembro negro. O filme, que tem cenas gravadas em Cachoeira (BA) e Salvador, relata a história da Revolta dos Malês, um dos episódios mais marcantes da história da resistência negra do Brasil. 

Na Bahia, em 1835, os Malês – como eram chamados os negros de fé mulçumana – protagonizaram o principal levante contra o regime escravocrata do país, que contou com cerca de 600 escravizados. 

Apesar das dezenas de negros mortos e centenas de presos, a revolta contraria os livros de história ou demais produções cinematográficas que inferiorizam os processos de estratégia, união e resistência armada da população negra escravizada. Na contramão da imagem historicamente retratada de um povo que não soube ou não tinha interesse em se articular, o levante simboliza a insurgência negra da época da colonização.

Em um ano no qual o tema da redação do ENEM foi os “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, Antonio Pitanga também tem interesse em fazer com que esse filme vá além dos espaços de cinema, chegando à escolas e quilombos.

“Esse filme não é coisa de preto, é a história do Brasil. A história que a história não conta. O nosso país só é o que é por causa da contribuição negra na música, na dança, na culinária, na alegria. A cultura negra é o que mantém o país de pé”, reflete Antônio Pitanga durante a exibição.

Além do cineasta, o evento contou com a presença do ator Rocco Pitanga, e da atriz Samira Carvalho, que interpretam o casal protagonista de Malês. No filme, Samira dá vida à Abayomé, personagem que representa a força da liderança feminina no levante. Nomes como Camila Pitanga e Patrícia Pillar também integram o elenco. 

Antonio Pitanga, Rocco Pitanga e Samira Carvalho na estreia do filme “Malês” em Cachoeira. Foto: Diêgo Silva

O afroturismo no Recôncavo

A insurreição dos Malês mobilizou a população negra, escravizada e liberta pelas ruas da Bahia. Como a maior concentração de negros escravizados do estado estava no Recôncavo Baiano, a participação dessa região no levante foi considerada fundamental na época.

Por isso, além de Salvador, a região do Recôncavo Baiano é um roteiro especial para o afroturismo na Bahia e precisa estar no radar de iniciativas e eventos culturais, como o Recôncavo Afro Festival. Seus casarões antigos e ruas de paralelepípedo assistiram em primeira pessoa os processos de resistência do povo negro escravizado do estado. 

Apesar da preservação arquitetônica colonial, que remete a esse passado de escravização, o passeio pelas ruas de Cachoeira é agradável e acolhedor, tendo como auge, a contemplação de um pôr-do-sol no Rio Rio Paraguaçu. Por sorte, é possível encontrar uma revoada de pássaros, que completam a paisagem. 

Margens do Rio Paraguaçu. Foto: Beatriz Mazzei

Esse passado colonial, das ruas escuras por onde passavam os insurgentes malês, hoje dá espaço à valorização da cultura negra em diversos âmbitos. Na gastronomia, encontra-se acarajé, feijoada e a famosa maniçoba do recôncavo (prato feito com folhas de maniva triturada e carnes).

Na musicalidade, o Recôncavo Baiano é o berço do samba no Brasil, sendo a região na qual nasce o samba de roda, estilo musical que se difunde nas demais vertentes de samba do país. Em Cachoeira, é possível visitar a Casa de Samba da Dona Dalva, uma matriarca, ativista cultural e integrante da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte. 

É por essas e outras razões que visitar Cachoeira é passear pela história negra do Brasil e se encantar com que emerge da ancestralidade.

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Beatriz Mazzei

É jornalista com atuação em Diversidade, Cultura e Impacto Social. Atualmente é repórter freelancer do Núcleo de Diversidade do UOL, com textos publicados em Ecoa, Splash, Universa, TAB e Notícias. Também colabora para o Alma Preta Jornalismo, e tem passagem pela redação da Marie Claire, onde cobriu entretenimento, questões de gênero e violência contra a mulher.

Artigos: 2

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